O que o debate da Band nos ensinou sobre cada candidato em Curitiba

Morno e cheio de platitudes, primeiro debate entre os candidatos de Curitiba teve poucos bons momentos e show de respostas decoradas

O debate na Band entre os candidatos a prefeito de Curitiba, em termos de entrenimento, deixou a desejar. A emissora deu todas as condições, Alessandra Consoli fez a mediação com elegância, mas em geral os atores envolvidos no processo desempenharam seus papéis sem muito talento. Com respostas decoradas e programas vagos, a maior parte dos candidatos não conseguiu aproveitar o holofote: ficaram em um imenso loop de frases cunhadas por marqueteiros a peso de ouro e sem resultado prático.

Houve algumas poucas interações interessantes. Roberto Requião, apesar dos 83 anos e com alguma dificuldade para lembrar nomes e detalhes, esteve envolvido na maior parte deles, como no momento em que questionou o “progressismo” da frente progressista que o ex-prefeito lidera. Ducci, que parecia irritado e pouco à vontade, também travou algo que realmente se pareceu com um debate quando escolheu Eduardo Pimentel para alvo. De resto, o que se viu foi um mar de platitudes ausência de ideias aprofundadas para a cidade.

O Plural preparou um resumo da participação de cada candidato, em ordem alfabética:

Andrea Caldas

Andrea Caldas. Foto: Franklin Freitas/Band

Professora, por natureza bem articulada, é uma candidata que tem o que dizer sobre quase tudo. Embora seja uma novata na política eleitoral e estivesse em sua estreia em debates, conseguiu não demonstrar nervosismo e apresentar uma plataforma que, pelo menos, é coerente. Destoou dos candidatos típicos do PSOL, que muitas vezes preferem a ironia e o sarcasmo como armas de combate, e se manteve digna – embora dificilmente tenha conseguido mudar com sua participação o destino que Curitiba costuma dar ao PSOL.

Cristina Graeml

Foi o alívio cômico da noite. A candidata de última hora foi desconvidada por um fato simples: a Executiva Nacional de seu partido, o PMB, diz que ela não quer candidata. Negacionista com a vacina, com a Covid e com o 8 de janeiro, Cristina levou o negacionismo também para o terreno eleitoral e disse, impávida, de dentro do carro, já de saída, que não existe nenhum problema jurídico com sua candidatura. Foi cercada pelos tios e tias do zap com suas bandeironas do Brasil e prometeu mostrar numa live por que a Band não é democrática.

Eduardo Pimentel

Eduardo Pimentel. Foto: Franklin Freitas/Band

Disputou durante toda a noite com Maria Victoria o título de Miss Simpatia. Sorridente, com um traje elegante, teve o mérito de não perder a compostura quando criticado duramente por alguns adversários, principalmente Luciano Ducci. Estranhamente, escolheu como alvo o ex-prefeito Gustavo Fruet, que não estava lá, não é candidato e, se tem alguma ligação com a atual eleição, é por estar no mesmo partido de Goura, vice de Ducci. Durante a noite toda, desfiou um rosários de autoelogio à gestão “de Greca e minha”, com títulos que, para os habitantes que conhecem a cidade, parecem um tanto inacreditáveis. Destaque para o de “cidade menos desigual do Brasil”. O pessoal da Tiradentes II deve ter ficado sem entender.

Luciano Ducci

Luciano Ducci. Foto: Franklin Freitas/Band

Pareceu irritado o tempo todo. Parecia um jogador de futebol que tinha levado uma cotovelada injusta no primeiro lance do jogo e que passaria o resto da partida tentando dar o troco com uma canelada. Foi duro com Eduardo Pimentel como nenhum outro candidato, e as críticas faziam sentido. Se tinha razão no conteúdo, na aparência quem saía por cima era Pimentel, com seu sorriso de Ken e as respostas cheias de autoelogio, como se o apoio de Ratinho e Greca fornecessem a ele uma muralha intransponível, protegendo sua autoestima.

Luizão Goulart

Luizão Goulart. Foto: Franklin Freitas/Band

Sujeito simpático e experiente, é um óbvio candidato a deputado federal que está usando a eleição a prefeito para se cacifar. Nem por isso fez feio. Conseguiu mostrar que fez coisas relevantes quando prefeito de Pinhais (a aprovação dele na cidade é de fato absurda). A fala tranquila e o jeitão simples, porém, não parecem destinados a comover multidões que ainda mal o conhecem.

Maria Victoria

Maria Victoria. Foto: Franklin Freitas/Band

Tem tudo na ponta da língua, uma espécie de Alexa eleitoral. Se perguntam sobre saúde, ela tem o discurso pronto. Se falam sobre a periferia, ergue cinco dedos e lembra o que cada um deles indica em seu plano. Fez a pergunta mais nonsense do debate para Ney Leprevost, levantando a bola para o colega de Assembleia ao questionar (com o invencível sorriso dos que nunca tiveram boletos a pagar): “O senhor está preparado para ser prefeito?” Leprevost garantiu que sim e certamente o espectador se sentiu mais informado.

Ney Leprevost

Ney Leprevost. Foto: Franklin Freitas/Band

Tem a vantagem de ter sido radialista, o que lhe dá traquejo. Tem a desvantagem de ter sido radialista, o que leva a um discurso raso, mais preocupado em vender sua figura e em soar agradável. Não há profundidade nem arestas, não há complexidade. Aderiu ao termo “curitibinhas”, elencou uma série de acrônimos (seu pronto socorro chama P.A.I.; os centros para moradores de rua são C.R.I.S.T.Os). Mesmo quando deu uma cutucada em Eduardo Pimentel, manteve o clima de gente boa. Sabe que tem chance real de segundo turno e não quis arriscar nada.

Roberto Requião

Roberto Requião. Foto: Franklin Freitas/Band

Fez o papel de Mestre dos Magos, do velho sábio que quer guiar os outros à sua volta. Combinando com a personagem, tratou de colocar os outros em seus devidos lugares e, sempre que alguém falava de uma ideia que lhe parecia boa, dizia que já fez isso 40 anos atrás. Pegou pesado com Ducci, que de fato não é um homem de esquerda, mas exagerou ao dizer que ele votou a favor de projetos como reforma trabalhista (não é verdade). Deu alguma graça ao debate, e é pena que não tenha uma coalizão que lhe permita ir muito além disso – é um dos poucos com algo de mais profundo a dizer.

Samuel de Mattos

Samuel de Mattos. Foto: Franklin Freitas/Band

O candidato do PSTU ficou basicamente esquecido num canto. Fez perguntas (uma por bloco) mas não recebeu nenhuma. Defendeu o proletariado contra a candidata do PSOL, que ele certamente vê como uma burguesa alienada, e manteve com ela um debate sobre os verdadeiros rumos da revolução que certamente interessou muito a quem estava na emissora, pouco antes, assistindo ao pastor R.R. Soares.

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5 comentários em “O que o debate da Band nos ensinou sobre cada candidato em Curitiba <div class='awpa-single-post-star-variation' attributes='[{"ratings":{"id_2690":5},"sum":5,"count":1,"avg":5,"people_count":{"count_5":1}}]' show_star_rating='1' rating_color_back='#EEEEEE' rating_color_front='#ffb900' rating_type='5' show_avg='', show_star_type='' show_votes='' star_size='x-small'></div> ”

  1. Rogério, estamos mal de postulantes ao paço municipal . Todos num nível baixíssimo . Até o Requião tá meio gaga e passou da hora de pendurar a chuteira .

  2. Ótimo resumo, bem humorado sem deixar de ser informativo. Sugiro incluir sempre os partidos (e/ou coligações) d@s candidat@s quando produzirem conteúdo sobre as eleições!

  3. Ontem, um rapaz de 20 anos morreu esfaqueado em um biarticulado. Já é a terceira pessoa que morre dessa forma em um ônibus expresso. Além de ficar muito triste pelo rapaz e pela família, que devem estar sofrendo muito, creio que era um ponto a ser levantado no debate justamente para falar de segurança. Nenhum candidato tocou no assunto.
    É como se nenhum deles estivesse atento ao que está acontecendo na cidade…

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