Mulheres, negras, filhas de famílias de baixa renda: essas são as heroínas olímpicas do Brasil

O resultado das Olimpíadas até aqui tem mostrado que o Brasil está cheio de histórias de superação de mulheres negras e periféricas. As duas únicas medalhas de ouro conquistadas até o momento pelo Brasil em Paris vieram de mulheres negras […]

O resultado das Olimpíadas até aqui tem mostrado que o Brasil está cheio de histórias de superação de mulheres negras e periféricas. As duas únicas medalhas de ouro conquistadas até o momento pelo Brasil em Paris vieram de mulheres negras – Beatriz Souza no judô e Rebeca Andrade na ginástica artística. E elas, assim como várias outras competidoras do país, não tiveram um começo de vida privilegiado, muito pelo contrário. Muitas vezes, por trás do sucesso dos medalhistas, há outras mulheres fortes, que deram duro para que seus filhos e filhas chegassem aonde estão hoje.

Rebeca Andrade, nascida em Guarulhos, é filha de mãe solo. Sua mãe, que agora acompanha a filha nas viagens pelo mundo, fazia faxina para poder pagar pelo treinamento da filha. Enquanto isso, um irmão mais velho acompanhava a garota no caminho de casa até a escola, que levava duas horas a pé – só depois eles conseguiriam uma bicicleta que amenizou o trajeto.

Beatriz Souza, que nasceu no litoral paulista, e que assim como Rebeca é negra, contou em entrevistas que uma das dificuldades que passou foram casos de racismo. “Sempre tem aquela olhada diferente. Quando você entra em um lugar muito chique, o segurança começa a encarar”, disse ela para a coluna de Monica Bergamo. Beatriz diz que sua tendência é reagir “com superioridade”, mas ela ressalta que nunca acha bom deixar passar esse tipo de situação sem um enfrentamento.

Outra que enfrentou problemas financeiros na família foi a ginasta curitibana Júlia Soares, medalhista de bronze pela equipe feminina de ginástica e finalista na trave, Os pais da menina dizem que o sonho era ver Júlia bailarina. No entanto, como as aulas de dança eram caras, optaram por um programa gratuito de ginástica. Com o avanço da atleta, veio o problema de financiar a viagem. A primeira viagem internacional, para a Bolívia, custou R$ 10 mil, dinheiro que o pai (funcionário da Pepsico) e a mãe (diarista) não tinham como pagar. Só com ajuda de vizinhos e amigos foi possível a participação de Júlia na competição.

Para ir a Paris, a família de Júlia começou a vender bombons e a animar festinhas infantis, além de manter os empregos diurnos. Só quando a atleta recebeu uma bolsa o empenho pôde ser um pouco menor. Mas ainda agora, de vez em quando, a família diz que Júlia às vezes acaba dormindo no sofá da família para a qual sua mãe trabalha.

Outra história que chamou a atenção foi a de Valdileia Martins, que chegou à final do salto em altura em Paris e bateu o recorde brasileiro da modalidade. A atleta revelou que começou seus treinamentos num assentamento do MST. Valdileia diz que sempre escondeu o fato de ser assentada por medo de preconceito, mas aprendeu a saltar tendo uma vara de pescar como sarrafo e sacos de milho como colchão para amaciar a aterrissagem.

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