Ducci terá os chefes do PT a seu lado; a militância, nem pensar

Deputado jamais será perdoado por petistas por seu voto a favor do impeachment de Dilma

A aproximação de Luciano Ducci (PSB) com o petismo lembra o que aconteceu com Osmar Dias em 2010. Na época, o senador era conhecido muito mais como defensor do agro do que como possível amigo das causas sociais. Nem de longe era um progressista, mas quando viu a possibilidade de uma aliança que o levaria a governar o Paraná, não hesitou.

Num comício na Boca Maldita, ao lado de Lula, que terminava seu segundo mandato presidencial, Osmar pegou o microfone e, fingindo não estar envergonhado, soltou um “Companheiros e companheiras”. Sorrindo amarelo, disse que tinha levado alguns meses, ou anos, para aprender a dizer aquilo, aquelas três palavrinhas tão simples.

Luciano Ducci certamente teria a mesma dificuldade para chamar um trabalhador sem-terra ou um cutista de “companheiro”. Embora tenha tido posturas bastante progressistas em alguns temas no Congresso Nacional nos últimos tempos (principalmente o voto corajoso em defesa da cannabis medicial), o ex-prefeito é associado ainda, e talvez de maneira indelével, ao ex-governador Beto Richa (PSDB).

Verdade seja dita, Ducci nunca foi da cozinha de Beto. Foi chamado como vice porque tinha sido um excelente secretário de Saúde, com papel fundamental na criação do Mãe Curitibana (Greca tenta dizer que o programa é dele, mas é pura parolagem, não se sustenta.) Médico, com pose de bom moço, ficha limpa, era um bom nome para compor com Beto e lá ficou por um mandato e meio, até assumir de vez a prefeitura.

Agora, assim como Osmar, viu uma oportunidade abrindo a porta. O cavalo passou encilhado. Ele sabe que Gustavo Fruet (PDT) se elegeu prefeito em situação semelhante, com uma petista (a advogada Mírian Gonçalves) como vice. Fruet, como ele, nunca foi petista, embora a distância dele para a esquerda fosse muito menor.

Nesta segunda (27), ao ver confirmada a adesão do PT à sua candidatura, Ducci comemorou. É a chance dele de voltar à Prefeitura, afinal. Vendo a direita sobrecarregada de nomes mais ou menos fortes, decidiu que a pista da esquerda estava mais livre e correu para lá. Mas vai funcionar?

Ducci foi às redes sociais comemorar a adesão (já é alguma coisa ele não esconder o PT neste primeiro momento; haverá outras chances). E disse que agora é hora de mobilizar a militância. Mas aí, meu amigo, é que mora o busílis.

O PSB certamente vai levar o dinheiro e o tempo de tevê dos petistas. Mas a militância é outra história. A impressão é que os militantes jamais vão perdoar Ducci por sua ligação com Beto e, principalmente, pelo voto a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Ducci certamente vai ter de dar um jeito de esconder que é o candidato de Lula – em Curitiba, ser lulista é crime pra muita gente. Se ele não conseguir, pode ter certeza de que parte da militância será mais bem-sucedida em esconder que seu partido terá um candidato que já votou com Eduardo Cunha contra Dilma.

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