Flip, bichos e esbarrar em autores

Leituras sem querer ou por acidente são sempre uma surpresa e são ótimas porque você não precisa escolher, elas são impostas pela vida

Esperando meu voo de volta para Curitiba, fui até Paraty para a Flip, estava lendo “Maldito invento dum baronete: uma breve história do jogo do bicho”, do Luiz Antonio Simas que saiu pela editora Mórula. Foi uma leitura meio sem querer, não estava esperando, encontrei o Luiz na livraria Muvuca lá de Paraty e aproveitei para pegar o livro e um autógrafo.

Não foi algo totalmente inesperado, já estava de olho no livro, não só pelo tema, acho fascinante a origem do jogo e como ele se espalhou pelo país e se amarrou na cultura popular. Mas para conhecer a escrita do Simas. E acabou sendo uma ótima coincidência.

Mesmo que ficando no Rio apenas algumas horas, dá para sentir todo o “clima” da cidade que o Simas coloca no livro, principalmente pela escolha do vocabulário e oralidade do texto, é muito divertido. Ele é dividido em 25 pequenos capítulos, cada um dedicado a um bicho e costurado habilmente com a história do jogo ou da cidade.

Leituras sem querer ou por acidente são sempre uma surpresa e são ótimas porque você não precisa escolher, elas são impostas pela vida.

Outra dessas foi “Uma noite com Sabrina Love” do Pedro Mairal, tradução da Livia Deorsola pela Todavia. Eu estava no caixa da livraria e num momento de descuido virei a xícara de café no livro, acho que foi a única vez que isso aconteceu, ufa. Naquele instante minha próxima leitura foi definida, comprei o livro e levei para casa. Acabou sendo um bom acidente. Um adolescente ganha em um sorteio a oportunidade de passar a noite com a grande atriz pornô do momento na Argentina. O livro guarda boas passagens.

Teve também uma vez nas férias, estava em um pequeno balneário, quase nada na cidade e a areia não é muito a minha praia. Restava ficar zanzando pelas ruas e nessas andanças avistei uma livraria, na verdade uma loja que vendia livros. Foi uma surpresa e uma salvação. Peguei um chamado “O Barril Mágico” do Bernard Malamud, tradução Maria Alice Maximo pela Record. Um daqueles nomões do começo do século XX nos Estados Unidos.

Foi uma ótima descoberta e a leitura daqueles treze contos me entreteve durante a temporada.

E voltando a Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip. Ela tem muitos poréns, mas tem uma coisa que é inegável, talvez única, o centro histórico fica tomado pela literatura. Eu defendo que o livro precisa “invadir” o dia a dia das pessoas, ocupar o espaço e se tornar algo comum para as pessoas. Como queremos que as pessoas leiam mais se cada vez é mais difícil as pessoas pegarem os livros na mão? Livro é para ser manuseado, visto, lido. E apesar de ser para muito poucos, Paraty não é uma cidade para qualquer um, a Flip tem essa coisa, você está andando pela rua, lutando para não escorregar ou virar o pé, e esbarra com uma grande autora, alguém que traduziu o livro que você gosta ou editou um texto que te marcou.

Foi assim com o Luiz Antonio Simas e também em uma outra edição que encontrei a Annie Ernaux. Equilibrando-se nas escorregadias pedras, mas sem perder a simpatia.

Da Ernaux li “O Lugar”, tradução da Marília Garcia pela Fósforo. Foi meio sem querer também, estava fazendo uma feira e a coisa ia meio devagar. Leitor com tempo não resiste, passei em uma banca vizinha para comprar algo. Encontrei “O Lugar”, uma autora que eu queria/precisava conhecer e o livro era curtinho. Perfeito. Daria para ler durante o evento. E que maravilha, o texto da Ernaux é impressionante.

Agora é descansar os tornozelos.

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