A revista Carta Capital desta semana, de leitura altamente recomendável, já que é jornalismo de fato plural, traz um texto de duas páginas do próprio Mino Carta. Título: O problema é o Brasil. Breves trechos:
– O problema que nos aflige é próprio de um país que não alcançou a modernidade, como escreveu o professor Belluzzo na edição da Independência há cerca de um mês. Nosso problema é o país, cujo povo é abandonado ao seu destino de miséria e ignorância. São estas as condições em que o energúmeno demente é eleito para a Presidência da República. Enxergo o Brasil como uma obra inacabada, uma espécie de tela de Penélope feita de dia e desfeita adiante.
– Por outro lado, somos todos responsáveis pela eleição de Bolsonaro, beócio nestes dias ao afivelar malas destinadas a levar seu sorriso alvar, como diria Nelson Rodrigues, até o Buckingham Palace, para participar das exéquias da rainha morta. A impávida desfaçatez deste personagem mais único do que raro deve, obviamente, ser atribuída a uma abissal ausência de informação para abrir caminho às fakes news, pronunciadas com a expressão de Buster Keaton. Mas la nave va, enquanto o Brasil se habilita ao papel de hospício. E nos deparamos então com o descalabro de uma conjuntura forjada para enganar a todos, a começar pelos próprios golpistas. O golpe faz parte do jogo antidemocrático ao conferir poderes ditos moderadores quando a pretensa moderação toma o caminho oposto.
Para encerrar: a revista publica uma foto de Bolsonaro, ocupando mais de meia página; nela, ele faz um gesto de positivo (com ambas as mãos), todo sorridente. E temos, na legenda da foto: O sorriso alvar do beócio. Na edição anterior da revista, o mesmo Mino Carta, também em editorial, não deixou por menos – chamou Bolsonaro de “energúmeno demente”…