Os detetives da metáfora

A metalinguagem é uma forma de linguagem que usa os próprios códigos da linguagem para se explicar ou fazer alguma referência. Ficou complicado, é basicamente uma explicação meio indireta sobre o que se está mostrando. Um dos exemplos é um quadro de um pior pintando um quadro. Ou até um quadrinho sobre um quadrinista realizando uma HQ. Esses são exemplos mais abertos, porém isso pode se modificar conforme o código vai ser colocado em pauta. E é mais sobre isso que toda a estética de “Meta – Depto. De Crimes Metalinguísticos” vai brincar.

A história vai trazer um departamento de polícia chamado META. Nele, os investigadores observam e buscam elucidar crimes que estão relacionados a metalinguagem. Mas, o que isso tudo tem a ver com a narrativa principal? Bom, basicamente acontece após um homem ter o namorado de sua irmã decapitado. Logo depois, a irmã dele, que é uma quadrinista, é sequestrada com algumas estranhas situações envolvendo muitas cores. Por isso, o departamento entra em atenção para tentar descobrir o que poderia ter acontecido. E os principais suspeitos são os desenhos dela.

O roteirista Marcelo Saravá, de “Aos Cuidados de Rafaela”, traz uma narrativa que vai sempre brincar consigo mesma. Caso não esteja interessado em uma obra que vai atrás de buscar o lado mais cômico sobre si, não esteja muito interessado em adquirir essa obra. No entanto, se você gosta dessa veia mais engraçada, além de gostar do lado mais investigativo que a produção tem, esse é o trabalho para ser lido. E tudo se completa ainda mais para fãs da nona arte, visto que não faltam referências a um milhão de outros quadrinhos – desde “Bone” até artistas como Walt Simonson e Laerte Coutinho.

A graça de “Meta – Depto. De Crimes Metalinguísticos” é justamente em estar o tempo todo rindo de si mesma. Os conflitos gerados entre os investigadores, por exemplo, também faz parte de uma ideia clara da estética do mundo dos quadrinhos. Ao mesmo tempo que toda a viagem bastante astral que a HQ vai entrando se relaciona com um universo de HQs a ser descoberto. Nesse sentido, as ilustrações de André Freitas são fundamentais para consolidar uma unidade nesse grande número de referências. Um quadrinho que olha para tantos outros precisa saber qual caminho quer seguir e como quer seguir e isso acontece de forma bem cativante aqui, destacado nessa unidade linguística.

De certa forma, para aqueles que não se interessarem tanto pelo mundo dos quadrinhos e pelas brincadeiras na metalinguagem, “Meta – Depto. De Crimes Metalinguísticos” pode soar até um pouco chato ou pretensioso. Apesar disso, é justamente o lado mais despojado e sem muita vontade de seguir algo tradicional que faz com que estejamos em contato com um HQ que explora muito bem a linguagem da nona arte. De certa forma, enquanto é uma homenagem ao mundo dos quadrinhos, é também uma descontrução dele.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima