Alunos da Universidade Federal do Paraná resgatam autores e lançam novos escritores 

Projeto Laboratório de Editoração mostra o funcionamento do mercado editorial e também como é o trabalho dos editores na prática

A Semana de Letras da Universidade Federal do Paraná (UFPR) é um momento aguardado pelos estudantes de letras, a programação tem sempre palestras e bate-papos com profissionais de diferentes áreas, além de minicursos e comunicações realizadas pelos alunos. Além disso, neste ano o evento viria com um diferencial: um Laboratório de Editoração. Com o mote “Ideias para adiar o fim das letras”, a 26ª edição do evento daria a possibilidade aos alunos de letras e outros cursos de aprender como funciona o mercado editorial e também viver o trabalho de editoração de uma obra. 

A ideia surgiu no fim do ano passado a partir do encontro da comissão organizadora da Semana com Thiago Tizzot, editor da Arte & Letra. “A gente foi conversar com o Thiago para ver se ele tinha alguma sugestão de pessoas que poderiam vir para o evento. Mas aí ele veio com essa ideia “maluca” de laboratório, onde os alunos participariam de uma maratona de editoração para produzir em um mês, de forma autônoma, um livro do zero, tal como acontece no mercado de editoração”, explica Caroline Fukuda, aluna que junto a Ana Karoline, João Vitor Nunes e Mariana Martins, participa da organização do laboratório. 

A empolgação quase foi freada pela greve dos professores das universidades federais, que suspendeu o evento marcado para o mês de maio. Contudo, isso deu mais fôlego à empreitada de “adiar o fim das letras”. 

“A ideia inicial era que as equipes apresentassem e vendessem os livros em uma conferência que aconteceria no quarto dia da Semana de Letras. Mas com o adiamento, a gente acabou mudando o nosso cronograma. Além disso, nosso objetivo inicial era realizar o laboratório com originais submetidos em um edital, mas como recebemos menos do que o esperado, demos às equipes a liberdade de decidir se iriam usar os originais ou se iriam editar outros textos que estavam em domínio público ou de outros autores”, explica Ana Karoline. 

Ao todo, foram formadas sete equipes com alunos de cursos variados. Segundo ela, ainda que o público do laboratório seja os alunos de letras, a participação de estudantes de áreas como jornalismo e design, enriqueceu o projeto, montadas as equipes, os integrantes pensaram em todas as etapas da elaboração de um livro.

Ao longo do processo, as equipes tiveram encontros com Thiazo Tizzot, da Arte & Letra, e também com Bárbara Tanaka e Guilherme Conde, da editora e livraria Telaranha. A editora Fabiana Faversani e o jornalista Hiago Rizzi também compartilharam suas experiências com os alunos durante as mentorias.

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Diferentes propostas

Um dos destaques do laboratório de editoração foi a possibilidade de entrar em contato com o mercado de trabalho. “A iniciativa do projeto logo nos chamou a atenção, já que o curso de letras foca majoritariamente na docência, deixando o mercado editorial de lado”, conta Lucas Henrique Basilio, que lança seu primeiro livro poesias, “Suíte Barroca”, pela AlgoLírica Edições. Outra editora entre as participantes, a Confluências, também escolheu trabalhar com um texto inédito, o livro “Ao vivo e à cor violeta”, da escritora Letícia Fonceca.

Já a editora Letterabesque decidiu trabalhar com tradução e prepara o lançamento de uma edição bilíngue do livro de contos “Histórias Alegres, do italiano Carlo Collodi, o autor de Pinóquio. “Chegamos nesse livro depois de pesquisar autores italianos que ainda não tinham sido publicados em português, ou cujas obras existem de forma escassa no Brasil”, explica Isabela Santos, integrante da equipe da editora. 

A diversidade de temas e gêneros literários foi um dos resultados do Laboratório de Editoração. Isso se vê nas obras “Amoresda Editora Libellos, que trabalhou na tradução e compilação de epigramas greco-romanas que exploram a temática do amor, e também em “Cartas sobre a mesa: ecos do íntimo” da Âmago Edições, que reuniu e traduziu postais de pessoas comuns e também trechos de cartas de grandes nomes, como Frida Kahlo, Hilda Hilst, Julio Cortázar e Ana Cristina César. 

Também, algumas equipes trabalharam em resgatar obras brasileiras, trazendo à luz nomes que sofreram um apagamento histórico. Um desses casos é o da escritora carioca Júlia Lopes de Almeida que terá contos reeditados pela Editora Kaos no livro “Os Porcos e Outros Contos”. “Fazer com que os leitores de hoje tenham acesso a esses contos, ainda mais com uma edição ilustrada, é muito importante para a proposta de literatura que acreditamos”, conta Nuno José da Káos. 

Outro autor que voltará a ser impresso é Lino Guedes, precursor da poesia negra no Brasil. A obra em questão é “Estrela do Novo Rumo”, primeira antologia de Guedes e que ganhará uma nova edição pela Sardinha Editoras. Segundo Mitsuo Florentino, um dos responsáveis pela editora, “a obra nunca foi reeditada. Já se passaram mais de 70 anos desde a morte dele, e a nossa ideia é justamente trazer ele de volta ao debate e à circulação”. 

Para a impressão dos livros, as editoras promoveram uma pré-venda e fora “Amores”, lançado em junho, os outros títulos estão em reta final de preparação. As datas de lançamento serão divulgadas em breve.

Livros da 1ª edição do Laboratório de Editoração da UFPR

“Estrela do Novo Rumo” de Lino Guedes – Sardinha Editoras 

“Os Porcos e Outros Contos” de Júlia Lopes de Almeida – Editora Káos

“As travessuras de Collodi” de Carlo Collodi – Editora Letterabesque 

“Amores: Uma coleção de epigramas greco-romanas” – Editora Libellos 

“Suíte Barroca” de Lucas Henrique Basilio – AlgoLírica Edições 

“Cartas sobre a mesa: ecos do íntimo” –  Âmago Edições 

“Ao vivo e à cor violeta” de Letícia Fonceca – Editora Confluências

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