Ausência Ducci e Pimentel deixou Requião e Leprevost brilharem

Em debate com diálogo e troca de ideias, ausências falaram mais sobre os candidatos do que propostas

Quando eu era motorista novata, tinha uma imensa dificuldade para fazer baliza. Então evitava ter que estacionar em vagas apertadas. Portanto entendo perfeitamente a ausência do candidato a prefeito, Eduardo Pimentel (PSD), no debate do último dia 12 promovido pelo Plural. Pimentel certamente deve ter qualidades, mas debater ideias e falar sobre a cidade não é uma delas, portanto estar lado a lado com concorrentes mais experientes e com melhor retórica certamente seria um desafio.

A ausência do candidato a prefeito Luciano Ducci (PSB) para mim não é tão fácil de compreender. Ducci é um político experiente, já foi prefeito e muito embora não seja conhecido pela retórica, sabe se virar em um debate. Sem aparecer no embate, Ducci entregou para Requião uma chance de se firmar como opositor de direito do atual prefeito, Rafael Greca (PSD), bem como representante da parcela da população da cidade com visão mais à esquerda.

Com a ausência de ambos, o debate acabou pontuado por ataques a eles, muitas críticas ao sistema de transporte coletivo e a promoção pessoal de cada um dos participantes. Como no restante da campanha, os candidatos ficaram devendo mostrar como eles vêem a Curitiba do futuro ou oferecer ao eleitor ideias concretas.

Apesar de ausentes por razões diferentes, Ducci e Pimentel contribuíram para que o debate não explorasse ideias sobre o futuro da cidade. Os seis candidatos presentes acabaram por colocar ambos no centro da discussão, com Requião principalmente sendo bem-sucedido em colar em Ducci a responsabilidade pela licitação do transporte coletivo atualmente em vigor. A fala de Requião, na realidade, era equivocada. Ducci era vice-prefeito em 2009, quando a licitação foi realizada. Ele de fato assumiu a prefeitura em 2010, quando foi eleito prefeito e o contrato com as atuais empresas concessionárias entrou em vigor. O responsável pelo edital, portanto, foi o ex-prefeito, Beto Richa.

Não foi o único momento do debate em que os candidatos recorreram a meias verdades. O candidato Ney Leprevost (União), que disputa com Ducci e Requião uma vaga no segundo turno, afirmou que parte da população de rua da cidade é composta por foragidos da justiça ao defender seu projeto de inclusão social para o setor. O problema é que não há dados suficientes sobre essa população para cravar, afinal, qual o perfil e origem de quem está em situação de rua em Curitiba. A candidata Andrea Caldas (PSOL) rebateu a afirmação apontando que a falta de iniciativas da atual gestão para identificar quem está nas ruas da cidade.

Em outro momento, Graeml afirmou ser disposta a dialogar com grupos de todas as vertentes ideológicas e sociais se eleita prefeita. O problema para Graeml é que é difícil afirmar que será aberta ao diálogo com pessoas que momentos antes ela havia chamado de “defensores de assassinos” . Como se sabe, é um pressuposto da democracia e do diálogo que exista respeito entre as partes. O discurso mais radical, porém, ficou de fora da maior parte da participação de Graeml no debate. Talvez interessada em ampliar sua base entre aqueles que compartilham de alguns valores conservadores, mas não do apego ao discurso mais incendiário, a candidata tentou se colocar como ponderada e disposta a dialogar.

Caminho diferente seguiu Requião. Conhecido pelo tom incisivo e dado a frases de efeito, o ex-prefeito, ex-governador partiu para cima dos oponentes, colando Ducci em Pimentel e atribuindo aos dois os problemas atuais da cidade. Nem Lula escapou da metralhadora retórica do ex-governador, muito embora ele tenha realmente perdido parte do vigor com a idade. Requião insistiu em acusar Pimentel e Ducci de serem privatistas e de priorizarem o lucro privado em detrimento do bem público. Também destacou a ligação direta de Pimentel com a privatização da Copel (ele é irmão do presidente da empresa, Daniel Pimentel Slaviero, que comandou o processo de venda das ações do Paraná). Sem Ducci, e sem ninguém disposto a enfrentá-lo, Requião discursou livre e fez dobradinha até com Graeml para criticar a atual gestão.

Mas se Ducci entregou de bandeja o eleitor mais a esquerda para Requião, o mesmo não pode ser dito da extrema direita. A candidata Cristina Graeml (PMB), fez questão de se firmar como representante desse grupo e dos conservadores da cidade. Nisso ela não encontrou resistência, uma vez que Leprevost, que preferiu se colocar como ponderado e representante do centro. Leprevost – cuja pontualidade deixa a desejar – confirmou a fama de bon vivant e carismático no debate, trocando elogios e até convidando a candidata do PSOL, Andrea Caldas a compor um eventual governo seu. E ainda se ofereceu para compor uma eventual prefeitura comandada por Caldas.

Leprevost também se saiu bem no confronto com o candidato do PSTU, Samuel Mattos, quando deixou claro que é contra a terceirização das escolas públicas, além de ser contra a privatização nas áreas da saúde e segurança. Mattos, que disputa a prefeitura pela primeira vez, estava pouco à vontade no debate e se apegou demais a discursos mais genéricos contra Greca, Lula e Bolsonaro, ao invés de falar sobre a cidade. O melhor momento de Mattos foi quando defendeu o direito das mulheres a tomar decisões sobre o próprio corpo, o que fez Graeml abandonar o tom moderado para fazer uma acusação genérica contra a esquerda de ser “defensora de assassinos”.

Por outro lado, a candidata do PSOL – que confessou a esta jornalista ter feito uma sessão de preparação para o debate – se mostrou mais tranquila e à vontade no palco. Ela conseguiu até tirar uma casquinha de Leprevost – o que não é fácil dado o carisma do candidato – ao destacar o proselitismo religioso do nome do programa dele para a população de rua – Cristo.

Outro que estava no debate disposto a ganhar o título de Miss Simpatia foi o candidato do Solidariedade, Luizão Goulart. Goulart se manteve firme no discurso de que o que ele fez como prefeito de Pinhais, fará como prefeito de Curitiba. Nenhum de seus oponentes se deu ao trabalho de apontar que Pinhais é uma cidade de 130 mil habitantes, enquanto Curitiba tem 1,7 milhão de pessoas. Seu melhor momento no debate foi ter conseguido colocar Requião no contrapé. Em uma troca em que Luizão falou sobre seus feitos na construção de moradias populares em Pinhais, Requião chamou para si parte do mérito ao destacar que era governador na época e atuou para ajudar o então prefeito. Luizão assumiu e elogiou a parceria que teve com o ex-governador, mas apontou que na época o presidente da Cohapar, órgão estadual de habitação, era Greca.

Greca e Requião foram parceiros políticos e amigos por muito tempo e permanecem próximos, o que explica o foco dos ataques de Requião em Pimentel, e não no atual prefeito. Luizão foi o único a explorar, mesmo que muito rapidamente, a contradição. Por outro lado, ninguém cutucou o ex-governador com sua relação com Ducci e com o PT. A presença de Requião na eleição em parte tem sido pontuada por uma energia dele focada em atacar o ex-prefeito e o PT, partido pelo qual teve uma breve e tumultuada passagem.

O melhor do debate foi a capacidade dos seis candidatos presentes de debaterem com civilidade e a participação de pessoas comuns com perguntas sobre temas que foram de ciência a crise climática. Apesar da promessa de protestos, o evento foi tranquilo e sem nenhum contratempo. Não houve nem pedidos de direito de resposta. Para quem se dispõe a governar uma cidade diversa – que é sede tanto da mais antiga universidade do país quanto do maior templo evangélico – a capacidade de dialogar é fundamental. Nesse quesito, o debate do Plural mostrou claramente quem está disposto e é capaz de dialogar e quem achou que isso não era uma prioridade.

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