Voto útil ou anular? Qual caminho o eleitor de esquerda vai tomar em Curitiba?

Enquanto partidos e candidatos defendem neutralidade, vereadora eleita diz que há "um caminho menos pior"

A disputa entre Eduardo Pimentel (PSD) e Cristina Graeml (PMB) no segundo turno vem dividindo os votos progressistas em Curitiba. Enquanto parte do eleitorado mais ligado à esquerda prega o “voto útil” em Pimentel, para evitar que Graeml (uma negacionista da tentativa de golpe de Estado no 8 de janeiro, por exemplo) seja eleita, outra parcela defende o voto nulo.

Derrotado no primeiro turno com 19,4% dos votos, Luciano Ducci (PSB) já declarou neutralidade no segundo turno. “Em nome do respeito aos eleitores curitibanos que queriam uma administração mais voltada aos problemas sociais (…) a recomendação do partido é pela neutralidade”, afirmou Ducci, que participava de uma coligação com o PDT e a Federação Brasil Esperança, formada por PT, PCdoB e PV. Seria uma posição natural do setor progressista, já que tanto Eduardo Pimentel quanto Cristina Graeml buscam o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O PSOL recomendou o voto nulo no segundo turno. “Derrotar a extrema direita é uma tarefa que não será concretizada nas urnas. Compreendemos aqueles e aquelas que optarem por votar em Pimentel como um veto à Cristina, mas não compartilhamos desta posição”, afirmou em nota o diretório municipal do partido.

“Ambos os prefeituráveis são representantes do bolsonarismo e, por isso, não podem ter seus projetos chancelados por nós.”

Nota do diretório municipal do PSOL

“Menos pior”

Eleita vereadora pela primeira vez neste ano, Laís Leão (PDT) postou um vídeo em seus perfis nas redes sociais em que diz haver um “caminho menos pior” no segundo turno. Ela não declarou voto em Eduardo Pimentel, mas disse que o “crescimento da extrema direita na cidade preocupa demais”. 

“Eu vou discordar e muito de qualquer cenário que a gente tenha nos próximos anos, mas vai ser sempre uma discordância técnica, coerente e sensata. Eu sou uma cientista, eu valorizo a ciência, a democracia e a conversa”, disse a vereadora eleita. “Não seria coerente comigo mesma manifestar qualquer apoio formal aqui, eu tenho duras críticas a ambos os campos. Ao mesmo tempo, não seria democrático da minha parte incentivar sanções, votos nulos ou brancos. A gente precisa da manifestação democrática”. 

“A gente precisa da democracia presente no nosso voto acima de tudo. Votem com o coração, com a sensatez, com a ciência e com a democracia do lado de vocês. Não tem caminho bom, mas tem um caminho menos pior”.

Laís Leão, vereadora eleita pelo PDT

Para a cientista política Karolina Mattos Roeder, muitos eleitores identificados com os setores progressistas votarão em Pimentel, mas há uma dificuldade para os partidos assumirem essa posição. “Há uma divisão do campo progressista porque não há acordo sobre a orientação do voto e também a sua publicidade”, diz a doutora e pesquisadora de pós-doutorado no INCT ReDem/UFPR.

“Muitos eleitores progressistas provavelmente votarão estrategicamente (voto útil) contra a candidata de extrema direita, Cristina Graeml. Mas é um custo muito elevado para os partidos de centro-esquerda e de esquerda declararem isso publicamente, já que o vice do Pimentel é do PL, partido de Bolsonaro.”

Karolina Mattos Roeder, cientista política e pesquisadora de pós-doutorado no INCT ReDem/UFPR

O fato de dois bolsonaristas concorrerem no segundo turno contribui para esse posicionamento público distinto, avalia a cientista política. “O fato de ser a direita (com o vice bolsonarista) contra uma candidata de extrema direita faz com que tenhamos posições públicas diversas, como já estamos vendo”, afirma Karolina Roeder.

Veja o vídeo da vereadora eleita Laís Leão

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