Vereador pede carro oficial sem adesivo por “não ter como comprar” carro próprio

Pastor da Universal, Osias Moraes tem salário de R$ 19 mil e declarou Mitsubishi Outlander à Justiça Eleitoral. Vereadora diz que fala causou "vergonha alheia"

O vereador Osias Moraes (Republicanos) defendeu nesta segunda-feira (18) uma legislação que flexibiliza o uso de adesivos para identificação dos carros oficiais afirmando, entre outros argumentos, que não tem condições de comprar um veículo particular. Além de ser duramente criticado por manifestantes nas galerias, o vereador ouviu críticas dos próprios colegas de Câmara. A votação do projeto acabou adiada.

A retirada dos adesivos dos carros oficiais é um desejo antigo de parte dos vereadores, e chegou a ser aprovada em mandatos anteriores. Porém, durante a presidência do vereador Tico Kuzma (Pros), entre 2021 e 2022, a Mesa Diretora proibiu novamente o uso de carros sem identificação.

Osias Moraes, que chegou a ser candidato à Presidência no ano passado, usou o fim da identificação dos carros como plataforma. E quando acabou compondo com o atual presidente, Marcelo Fachinello (PSC), para ser eleito primeiro-secretário, insistiu na pauta. Depois de eleito, porém, para incômodo dos vereadores, Fachinello sentiu que haveria resistência popular e desistiu da proposta.

Agora, Osias, em parceria com o primeiro vice-presidente, Tito Zeglin (PDT), apresentou um amplo projeto de regulação do uso dos caros oficiais. E embora digam que a ideia não seja retirar a plotagem, existe no projeto um mecanismo que permite “exceções”. Os adesivos poderiam ser retirados em circunstâncias especiais, quando, por exemplo, os vereadores se sentirem ameaçados ou forem a bairros perigosos da cidade.

Na segunda-feira, o projeto entrou em pauta. Alguns vereadores disseram que acham pouco, e que o certo seria acabar de uma vez com a identificação dos carros. Ezequias Barros (PMB), por exemplo, diz que preferia carros não identificados e deu uma indireta para Fachinello, dizendo que assim como Tico Kuzma “caneteou” para tornar os adesivos obrigatórios, atual Presidência poderia fazer o mesmo para acabar com a identificação.

A partir daí, diversos vereadores passaram a relatar casos em que teriam sido ameaçados por causa do uso do carro oficial. A Sargento Tânia Guerreiro (União) afirmou que naquele mesmo dia chegou atrasada à Câmara porque um motorista – classificado por ela como “um jaguara que tem raiva de político” – atravessou o carro na frente do veículo oficial dela e a manteve presa no trânsito por vários minutos. “Queria ver se eu estivesse de viatura se ele faria isso.”

Osias Moraes contou uma história mais escatológica. Disse que um dia deixou o carro oficial na rua, perto da Câmara, e no outro dia encontrou um cocô (humano) sobre a capota. E quando a vereadora Amália Tortato (Novo) disse que essas ameaças só mostram a má fama dos políticos, e cobrou a publicidade dos atos dos vereadores,o clima esquentou, com cobranças das galerias.

Nesse ponto, Osias se irritou com os manifestantes, dizendo duvidar que eles fizessem a mesma cobrança na Assembleia Legislativa. “Aqui é fácil”, disse ele, visivelmente incomodado. Foi aí que o vereador disse que ele usa o carro oficial, entre outras razões, porque não teve ainda condições de comprar um carro próprio.

O comentário foi duramente criticado pela vereadora Professora Josete (PT). Ela disse que, quando assumiu no primeiro mandato, teve seu Uno roubado e usou o dinheiro para dar entrada na casa própria. Mas depois, com o salário da Câmara, comprou outro carro. E disse que um vereador, com o salário de R$19 mil, afirmar que não tem como comprar um carro é motivo de “vergonha alheia”.

Osias, que está no sétimo ano de mandato, é também pastor da Igreja Universal do Reino de Deus. Segundo a declaração de bens apresentada por ele à Justiça Eleitoral em 2020, ano da última eleição disputada por ele, afirmou ter uma Mitsubishi Outlander avaliada em R$ 72 mil.

O Plural já mostrou que Osias, na função de primeiro-secretário, usou carros sem identificação, mesmo isso estando proibido. O caso foi levado para avaliação do corregedor, o mesmo Ezequias Barros que nesta semana se mostrou totalmente favorável à retirada dos adesivos.

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