Apoiado por Ricardo Marcelo, Fernando Mezzadri defende inclusão e combate à evasão

Mezzadri é professor de Departamento de Educação Física e Cristina Rodrigues, sua vice, é médica e atua no HC. Chapa é apoiada pelo atual reitor

Confira abaixo os principais trechos da entrevista com os integrantes da chapa 2, “Avança UFPR”, que tem Fernando Mezzadri como candidato a reitor e Cristina de Oliveira Rodrigues como candidata a vice-reitora. A chapa é apoiada pelo atual reitor, Ricardo Marcelo Fonseca.

Fernando Mezzadri nasceu em Ponta Grossa e tem 56 anos. Formado em Educação Física pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, com mestrado em Educação pela UFPR e doutorado em Educação Física pela Unicamp. Professor Titular da UFPR e Pró-Reitor de Planejamento, Orçamento e Finanças da universidade. Coordenador do Instituto Pesquisa e Inteligência Esportiva.

Cristina de Oliveira Rodrigues nasceu em Curitiba e tem 54 anos. Formada em Medicina pela Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná. Possui mestrado em Pediatria e doutorado em Saúde da Criança e do Adolescente. Professora da UFPR desde 1999. Titular do Departamento de Pediatria e professora do programa de pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente. Atua no Hospital de Clínicas (HC), coordenou o curso de Medicina de Curitiba e foi diretora do campus Toledo.

Plural – Que avaliação vocês fazem da gestão do reitor Ricardo Marcelo Fonseca?

Fernando Mezzadri – A gestão passou por momentos muito difíceis, momento de ataques simbólicos, que foram momentos difíceis do governo anterior. Passamos por uma pandemia e não foi fácil fazer esse enfrentamento, considerando que era um governo negacionista, que não valorizava as universidades, a ciência e a pesquisa. A universidade avançou nesse sentido. Foi um momento de corte orçamentários, em que foi muito difícil fazer os ajustes necessários para que a universidade pudesse se manter em pé, sem dívidas. Esses foram os desafios postos, externos à universidade. Entendemos que tivemos avanços.

Plural – Quais ações vocês destacariam?

Fernando Mezzadri – As ações de destaque se deram na política de assistência estudantil, mantivemos todas as bolsas de pesquisa, iniciação científica, extensão, cultura e monitoria. Foram comprados mais de 500 notebooks para os estudantes com fragilidade social, mantivemos o Restaurante Universitário a R$ 1,30, conseguimos avançar nos editais de pesquisa, no Fundo de Desenvolvimento Acadêmico e em extensão. Segurarmos a universidade no azul nesse período foi o grande destaque.

Cristina Rodrigues – O enfrentamento da pandemia foi um enfrentamento de bastante coragem. Era uma novidade para o mundo inteiro. A universidade se colocou como protagonista de muitas ações, tínhamos uma comissão de especialistas e estudávamos muito, com indicadores epidemiológicos, tudo baseado na ciência. A condução das estratégias internas da universidade foram adequadas. A universidade enfrentou a epidemia prestando muita assistência no Hospital de Clínicas. Mas outras ações foram conduzidas. O setor de Ciências Biológicas ofereceu mais de 60 mil testes para a comunidade, fizemos projetos de pesquisa que tiveram fomento, tivemos produção de álcool e gel, que foram fornecidos para uma série de entidades, de Curitiba e do interior. Produzimos face shields para oferecer para os hospitais. Foram diversas ações. A universidade não se fechou na pandemia, ela produziu muito para ajudar a sociedade.

Fernando Mezzadri – A universidade teve autonomia, mas o corte orçamentário foi muito grande, um terço do nosso orçamento foi cortado dem 2020. Tivemos que reinventar as ações para manter os nossos princípios básicos: assistência estudantil e atividades de ensino, pesquisa e extensão. Não teve uma ação direta do governo, mas indireta, com os cortes orçamentários.

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Plural – Integrantes de uma das outras chapas fazem parte da atual gestão. Por que o grupo não se manteve unido para as eleições?

Fernando Mezzadri – Não podemos falar sobre as outras chapas. Podemos falar que tivemos um apoio muito significativo de professores e servidores técnico-administrativos que estão compondo a nossa chapa. Pessoas da gestão e de fora da gestão. Um grande número de diretores de setores e de pessoas da comunidade estão em torno da nossa candidatura. Cada um escolhe a sua forma de avançar.

Fernando Mezzadri e Cristina Rodrigues. Foto: Tami Taketani/Plural

Plural – A atual gestão parece ter priorizado a inclusão, mas certos setores argumentam que outras áreas ficaram para trás. Como vocês avaliam isso?

Fernando Mezzadri – A inclusão é necessária, fundamental para o desenvolvimento de uma universidade pública, que tem que estar aberta ao conjunto da sociedade, ao conjunto dos nossos estudantes. A inclusão sempre vai estar presente. Mas é um engodo falar que teve prejuízo de outras áreas, das áreas fins da universidade. Nós investimos nos últimos cinco anos mais de R$ 50 milhões em projetos, em editais do Fundo de Desenvolvimento Acadêmico, de extensão e de pesquisa. Mesmo com os cortes orçamentários, foram investidos em torno de R$ 24 milhões só em editais de pesquisa. Nos últimos cinco anos, foram investidos quase R$ 50 milhões em todos os editais. Então, falar que a inclusão prejudica as outras áreas, isso não é fato. Dá para trabalhar com todas as nossas necessidades, com planejamento, foco e uma boa gestão orçamentária. 

Plural – Há o problema orçamentário, já que a maior parte do orçamento é destinado à folha de pagamento. O que é possível fazer para aumentar a margem de manobra?

Fernando Mezzadri – A primeira batalha é para buscar mais orçamento do poder público, para que o governo entenda a importância das universidades. Precisamos de orçamento para desenvolver pesquisas, extensão e ensino, isso é fundamental. Mas, além dos recursos orçamentários, precisamos avançar em parcerias com outros órgãos públicos, outros ministérios, com agências de pesquisa, agências internacionais e com a iniciativa privada, buscando relações mais próximas com o setor produtivo e com os movimentos sociais. Essa integração nós devemos ter de maneira permanente.

Plural – O governo federal anunciou neste ano o investimento de R$ 5,5 bilhões em obras paradas e Institutos Federais. Há muitas obras paradas na UFPR?

Fernando Mezzadri – Durante esses setes anos em que eu estive à frente da Pró-Reitoria de Planejamento, executamos quase todas as obras que estavam paradas. Terminamos o Cedim (Condominio de Laboratórios), a central no setor de Agrárias, obras na Educação Física e em Palotina, uma parte do prédio da Química. Os recursos do PAC serão para um prédio no Centro de Estudos do Mar, em Pontal do Paraná, para uma obra em Jandaia do Sul e para terminar a obra da Química. A universidade vai ficar basicamente sem nenhuma obra inacabada, muito diferente de outras federais, que mesmo com o PAC terão outras obras para terminar. Faltará uma ou duas apenas com esses recursos, mas os projetos ainda estão sendo desenvolvidos. Basicamente, terminamos quase todas as obras.

Cristina Rodrigues – São obras que a gestão atual herdou das gestões anteriores, muitas eram esqueletos. 

Plural – Até 2019, a UFPR perdia 2,7 mil alunos por ano na graduação. A situação deve ter piorado durante a pandemia. Como enfrentar esse problema? 

Fernando Mezzadri – Não podemos nos esquecer que teve uma pandemia. Todo e qualquer indicador que possamos avaliar agora tem que levar em consideração a pandemia, porque as aulas foram de maneira remota, a evasão foi muito grande e temos reflexos até hoje. Precisamos de estudos do impacto causado pela pandemia. É simplificar demais a discussão falar que teve evasão aqui ou ali, que hoje tem mais ou menos. Nesses dois anos de pandemia, muitas pessoas deixaram de entrar ou saíram da universidade. Temos alunos que ainda estão repondo as suas disciplinas, porque entraram em 2019 ou 2020. Temos muitos alunos que entraram durante o período da pandemia.

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Cristina Rodrigues – A evasão é observada em todas as universidades públicas, estaduais ou federais. É multifatorial e a gente precisa realmente entender o que acontece. Houve uma grande explosão de cursos EAD, é uma das questões que fazem as pessoas migrarem: pagar uma mensalidade baixa e não ter que sair de casa. Uma pessoa em fragilidade socioeconômica acaba optando, sem julgar se isso é bom ou ruim. É muito do aspecto pós-pandemia. Precisamos mostrar mais a universidade, temos projetos para isso. A universidade faz anualmente uma Feira de Profissões, isso precisa ser ampliado. Precisamos de ações para chegar mais ao Ensino Médio, mostrar mais. Muitos jovens ainda não sabem que a universidade é pública e não cobra mensalidade. Precisamos mostrar a realidade e trazer esses jovens para dentro da universidade, para eles verem o que a gente oferece, se sentirem atraídos pelos cursos. As políticas de permanência são um grande investimento para que esse jovem venha, conclua sua graduação, faça sua pós-graduação ou, se preferir, vá para o mercado de trabalho. 

Plural – Como vocês avaliam o risco da volta de um governo que ataque as universidades federais?

Fernando Mezzadri – A universidade é reflexo da sociedade. O debate político permanece, com posicionamentos bastante intensos. Os riscos orçamentários e os riscos da volta do governo anterior sempre existem. É uma questão politica da sociedade. Temos que ficar muito atentos. Também temos que considerar que o orçamento para o primeiro ano do atual governo foi votado no final de 2022. Neste ano criou-se um orçamento muito enxuto ainda. O orçamento de 2024 é inferior ao orçamento de 2016. 

Plural – Como esses ataques abalaram a imagem da instituição?

Fernando – Foi um ataque simbólico muito forte, ainda tem muita rejeição. Precisamos estar mais ligados à sociedade, quebrar os muros das universidades. Precisamos de uma relação mais próxima com o Ensino Médio. Esse embate ainda se se estabelece. Ainda há grupos politicos que mantêm permanentemente os ataques, que falam que a universidade não desenvolve pesquisas, tentam diminuir o papel da universidade. 

Plural – Como aproximar a universidade da sociedade e divulgar pesquisas sem afastar as pessoas?

Cristina Rodrigues – Uma grande maneira de fazer isso é através de projetos e programas de extensão. É a forma que a universidade tem de mostrar para a sociedade o que ela faz, de uma maneira simples. A UFPR precisa ir para as comunidades e mostrar o que a gente faz, desenvolver projetos e programas nessas comunidades é uma maneira de fazer isso. Precisamos de uma comunicação assertiva também em relação à pesquisa, porque não é fácil comunicar pesquisas. Não é publicando em periódicos científicos que a gente torna isso palatável. Existem formatos diferentes para mostrar a produção científica, temos que avançar nesse sentido.

Fernando Mezzadri. Foto: Tami Taketani/Plural

Fernando Mezzadri – Tem grupos na universidade que trabalham com a divulgação científica. Precisamos trabalhar questões didáticas de divulgação científica, mostrar o que nós fazemos em termos de produção acadêmica. A divulgação científica tem um papel fundamental nesse processo, para que a gente possa transferir a pesquisa e a extensão. Mas tem uma linguagem específica para chegar até a ponta, que são as escolas e a sociedade.

Plural – Um dos temas dessa campanha é a desburocratização e a atualização dos sistemas da universidade. O que vocês pensam a respeito?

Fernando Mezzadri – Vamos avançar na desburocratização, mas precisamos fazer uma boa gestão daquilo que queremos desburocratizar, porque em cada processo há riscos orçamentários, riscos tecnológicos e de pessoal. E tem a questão da legislação. Há riscos; vamos fazer a integração dos sistemas, mas cuidando no que se refere à governança.

Cristina Rodrigues – Os sistemas estão sempre evoluindo, a gente compra um celular e ele atualiza periodicamente. Você não compra um sistema e ele está pronto para sempre. Para que a gente evolua no desenvolvimento dos sistemas, precisamos de recursos e profissionais capacitados. A nossa proposta é investir mais. O mercado de TI é muito aquecido, fora do sistema público é um profissional muito valorizado. A remuneração é muito alta lá fora, então é difícil segurar esses talentos para que a gente consiga fazer o desenvolvimento do sistema. É simplificar demais a situação. Precisa haver a integração, mas não é um processo que se faz da noite para o dia. Precisa de recursos e de profissionais capacitados. 

Fernando Mezzadri – Durante a pandemia, houve exonerações e pedidos de afastamento de profissionais da TI, porque eles começaram a ganhar quatro ou cinco vezes mais fora da universidade. A queda foi muito significativa. Estamos com um projeto específico, mas os profissionais ficaram muito caros. Contratar um volume grande de profissionais se tornou caro frente aos cortes orçamentários. Falar que vai fazer é fácil em uma campanha, mas quem estava na ponta segurando a universidade nos momentos difíceis, essa é a questão. Muitos que falam hoje não estavam no momento que a universidade mais precisava. 

Plural – O que vocês destacariam como essencial no próximo mandato, até por representarem a atual gestão?

Cristina Rodrigues – Manter e ampliar as políticas de assistência e permanência estudantil. Se a gente não tiver estudantes, a gente não tem universidade. Combater a evasão, garantir que o aluno entre e fique é uma questão fundamental. Temos questões de infraestrutura muito tensas na universidade, temos prédios muito antigos, é uma universidade antiga, e como consequência temos muitos prédios antigos, que precisam de manutenção. Com os cortes orçamentários dos últimos anos, foi preciso fazer escolhas. Queremos investir muito nessa parte de manutenção para melhorar os nossos ambientes de trabalho, os laboratórios, as salas de aula e os espaços de convivência para os alunos, porque estar em uma universidade é uma vivência, não é ir para a aula e ir para casa. É manter suas relações sociais, aprender a viver em comunidade. Tudo isso é importante. Revitalizar esses espaços é importante.

Cristina Rodrigues. Foto: Tami Taketani/Plural

Fernando Mezzadri – Tem mais duas questões para nós que são fundamentais, uma delas é acolhimento da nossa comunidade, servidores e técnico-administrativos, professores e estudantes. Esse acolhimento, esse sentimento de humanização que se perdeu um pouco a partir da pandemia, temos que recuperar isso. A UFPR tem que ser um grande exemplo para essas ações, humanizar as nossas relações internas. Outra interação é com a sociedade, precisamos quebrar os muros da universidade e ter uma relação mais direta com os movimentos sociais e com a comunidade. Ter essa proximidade é importante, nossa produção de conhecimento tem que auxiliar na transformação social, estar no cotidiano. Mais uma prioridade é o Hospital de Clínicas, vamos estar juntos com a superintendência do hospital para termos uma relação mais próxima entre o ensino e a assistência. É importante ter um hospital universitário, que tem essa proximidade. Temos ações concretas na universidade, temos chão e experiência administrativa.

Plural – O que você fazem fora vida acadêmica?

Fernando Mezzadri – Acompanho o esporte. Sou torcedor do Coritiba e vou ao estádio. Sempre estou otimista em relação ao esporte. 

Cristina Rodrigues – Tenho afinidade com a familia, essa é a minha prioridade, sou casada, tenho um filho e duas enteadas maravilhosas. Gosto de estar com a família. E de ler ficção, romances. Gosto de filmes e de ir para a academia.

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