A melancolia bem-vinda de Francisco Okabe em “Interior”

Ainda estamos por descobrir os reais efeitos das ausências com as quais nos acostumamos, da distância física que não se resolve por tela, da saudade que não vê perspectiva de resolução num país desengonçado, anticivilizatório. Artistas têm, naturalmente, necessidade visceral de se expressar. Mesmo que tudo seja meio torto neste neo-mundo pandêmico, da composição à recepção, cantar o mundo ainda é transformá-lo por um instante.

O violonista, cantor e compositor Francisco Okabe lançou no dia 8 de janeiro um single chamado “Interior” (ouça abaixo). O título tem dubiedade bem-vinda e trata tanto do que ainda temos de sensibilidade “aqui dentro” quanto dos tempos em que viveu em Bauru, sua cidade natal, no interior de São Paulo.

Capa do single, por Dayane Battisti.

Também integrante do coletivo ímã e instrumentista convidado para gravar “Fronteiriça”, primeiro disco solo de Roseane Santos, Francisco mudou-se de Bauru para Curitiba há 10 anos e lançou seu primeiro álbum, o ótimo “Vital”, em 2018. A saudade do interior, assim, ganhou contornos melancólicos num samba classudo, que tem Francisco na voz, no violão e nas percussões e participação de Kelvin Souza no cavaco.

“Guardo com muito amor/ a infância das lembranças”, canta Francisco, dessa vez in natura, sem autotune – em 2019, Okabe lançou o EP “80”, com sambas & beats na mesma sintonia, reflexo da sua passagem de seis meses por Los Angeles. “A saudade aumentou. Da família, dos amigos, da infância, da tapioca da minha rua”, diz o músico. “Minha ideia foi voltar da ‘pira modernosa’ para a minha história e para uma história que eu não vivi, mas que continua lá”.

Com gosto de saudade, “Interior” ganhou um lyric video cuja capa e tipografia foram produzidos por Dayane Battisti. A mixagem e a masterização são de Acácio Guedes. Assista e ouça:

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