Stefano Lopes classifica “Nada Ficou no Lugar” como autoficção especulativa

Misturando realidade com ficção, e sem atores profissionais no elenco, o curta-metragem é uma homenagem ao cineasta mineiro André Novais

“‘Nada Ficou no Lugar’ é, à sua maneira, um filme de pandemia”, diz Stefano Lopes, que estreia como diretor e roteirista no curta-metragem. A ideia surgiu quando, sem condições de se manter em Curitiba, o cineasta precisou voltar para a casa dos pais. O retorno conturbado resultou numa produção que mistura ficção e realidade em um “não lugar”, tudo filmado com pessoas do círculo de amigos ou familiares de Stefano, que também está em cena. 

O curta-metragem faz suas primeiras sessões abertas ao público na Mostra Mirada Paranaense do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba. As sessões são no dia 16 de junho, domingo, às 14h15, no Cinemark Mueller; e no dia 19 de junho, quarta-feira, às 18h30, no Cine Passeio Luz.

“Nada Ficou no Lugar” (Dir. Stefano Lopes | Brasil | 2023 | 21’)

O filme, que tem o diretor como protagonista, seus irmãos como personagens e a sua própria vida como enredo, é uma espécie de lembrete sobre a materialidade dos sonhos ser uma pedra bruta quando transportada para a realidade. É a expressão da condição de um jovem cineasta que vê o futuro se esvair frente a um cenário em suspensão.

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Stefano Lopes

O diretor Stefano Lopes veio morar em Curitiba no ano de 2016. É bacharel em Cinema pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar), licenciado em Letras – Português pela Universidade Paulista (Unip) e especialista em Corpo e Palavra nas Artes da Cena e da Imagem, pela PUC-Rio. Hoje estuda Roteiro na Escuela Internacional de Cine y Televisión, em Cuba, e trabalha como assistente de direção e roteirista. Na entrevista a seguir, ele explica porque classifica o curta-metragem como autoficção especulativa, fala da importância de um filme brasileiro em sua vida e revela a forte influência do cinema mineiro contemporâneo em seu trabalho. Confira.

Qual a lembrança mais afetiva do cinema em sua vida?

Ainda na escola, por volta dos 14 anos, já no fim do ano e quase de férias, uma professora colocou o filme “Antes que o Mundo Acabe” (lançado em 2009, com direção de Ana Luíza Azevedo, que também assina o roteiro em parceria com Jorge Furtado), um longa-metragem adolescente de Porto Alegre-RS. Descobrir que, sim, se fazia cinema no Brasil moveu algo em mim. Foi talvez ali que nasceu o primeiro desejo.

Quando e por que você decidiu ser cineasta?

Eu sempre vi muito filme, desde criança. Lembro de um dia acordar num sábado de manhã, ligar a TV e me deparar com uma reportagem sobre cursos de cinema de animação no Brasil e exterior. Mais tarde, no ensino médio, tive uma aproximação com o teatro que me fez dar conta de que, na verdade, o que me interessava era contar histórias e trabalhar com gente. Nesse momento, decidi fazer cinema.

Como nasceu a ideia para o seu curta-metragem selecionado para a Mostra Mirada Paranaense? Em seu filme, o que deve ter chamado a atenção da curadoria do Olhar de Cinema?

“Nada Ficou no Lugar” é, à sua maneira, um filme de pandemia. Em 2020, recém-formado em Cinema, precisei regressar à casa dos meus pais porque, com o audiovisual paralisado e sem horizonte de trabalho, não tinha como me manter em Curitiba. O retorno, conturbado, me despertou criativamente para imaginar cenas que vivia com as pessoas da minha família ou, ainda, cenas que gostaria de viver com elas. Assim nasceu o roteiro do curta-metragem: uma autoficção especulativa. No fim das contas, a cidade para onde regressa o personagem Pablo, interpretado por mim, é uma mistura entre Curitiba e a cidade em que nasci, São José dos Campos, interior de São Paulo. 

Acho que a curadoria pode ter se interessado justamente por essa questão de pertencimento, de invenção de um lugar que não existe, seja no tempo ou geograficamente, além de um conflito familiar que não é dito, mas sentido o tempo todo. Há também a relação do cinema como trabalho, e a falta de esperança que os últimos anos geraram para cada pessoa que trabalha com cultura no país, que finalmente se está revertendo em esperança para um futuro possível e melhor. E ainda tem a mistura entre ficção e realidade, os personagens interpretados por pessoas reais, gente do meu convívio ou mesmo familiares. É como se estivéssemos filmando um filme caseiro em casa, essa era um pouco a sensação que buscamos com o filme. 

“Nada Ficou no Lugar” é o seu primeiro trabalho no cinema?

É meu primeiro filme como diretor e roteirista. Mas já trabalho há mais de cinco anos como assistente de direção em curtas, longas e séries, entre Curitiba e São Paulo.

Quais são suas principais referências no cinema? Essas influências podem ser reconhecidas no curta-metragem em exibição no festival?

Algo que sempre tenho como referência é o cinema mineiro contemporâneo. Nomes como André Novais e Affonso Uchôa são sempre luzes no escuro caminho de se fazer cinema. Toda a obra do André estava nas referências para o “Nada Ficou no Lugar”. E gosto de pensar que muitos dos momentos do filme acabam sendo homenagens ao cinema realizado por ele, principalmente ao curta “Pouco Mais de Um Mês” (2013), que me parece uma preciosidade do cinema brasileiro contemporâneo.

Além de “Nada Ficou no Lugar”, o que você indica para o público assistir no Olhar de Cinema? 

A Mirada Paranaense é sempre bonita de ver, reconhecer não só as pessoas como também os lugares que a gente vê na tela é um desses momentos mágicos que a experiência do cinema pode proporcionar. Eu sempre defendo os curtas e no festival sinto que a curadoria os vê e pensa como juntar um grupo muito especial de filmes com muito carinho, além do fato de que provavelmente é a única e última chance de ver muitos deles. Depois, dificilmente encontram espaço nos circuitos de cinema nacionais. Então, tem que aproveitar. Quero dizer: vejam os curtas, todos!

13º Olhar de Cinema – De 12 a 20 de junho

A 13ª edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba exibe produções para as crianças, estreias nacionais e internacionais, obras de cineastas paranaenses e filmes clássicos, no Cine Passeio (R. Riachuelo, 410 – Centro); Cinemark Mueller (Av. Cândido de Abreu, 127, Centro) e no Teatro da Vila (R. Davi Xavier da Silva, 451, Cidade Industrial de Curitiba). A exibição especial de abertura é dia 12 de junho, na Ópera de Arame (R. João Gava, 920, bairro Abranches).

Os ingressos estão à venda no site oficial do evento com valores a partir de R$8 (meia-entrada). Todas as sessões no Teatro da Vila são gratuitas.

Os curtas-metragens brasileiros em exibição no festival também poderão ser assistidos gratuitamente, de 18 de junho a 7 de julho, na plataforma de streaming Itaú Cultural Play.

Programação completa e outras informações aqui, e também nas redes sociais oficiais do evento: Instagram @olhardecinema e Facebook.com.br/Olhardecinema. Verifique a classificação indicativa de cada filme e sessões com acessibilidade de audiodescrição.

A 13ª edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba é realizada por meio do programa de apoio e incentivo à cultura – Fundação Cultural de Curitiba e da Prefeitura Municipal de Curitiba, sendo também o projeto aprovado pela Secretaria de Estado da Cultura – Governo do Paraná, com recursos da Lei Paulo Gustavo, e pelo Ministério da Cultura – Governo Federal, com patrocínio do Itaú e Peróxidos do Brasil, apoio do Instituto de Oncologia do Paraná, Sanepar, Cimento Itambé, Favretto Mídia Exterior, e apoio cultural de Projeto Paradiso, Cine Passeio, Instituto Curitiba de Arte e Cultura. Verifique a classificação indicativa de cada filme e sessões com acessibilidade de audiodescrição. A produção é da Grafo Audiovisual.

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