Por que a sociedade está revoltada como uma “respeitosa casa de leis de Curitiba”

Câmara está em meio a um escândalo que envolve tudo de menos nobre que há no âmbito da política para o bem comum

Há muitos anos, a sociedade é estruturada de modo a excluir um número substancial de minorias da participação em instituições sociais. Um sistema no qual políticas públicas, práticas institucionais, representações e outras normas funcionam de várias maneiras, para perpetuar a desigualdade entre os grupos e excluir, principalmente, pretos, pobres, favelados, homossexuais e mulheres, por exemplo.

Leia mais: Em sessão marcada por racismo institucional, Renato Freitas é cassado

Essa lógica, no entanto, se aplica à inúmeras outras parcelas sociais, afinal, privilégios são historicamente garantidos apenas à pequenas elites, para que possam ao longo do tempo, e como sempre foi, impor o mesmo modo de pensar e agir. Isso se chama “racismo estrutural”. E essa característica, infelizmente, está embutida nos sistemas sociais, econômicos e políticos em que todos nós existimos. A coragem de pensar e de se posicionar diante das opressões incomoda os opressores. E sempre foi assim.

Por hobby, por uma consciência política advinda dos ensinamentos do meu falecido pai, e também por entender que a política é elemento central em nossas vidas, acompanho quase que diariamente, desde os meus 15 anos, a política em vários níveis. Do nacional, passando pelo estadual e chegando ao municipal.

Falando do âmbito municipal, o que falar da Câmara Municipal de Vereadores de Curitiba? Essa “respeitosa casa de leis da cidade de Curitiba”? Poderia falar dos vários escândalos que já vi acontecer nessa instituição, como o ocorrido no ano de 2012, no “caso Derosso”, que, inclusive, não foi cassado pela Câmara de Vereadores da época, mas sim, pela Justiça Eleitoral.

Renato Freitas

Poderia também lembrar casos de “rachadinha”, corrupção, racismo e até assédio sexual, com a absolvição de todos os acusados. Mas o que vem acontecendo neste atual momento em relação à cassação do vereador Renato Freitas por uma suposta “invasão à igreja”, que já foi comprovada por fatos e evidências que não ocorreu, com certeza, entrará para história da Casa, mais uma vez, de forma negativa.

Com este novo episódio, a Câmara de Vereadores de Curitiba escancara para quem quiser ver o racismo estrutural intrínseco à instituição. Denuncia uma jogada política baixa, que espanta qualquer cidadão pensante e busca justificar o injustificável.

“Ah, mas o Renato Freitas fuma seu cigarrinho da paz em plena luz do dia nas praças de Curitiba!”. “Ah, mas o Renato Freitas anda de chinelo e camiseta pela Câmara de Vereadores!”. “Ah, mas o Renato Freitas escuta RAP nas alturas pelas praças de Curitiba e arruma confusão com os polícias!”. “Ah, mas o Renato Freitas invadiu uma igreja e desrespeitou os cristãos!”.

“Ah, mas o Renato Freitas usa carro oficial fora do horário de trabalho para fazer coisas particulares em horário de trabalho, tudo pago com dinheiro público.” E a última, mais fresquinha, profanada recentemente em uma sessão especial: “Mas o Renato Freitas não quis conversar com a gente para “fazer conchavo” para não ser cassado!”

Creio que muitas das ações de Renato Freitas, se comprovadas que realmente aconteceram, podem, de fato, ser consideradas equivocadas para as regras da sociedade conservadora em que vivemos. Mas o fato é que Renato foi um dos únicos, e poucos, cidadãos que teve coragem de chegar à Câmara Municipal de Curitiba querendo, de fato, fazer diferente, propondo uma mudança em toda uma estrutura que exclui uma enorme parcela da sociedade. Desde o início de suas atividades, ele escolheu da voz à todas as pessoas consideradas “diferentes”. E que são muito julgadas por serem ou pensarem assim.

Coragem essa que falta à maioria dos vereadores, que votaram a favor da cassação de Renato, que participam da base do governante municipal atual ou que se valem da desculpa de que “esse é o sistema” e “se eu não me adequar a ele não sobrevivo a ele”.

Renato Freitas foi cassado, porque incomodou e resolveu denunciar as práticas abusivas que ocorrem no sistema político brasileiro, que beneficia somente interesses individuais, destoando de uma verdadeira política para o coletivo.

Curitibanos conscientes e que não aceitam fazer parte desses esquemas, estão decepcionados com tanto abuso público. Mas não perderemos a esperança de lutar para que verdadeiros políticos, como Renato, que lutam pelo coletivo, e um dia consigam reverter essa triste realidade que vivemos há muitos anos, inclusive, em nossa cidade.

Dedico este texto, portanto, a todas as pessoas que acreditam na humanidade, no sentido de bondade e benevolência, em relação aos semelhantes, ou de compaixão e respeito aos menos favorecidos. Isso é o que está faltando para muita gente. Se colocar no lugar do outro, ter empatia. Isso falta, principalmente, aos privilegiados, que adoram falar que racismo estrutural é “mi mi mi” ou “vitimismo”.

O jogo do “poder pelo poder” e do “capital pelo capital” deve ser combatido para que, a partir disso, se construam alternativas que sejam sistêmicas e compreendam todos os setores e todas as pessoas. É urgente enfrentar e superar o patriarcado, o antropocentrismo, o produtivismo e o extrativismo desenfreado. E essa alternativa sistêmica só emerge por meio de lutas, experiências, empatia, vitórias, derrotas e, principalmente, do ressurgimento de valores em prol do bem comum. Lutemos por eles.

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10 comentários em “Por que a sociedade está revoltada como uma “respeitosa casa de leis de Curitiba””

  1. Infelizmente ele violou o decoro e regimento não foi só essa vez. Não é questão de racismo ou não, é questão de querer chamar atenção e caisar tumulto. Isso é ruim pra nós mesmos que somos de esquerda porque banaliza as nossas lutas. Texto tendencioso.

  2. Calma lá! Pesquise primeiro quantas passagens o Renato possui… Vulgo mingau! CZN! Conhecido por defender criminosos na Capital e em SP. Certamente esse é um contra ponto a ser examinado… Pois nao estamos falando somente de um preto periférico… Possui antecedentes… E muitos! O Brasil é racista! Venha para o Nordeste, aqui tem muito racismo… Falar que uma suposta invasão é motivo de cassação de mandato ? Claro! Está no regimento da casa! Agora alegar que é racismo é para ferir a inteligência de um leitor né ?

  3. Olá Simone! Primeiramente muito obrigada pela leitura do texto, independente de concordar ou não com o que está escrito, isso faz parte do sistema democrático, e por meio destes debates que nos é permitido a evoluir para a construção de um futuro melhor. Queria somente deixar claro, que sim sou AMBIENTALISTA, e toda minha linha de pesquisa, entendendo que o Meio Ambiente é o “conjunto de condições que permite, abrigar e reger todas as interações de vida em todas as suas formas”, se tange no modelo político – econômico estabelecido sobre a apropriação dos recursos naturais, focando em maneiras de se garantir a preservação dos mesmos. Entendo que para o senso comum é muito mais fácil tratar o meio ambiente somente como “gestão de resíduos” – “gestão de recursos hídricos” e que a exemplo da prefeitura de Curitiba que resgata uma campanha sobre a “Família Folha” da década de 90, sem nenhuma evolução, e se intitula como “Capital Ecológica”, potencializa esse pensamento raso sobre a questão ambiental. Mas posso te garantir que a complexidade de ser AMBIENTALISTA é muito mais que isso, e envolve muito a questão política, de regimentos e legislações que vigoram sobre as cidades, estando eu bem tranquila e embasada em evidências sobre todas as questões que escrevo independente de ser ou não jornalista! E pode ficar tranquila, que como profissional e pesquisadora, sempre estou em busca de conhecimento, tendo a plena noção que sempre precisamos aprender cada vez mais, e o que mais faço é realmente pesquisar para ter um embasamento bem fundado! Caso queira realizar mais trocas, podemos seguir conversando! Me passa o seu contato que lhe retorno com o meu! Abraços!

  4. Logo se vê que a escritora não é jornalista, e sim, ambientalista, muito achismo e poucos fatos concretos em relação ao regimento e leis que regem a instituição e nossa cidade. Sra Natasha sugiro que pare de escrever sobre política, e começe a pensar em gestão de resíduos ou sobre algo que entenda, e se não entende, PESQUISE, é o mínimo que esperamos de uma “profissional”.

  5. Falo para todos que me perguntam se Curitiba é acolhedora, depende se a pessoa for branca a cidade é boa, se for branca e rica a cidade é ótima, para negros e pobres prepare-se para sofrer com racismo inclusive daquele que deveria te proteger. Não podemos esquecer que o prefeito atual foi eleito dizendo que tinha vomitado com cheiro de pobre. E sim a cassação do Renato Freitas ocorreu por racismo, onde já se viu dar voz a negro, pobre e favelado.

  6. Diane Bittencourt

    Como Curitibana, eu quero a cassação imediata de todos os vereadores e vereadoras racistas de Curitiba. Eu quero a cassação imediata de TODOS que votaram a favor da cassação racista e ilegal de Renato Freitas.

  7. Bom saber que apesar de uma porcentagem pequena, ainda temos Curitibanos pensantes, que não se deixam enganar por uma cidade de aparências, que continua privilegiando uma casta e isolando os periféricos que tanto atrapalham a elite.

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