Máquinas que sonham

Jeff Lemire tornou-se um nome totalmente amado em solo brasileiro. Ok, não apenas aqui, mas também nas terras americanas, virando uma espécie de nova grande entidade dos quadrinhos. Um desses exemplos veio desse próprio blog há algumas semanas, quando abordei “Black Hammer”, talvez uma das grandes séries nas HQs publicadas no Brasil recentemente. Lemire, acima de tudo, não para de surpreender, de trazer histórias absurdas. Mesmo tendo iniciado sob passos mais lentos, seu crescimento foi colossal, virando o grande nome da indústria da nona arte no atual momento, especialmente dentro do mercado independente.

E, dentro desse quesito, “Descender” segue pelos mesmos trilhos. Uma trama que usa e abusa de uma simplicidade básica para traçar caminhos diversos, além dos seus sempre incríveis personagens. Aqui, no caso, temos Tim-21, um androide que acorda depois de 10 anos totalmente congelado e parado no tempo. Ele se encontra em um planeta solitário, sendo ajudado por um Perfurador, uma espécie de robô gigante protetor de outros robôs. Tim passa, assim, a ser perseguido por alguns Ceifadores. Nesse meio tempo, três enviados especiais da união galática têm a missão de buscar o protagonista, sem entender sua verdadeira relevância.

O grande trunfo dessa HQ é a relação que Lemire traça sobre esse universo. Uma história que, a priori, é basicamente comum, sobre um pequeno robô dentro desse universo, que parece ganhar cada vez mais vida. No entanto, o mais interessante do trabalho do roteiro é como ele traz as camadas de um embate galático subterrâneo. Nunca é propriamente comentado, porém as divisões de planetas, as caças, além das disputas políticas jogam esse terreno como uma correlação ao enredo principal. O básico é sobre o desenvolvimento de Tim tentando entender quem ele é, além de quais seriam suas verdadeiras individualidades – algo destacado na parte do sonho. Entretanto, é dentro de algo único do personagem principal que encontramos um emaranhado de histórias e passado, a serem explorados nos próximos volumes.

A arte em aquarela de Dustin Nguyen é ressaltada pelas composições sempre pertinentes. Por se tratar de uma ficção-científica, sempre há a possibilidade de cair em alguns clichês de mostrar o espaço e algumas tecnologias chave, todavia o mais interessante do desenho é como a criação dos quadros induz a alimentar um elemento de univeros ali. Por exemplo, o momento em que Tim-21 está sendo consertado e vemos um fundo totalmente branco, representando os pensamentos vazios do andróide. A imensidão dos planetas também serve de exemplo, sempre trabalhadas em uma gigantesca coloração.

Apesar de ser apenas o primeiro volume, “Descender” sabe bem como traçar sua trama para caminhos ainda mais intrigantes ao futuro. O melhor de tudo é que, ao fim do primeiro volume, Jeff Lemire parece colocar mais dúvidas do que realmente levar a algo. Isso pode soar um tanto quanto estranho, porém o melhor é como essa construção eleva ainda mais esse cosmo criado para a série. É esperar o que virá pela frente e salvar uma nova grande série no mundo das HQs que o autor está trazendo para nós.

Capa de Laerte Total vol.1

Notícia da Semana. A editora Z Edições vai lançar um compilado das histórias da incrível quadrinista Laerte. Serão 50 edições no total, sendo os primeiros compilando suas tiras de “O Condomínio”, clássica produção dos anos 80. O primeiro volume, contendo 92 páginas, já pode ser adquirido por meios digitais, mas ainda não há previsão sobre o material físico. Segundo informações do twitter “Gibi Foda” – esse dedicado a quadrinhos – serão 50 volumes no total, compilando o trabalho da artista.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima