Enéas Lour, ator que marcou o teatro curitibano, morre aos 68 anos

Na noite desta terça (18), os aplicativos de mensagem começaram a piscar com notificações. Atrizes, atores, diretores, cenógrafos, todo mundo que já trabalhou com teatro em Curitiba recebia a mesma notícia. Uma notícia que há pelo menos dois anos todos […]

Na noite desta terça (18), os aplicativos de mensagem começaram a piscar com notificações. Atrizes, atores, diretores, cenógrafos, todo mundo que já trabalhou com teatro em Curitiba recebia a mesma notícia. Uma notícia que há pelo menos dois anos todos eles temiam, torciam para que não chegasse, mas chegou: Enéas Lour estava morto.

Aos 69 anos, o ator foi vítima de um câncer que lhe impôs um longo período de tratamentos, de superações, de idas e voltas ao hospital. Enéas, que já tinha passado por um infarto antes disso, resistia de uma maneira linda. Não só suportava os incômodos terríveis da doença e dos remédios como ainda fazia questão de aparecer nas redes sociais sorridente, dando a impressão, com seu jeito de brincar com tudo, que aquilo tudo passaria.

Enéas foi assim mesmo, o seu maior personagem: criou para si uma história maior do que todas aquelas que escreveu em suas quase cinquenta peças. Viveu para o teatro, e o teatro retribuiu dando a ele tudo que era possível. Recebeu o maior prêmio do teatro local, o Gralha Azul, por uma interpretação genial em “Toda Nudez Será Castigada”, de Nelson Rodrigues, com direção de Edson Bueno. Era reconhecido por seus pares como um dos melhores da geração. Como dramaturgo, recebeu uma mostra ainda em vida no Guaíra, coisa para poucos.

Doente, permanecia com a esposa na casa em São Luiz do Purunã, um refúgio onde gostava de passar os dias escrevendo. Todo dia eu acordo e, tomando meu café, escrevo. Encaro como uma obrigação diária minha profissão. Algumas coisas eu coloco na rede social e outras eu guardo”, disse Lour em entrevista ao Guaíra. “Escrevo na minha casa em São Luiz do Purunã, que fica próxima da nascente do Rio Tamanduá, um lugar muito bonito, é uma delícia”, declarou.

Selfie enviada para amigos, para dizer que estava bem. Foto: Arquivo pessoal

A última peça que dirigiu foi sobre a Escarpa Devoniana, escrita em parceria com Joanita Ramos. “Dirigimos um elenco de quase trinta pessoas, entre profissionais e moradores de comunidades rurais de três municípios da Escarpa Devoniana. Ele andava comigo pra cima e pra baixo, buscando peças pra cenário em Cooperativa de Reciclagem, nas casas dos moradores das zonas rurais, em busca de arreios, pelegos e outras parafernálias ligadas à cultura tropeira, que ele achava tão interessante… Vez ou outra – raramente – não conseguia ficar até o final do ensaio por causa do mal estar da quimioterapia. Mas lutou como uma onça contra essa doença maldita”, conta Joanita.

Atualmente, apesar do estado fragilizado, preparava outro espetáculo, junto com Thadeu Perrone, intitulado “O Andarilho”. Quando pensei nesse projeto, e o Enéas aceitou o convite de participar para escrever e dirigir, fiquei muito animado. Estamos trabalhando há um ano e meio e esse convívio me despertou para fazer essa homenagem simples, mas muito válida. O Enéas é um ser humano guerreiro, um homem de teatro de talento enorme. Ele está sempre vibrando, intenso, e trazendo novidades. É um grande exemplo para nós artistas”, disse Peronne ao Guaíra

Até mesmo o casamento veio do teatro. A esposa, Fátima Ortiz, além de atriz é responsável por ensinar a arte do casal a gerações seguintes, com sua escola Pé no Palco. Teve dois filhos, Maíra e Gabriel, e a menina também seguiu para os palcos.

Na despedida, uma última ligação com sua paixão. A família recebeu autorização para que o velório fosse realizado no Teatro Guaíra. O sepultamento será ainda nesta tarde no Parque Iguaçu.

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