“Baobab”, filme de Bea Gerolin, é sobre apagamentos, ancestralidade e trocas

O curta-metragem em cartaz no Festival Internacional de Curitiba tem roteiro e direção assinados pela cineasta que "não sabia que estudar Cinema era uma possibilidade"

“Baobab”, filme em cartaz na Mostra Mirada Paranaense, “nasceu depois de uma conversa com um amigo branco”, diz a Bea Gerolin, “eu percebi a diferença das informações que temos sobre nosso passado.” O curta-metragem é o primeiro do gênero de ficção com roteiro e direção assinados pela cineasta que, entre outras coisas, organiza mostras e ações formativas para conteúdo audiovisual negro e se prepara para rodar seu primeiro longa, “Encantadora de Abelhas”. 

Em cartaz na Mostra Mirada Paranaense do 13º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, o filme tem sessões no dia 16 de junho, domingo, às 14h15, no Cinemark Mueller; e no dia 19 de junho, quarta-feira, às 18h30, no Cine Passeio Luz.

“Baobab” (Dir. Bea Gerolin | Brasil | 2024 | 10’) 

No curta-metragem, Zola não consegue completar sua árvore genealógica para uma tarefa escolar. Ao ouvir os sentimentos e dúvidas de Zola, sua avó, Cícera conta histórias de seus ancestrais e a neta compreende que suas raízes são mais profundas do que imagina. 

Bea Gerolin

A paulistana Bea Gerolin mora em Curitiba desde os 7 anos de idade. Estudou Cinema na Faculdade de Artes do Paraná (Unespar) e, hoje, trabalha como diretora de arte, além de responder pela direção artística do Festival de Cinema Negro Contemporâneo – Griot, produzido por sua empresa, a Cartografia Filmes. Na entrevista a seguir, ela conta porque “não sabia que estudar Cinema era uma possibilidade”, fala sobre seu filme, e ainda lista referências do cinema brasileiro contemporâneo fundamentais para seu trabalho.  

Qual a lembrança mais afetiva do cinema em sua vida?

Acho que foi na graduação, quando um professor mostrou um filme da cineasta Naomi Kawase. Era um documentário muito sensível, em que ela refletia sobre a relação com o pai. Naquele momento, eu senti como o cinema pode ser transformador para quem assiste, e também para quem faz. 

Quando e por que você decidiu ser cineasta?

Sempre tive uma inclinação para arte, mas não sabia que estudar Cinema era uma possibilidade pra mim, principalmente sendo uma pessoa preta, numa família que ninguém fez faculdade. Entendi que podia ir nessa direção através de movimentos sociais e formações voltadas para comunicação. Prestei vestibular na FAP e passei, desde então não parei mais. 

Como nasceu a ideia para o seu curta-metragem selecionado para a Mostra Mirada Paranaense? Em seu filme, o que deve ter chamado a atenção da curadoria do Olhar de Cinema?

A ideia nasceu depois de uma conversa com um amigo branco, sobre árvores genealógicas, quando eu percebi a diferença das informações que temos sobre nosso passado, nossa história. Então quis falar sobre esse apagamento, mas também sobre a possibilidade de fabular a partir das ferramentas de conexão que temos, como a ancestralidade e a troca com os mais velhos. 

“Baobab” é o seu primeiro trabalho no cinema?

É meu primeiro curta de ficção na função de roteiro e direção. Antes dele eu realizei um documentário chamado “Ferradura”, que também dirigi. 

Quais são suas principais referências no cinema? Essas influências podem ser reconhecidas no curta-metragem em exibição no festival?

Eu gosto demais do trabalho da Filmes de Plástico. Gabriel Martins, André Novais, Maurílio Martins, os filmes deles foram minha maior inspiração para acreditar que eu poderia contar minhas próprias histórias, assim como o trabalho das cineastas Viviane Ferreira e Everlane Moraes, grandes referências do cinema brasileiro contemporâneo. As diretoras Rungano Nyoni, Alice Rohrwacher, Lucrecia Martel também são grandes referências, principalmente quando se trata de fabular a realidade. 

Além de “Baobab”, o que você indica para o público assistir no Olhar de Cinema? 

Eu sou suspeita pra fazer indicações, porque eu assisto o máximo possível. Sou sempre surpreendida pela curadoria e esse ano, assim como no ano passado, vou focar nos longas-metragens da competitiva nacional e internacional. Mas meu conselho é: vejam filmes, vale a pena demais. 

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13º Olhar de Cinema – De 12 a 20 de junho

A 13ª edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba exibe produções para as crianças, estreias nacionais e internacionais, obras de cineastas paranaenses e filmes clássicos, no Cine Passeio (R. Riachuelo, 410 – Centro); Cinemark Mueller (Av. Cândido de Abreu, 127, Centro) e no Teatro da Vila (R. Davi Xavier da Silva, 451, Cidade Industrial de Curitiba). A exibição especial de abertura é dia 12 de junho, na Ópera de Arame (R. João Gava, 920, bairro Abranches).

Os ingressos estão à venda no site oficial do evento com valores a partir de R$8 (meia-entrada). Todas as sessões no Teatro da Vila são gratuitas.

Os curtas-metragens brasileiros em exibição no festival também poderão ser assistidos gratuitamente, de 18 de junho a 7 de julho, na plataforma de streaming Itaú Cultural Play.

Programação completa e outras informações aqui, e também nas redes sociais oficiais do evento: Instagram @olhardecinema e Facebook.com.br/Olhardecinema. Verifique a classificação indicativa de cada filme e sessões com acessibilidade de audiodescrição.

A 13ª edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba é realizada por meio do programa de apoio e incentivo à cultura – Fundação Cultural de Curitiba e da Prefeitura Municipal de Curitiba, sendo também o projeto aprovado pela Secretaria de Estado da Cultura – Governo do Paraná, com recursos da Lei Paulo Gustavo, e pelo Ministério da Cultura – Governo Federal, com patrocínio do Itaú e Peróxidos do Brasil, apoio do Instituto de Oncologia do Paraná, Sanepar, Cimento Itambé, Favretto Mídia Exterior, e apoio cultural de Projeto Paradiso, Cine Passeio, Instituto Curitiba de Arte e Cultura. Verifique a classificação indicativa de cada filme e sessões com acessibilidade de audiodescrição. A produção é da Grafo Audiovisual.

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