Em meio a discussões, e demissões, que envolvem o uso dos medicamentos cloroquina e hidroxicloroquina no Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) decidiu liberar a prescrição dos remédios também para o tratamento de doentes com sintomas leves de covid-19. O uso, porém, não possui qualquer comprovação científica para prevenção ou tratamento da doença e só será possível com autorização do paciente, que assumirá os riscos.
O atual protocolo do Ministério da Saúde já prevê o uso dos medicamentos, mas somente em casos críticos e graves. Sua prescrição para casos leves, em contrapartida, foi autorizada pelo Conselho, que admitiu não haver evidências sólidas de cura ou redução de mortes pelo uso dos remédios.
No documento divulgado, o CFM ressalta que o médico “fica obrigado a explicar ao doente que não existe, até o momento, nenhum trabalho científico, com ensaio clínico adequado, feito por pesquisadores reconhecidos e publicado em revistas científicas de alto nível, que comprove qualquer benefício do uso das drogas para o tratamento da covid-19”.
Sobre a cloroquina e a hidroxicloroquina, o órgão explica que “nenhum ainda foi aprovado em ensaios clínicos com desenho cientificamente adequado, não podendo, portanto, serem recomendados com segurança”.
Ainda assim, o Conselho Federal de Medicina prevê três cenários para a utilização dos remédios no tratamento do coronavírus: pacientes em início de quadro clínico; pacientes com sintomas importantes, internados ou não,; pacientes com quadro crítico, com necessidade de ventilação mecânica ou Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
No Paraná, os medicamentos são distribuídos gratuitamente para todas as 22 Regionais de Saúde e para 28 hospitais de referência no tratamento da covid-19. A medicação, até então, só era utilizada em pacientes graves do doença.
Política e Ciência
Bolsonaro declarou nesta quinta-feira (14), durante teleconferência com empresários, que o protocolo do Ministério da Saúde sobre a cloroquina e a hidroxicloroquina “pode e vai mudar”. Ele quer que os medicamentos sejam prescritos também a pacientes com sintomas leves da doença.
O tema influenciou a demissão, em 16 de abril, do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que era contra o uso em casos leves. O novo representante da pasta, Nelson Teich, também ainda não apoiou publicamente a ideia do presidente da República.
O maior estudo sobre o uso destes medicamentos para o tratamento do coronavírus foi realizado nos Estados Unidos e publicado em uma das principais publicações médicas do mundo, o Journal of the American Medical Asssociation. Os cientistas não encontraram evidências de redução de mortalidade nos pacientes. O mesmo apontou, em Nova York, o The New England Journal of Medicine, que publicou outro grande estudo com 1,3 mil pacientes.