Muito ruim com plantas

Eu sou muito (MUITO) ruim com plantas.

– Nossa AB, isso significa que você é uma pessoa péssima!!!

Eu sei.

EU SEI, tá bom?!

Já me conformei com isso. Já me aceitei sendo uma pessoa péssima. Azar.

Me lembro de duas histórias da infância em que eu e as plantas tentamos construir uma bela amizade. Não deu.

Então resolvi contar essas histórias aqui porque acho que elas nos rendem uma boa lição de moral. E, também, porque eu gosto de expor a minha falta de noção, sempre que possível.

Uma certa vez, quando eu tinha uns 7 anos, meu pai chegou do mercado cheio de pacotinhos de sementes. Ele tinha preparado uma parte no fundo do quintal para fazer uma horta. Olha que saudável!

Eram sementes de alface, couve, tomate, chuchu, salsinha, cebolinha, e outras coisas que eu costumo chamar de comida de coelho.

Eu e o meu irmão achamos demais e pedimos pra ajudar a plantar. Meu pai disse, ok, depois vocês me ajudam. E foi tirar uma soneca.

E aqui está o primeiro erro dessa história.

Eu e meu irmão queríamos muito, mas muuuuuuito mesmo, plantar aquelas sementes. Então pensamos: por que não, né? É só colocar na terra, enterrar e molhar. Vamos sim, vai dar tudo certo, Deus está do nosso lado, quem acredita sempre alcança, força fé e foco, irmãos a obra rules e tuto põm.

Fomos pro quintal e começamos o plantio.

Só que assim… A gente foi espalhando as sementes na terra. Todas misturadas. Aliás, a gente realmente se preocupou em deixar a coisa toda homogênea. Tipo: acho que nesse canto tá faltando tomate, hein! Cuidado pra não colocar muita couve aí. Espalha mais o chuchu!

Era quase uma obra de arte dessas que a gente não entende porque é arte, mas também não tem dinheiro pra comprar.

Tudo misturado. Tudo espalhado. Tudo bagunçado.

O tempo passou e eu gostaria muito de contar pra vocês que da nossa horta nasceram couves da cor vermelho tomate, salsinha do tamanho de alface ou um chuchu mutante comedor cérebro. Mas não nasceu nada.

Nada.

Segunda parte.

Depois desse desastre meu pai (ou minha mãe) teve que voltar no mercado e comprar as sementes tudo de novo. Eu fui junto.

E aqui está um novo erro dessa história.

Olhando os pacotinhos de semente, eu vi que também tinham sementes de flor e aí eu fiquei louca da cabeça porque eu queria uma flor.

Então disse: por favor me deixa comprar uma florzinha pra plantar, uma assim bem linda e maravilhosa, bem cheirosa e colorida, bem linda de linda de muito linda igual eu.

Ok.

Escolhi uma roxa. Porque o amor é uma flor roxa que cresce no coração dos trouxas huahauahauaauuahauahuahauahauahauahau. Não.

Plantei e a flor roxa NASCEU!

Só que além de roxa, ela era fofa, inconveniente, obcecada, invasiva, dominadora, espalhafatosa e sem noção.

No final das contas eu consegui uma flor parecida comigo.

Porque eu também sou fofa. RISOS NERVOSOS.

O fato é que no primeiro mês ela nasceu onde eu plantei, em um cantinho da beiradinha do gramado. No outro mês ela já estava em toda a beirada do gramado. No outro, ela nascia no meio do gramado. Depois no quintal inteiro. Mais um pouco e ela ia crescer no meio da sala de estar.

Se você saísse brincar descalço e voltasse com terra debaixo da unha do dedão e demorasse pra tirar, ela nascia ali. Eu tenho certeza.

Aquela desgraçadinha se espalhou sozinha por todos os lugares. Ninguém mais aguentava a filadaputa. Nem eu.

Ela soltava uns fiapos que voavam por tudo e faziam meu nariz coçar. Lazarentinha demais!

Fim das histórias e começo das lições de morais, lição de morão, liçones de marones, enfim…

1- Às vezes a gente quer várias coisas, mas tudo ao mesmo tempo. Tudo agora e aqui. Nem que seja só um pouquinho de cada. Só que acaba sem nada. Porque nessa vida a gente precisa de foco. Foco e noção básica sobre plantio, mas principalmente foco. Sem foco nada nasce, nem um chuchu mutante comedor de cérebro, infelizmente.//

2- Por outro lado, não dá pra jogar todos os seus esforços em uma coisa só. Em um lado da sua vida só. Mesmo que essa coisa seja muito desejada (ou roxa). Porque isso pode crescer e tomar espaços da sua vida que nem pertenciam a ela. A gente precisa de equilíbrio. Equilíbrio e conhecimento de jardinagem, mas principalmente equilíbrio. Sem equilíbrio, até o que é bom acaba se tornando nocivo, sufocante, dominador, e crescendo debaixo da unha do seu dedão do pé, infelizmente.

Deu pra entender?

Nem POUCO de MUITO e nem MUITO de POUCO.

– Nossa AB, que belo exemplo de como não fazer as coisas. Agora poderia nos ajudar falando sobre como fazer as coisas?

Não posso.

Eu sou muito (MUITO) ruim com plantas.

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