A plataforma Elefante Letrado, contratada pela Prefeitura de Curitiba para as escolas municipais, tem livros com erros grosseiros de grafia. Em uma das obras, que apresenta palavras que começam com Y, a plataforma lista Yanomami, com Y e sem acento. A grafia correta é Ianomâmi. A plataforma tem um contrato de R$ 4,5 milhões e deveria ofertar livros e atividades de leitura para crianças em processo de alfabetização.
Em outra obra, a palavra quitinete está grafada da seguinte forma: kitchenette. A palavra caraoquê aparece grafada como “karaoquê”, uma forma que não representa nem a grafia contida no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), nem da palavra japonesa de origem. Outra palavra de origem estrangeira também é grafada erroneamente: yakissoba virou, no Elefante Letrado, yaksoba.
Além dos erros de grafia, a plataforma desrespeita uma lógica tradicional da metodologia de alfabetização da rede municipal, que trabalha com vocabulário da realidade da criança. Em um dos livros com palavras que começam com a letra E, o site lista “esquis”, entre outras opções que não reverberam a realidade curitibana.
Os erros são particularmente graves em uma ferramenta que deveria auxiliar o processo de alfabetização dos alunos da rede municipal. Além de problemas com a grafia, a plataforma apresenta textos de qualidade questionável, como uma releitura da cantiga “Se essa rua fosse minha”.
Em um exercício oferecido pela plataforma, o site orienta as crianças a contar os “pedacinhos” das palavras, uma terminologia que não reverbera o vocabulário usado em sala de aula.
Além de fornecer livros digitais para os estudantes, o contrato da Elefante Letrado com a Prefeitura de Curitiba prevê que o site também realize testes de fluência de leitura de 53 mil estudantes. Segundo o site, essas avaliações usam “inteligência artificial”.