Quando um país vira algoz – algoz dele mesmo 

No poema A Pátria, Olavo Bilac não deixou por menos: “Não verás nenhum país como este!” Mas, infelizmente, sempre há o outro lado (dependendo) da moeda

Na edição desta semana, a Carta Capital traz na capa um mapa do Brasil acorrentado a uma bola de ferro – título: VÍTIMA DE SI MESMO. Como se sabe, mas muitos preferem ignorar, a tal corrente era usada para castigo ou evitar fuga de escravos. A matéria, em 4 páginas, com fotos históricas, é assinada por Mino Carta, um jornalista que dispensa apresentação: 

Como explicar a mudança? Doloroso confronto entre o passado promissor e o presente assustador

E, com destaque, temos uma foto do movimento Diretas Já, em 1984, na Praça da Sé, São Paulo, reunindo uma multidão; e, ao lado, uma foto (colorida) do quebra-quebra em Brasília promovido por hordas bolsonaristas.  

O mesmo povo que lotou a Praça da Sé em São Paulo entrega-se ao delírio barbárico 39 anos depois. Que aconteceu? 

– Ainda vivemos uma tardia Idade Média a manter de pé a casa-grande e senzala. Os analistas midiáticos, do alto de sua notória sabedoria, tendem a atribuir ao ex-capitão Bolsonaro, energúmeno demente, a origem de todos os males. E é inegável ter sido ele quem destampou a panela de pressão do ódio e da raiva. Foi eleito, porém, e no governo conseguiu dividir o País, de sorte a perder as últimas eleições contra Lula em busca de seu terceiro mandato, alcançando ao cabo uma vantagem milimétrica. Convém, de qualquer maneira, evitar enganos e quimeras.  

– Por ora, só nos resta constatar a situação de um país ainda distante da contemporaneidade do mundo civilizado e democrático. Fique claro, entretanto: o povo não é o responsável por seu próprio atraso e primarismo – o povo sempre foi abandonado ao seu destino inevitável de ignorância e miséria. Voltas e reviravoltas do destino ocorreram ao longo da rota fadada ao desencontro com o porto seguro. 

– Em uma sequência de erros, falhas, crenças e ameaças de golpe, até culminar com a eleição do ex-capitão (expulso do Exército) Jair Bolsonaro, a se beneficiar com a prisão de Lula em Curitiba. É um enredo soturno que chega ao terror com o governo de terra arrasada entregue a um energúmeno demente para desaguar nos turbulentos dias atuais. E aqui está o Brasil a carregar os problemas de sempre e a sonhar com a democracia impossível. 

PS meu: e, como sempre, teve gente que por aqui festejou a tal proclamação da República de Curitiba… 

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