O contratado de Deus

Morto em 2005, Will Eisner segue apontado como um dos maiores nomes dos quadrinhos de todos os tempos. Possivelmente, até o maior de todos, colocando troféus ao lado de Stan Lee, Jack Kirby, Alan Moore e Robert Crumb. Tudo bem, talvez incluiria alguns outros nomes GIGANTESCOS nessa lista, porém o intuito do post não é esse. Eisner é um nome tão grande que revolucionou tanto a maneira de produzir quadrinhos quanto o mercado da nona arte. Foi um dos primeiros a ser autoral nesse meio novo. Não à toa, até hoje o nome do maior prêmio do mundo dos quadrinhos leva seu nome.

Em grande parte de suas histórias ao longo do tempo, o autor sempre buscou trazer a novidade e, ao mesmo tempo, histórias que buscassem visibilidade. Essas histórias, não tão bem publicadas ao longo do tempo no Brasil e algumas ganhando destaque em uma belíssima edição da Devir, refletem especialmente um caráter urbano, de uma tristeza social perene na sociedade americana. É interessante como, apesar das suas tramas se passarem em diferentes tempos historicamente, ele sempre tem uma visão de uma tristeza social a toda sua volta. Algo bem típico de uma decadência americana pós-crise de 1929. Eisner, que sofreu pela crise na sua época de adolescência, olha com força ao vigor da sociedade.

Isso tudo faz chegarmos à sua grande HQ, intitulada “Contrato com Deus”. Ela foi a primeira produção sequencial em quadrinhos a ter sido chamada graphic novel mais popularmente, apesar do cartunista Richard Kyle ter cunhado o termo em 1964. Will, no entanto, colocou uma popularidade agressiva sobre a ideia de uma obra contada com diversas temáticas em um espaço fechado temporal. Publicado em 1978, o quadrinho se faz através de quatro contos – “Um Contrato com Deus”, “O Cantor de Rua”, “O Zelador” e “Cookalein” – contando a vida dos imigrantes em Nova York na década de 30. Como dito antes, um relato sobre uma decadência urbana, retratada em diversas vidas com ascensões e os costumeiros declínios. Não pense em ler o autor e não sair, no mínimo, contemplativo ao fim.

Nesse sentido, as obras de Eisner tem um cunho quase sociológico, para explorar as problemáticas sociais em um ponto de vista sempre complexo. Não há vilões, mocinhos, bom ou mal, qualquer coisa assim. As situações simplesmente acontecem dentro de um universo da realidade, a qual esses personagens estão amplamente conectados, estão totalmente relacionados a uma verdade de mundo. Para eles, a busca por sobreviver é o grande destaque, algo que pode significar até a própria morte. O título falando sobre o contrato com Deus é nada mais que uma explicação da relação desses indivíduos com o meio social. Por quem eles serão salvos no final, então? Parece não haver respostas fáceis, assim como precisa haver uma busca por entender o problema. Relatado por Will Eisner, a mesma miséria e situação continua, não apenas com imigrantes, mas com negros, mulheres, pessoas LGBT, entre outros. A pobreza segue causando, enquanto os contratos para salvação parecem não ter fim.


Capa de “O Máskara”

Notícia da Semana. A editora Pipoca e Nanquim anunciou a publicação da HQ “O Máskara”, de John Arcudi e Doug Mahnke. Com 380 páginas, esse primeiro volume reúne as três primeiras minisséries publicadas do personagem.

Com preço de capa de R$84,90, a obra será lançada em 31 de março.

Página de “Informe sobre Cegos”.

Notícia da Semana 2. Vai até o dia 10 de abril a campanha pelo Catarse da HQ “Informe Sobre Cegos”. Lançamento da editora Figura, a obra de Alberto Breccia que interpreta o livro do escritor argentino Ernesto Sabato. Publicado em 1993, esse foi o último lançamento de Breccia antes da morte. Você pode apoiar aqui.

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