O que são os quadrinhos nacionais?

Recentemente vi um vídeo do canal do youtube “Quadrinhos na Sarjeta”. Já acompanho ele há algum tempo, mas uma publicação – que é até de maio – gerou uma certa controvérsia. Isso porque no intitulado “Qual o problema do quadrinho (e da arte) no Brasil?” ele tenta destrinchar alguns argumentos de um ponto de vista menos diretos e mais complexos sobre porquê certas pessoas não gostam da produção nacional de HQs. Entre os principais destaques, estão: o lado autocentrado dos quadrinhos (de retratarem sempre temas diretos, pautados na realidade, quase nunca buscando alegorias, por exemplo) e a falta de uma maior multiplicidade de olhares sobre o que é o nosso país.

São dois argumentos, admito, sólidos e bastante válidos. Os quadrinhos nacionais no âmbito de sucesso, ou seja, sem ser aqueles que vendem, como da “Turma da Mônica” ou tiras de jornal, estão conectados com uma busca de retratar o nosso país. Ele cita o caso de Marcelo D’Salete, um excepcional artista, que faz tramas sobre casos reais, como do Zumbi dos Palamares. É até interessante como, dentro do vídeo, não há uma tentativa de criticar isso, apenas analisar.

Bom, retruco esse primeiro argumento. Mas é muito mais uma adição do que propriamente uma discordância. Eu realmente acredito que estamos sempre buscando falar sobre nós mesmos. O Brasil nasceu dos problemas, das complexidades de uma mistura mal resolvida de classes, gêneros e raças. É uma questão que nunca foi realmente estruturada como nação dentro do nosso DNA, então é natural que tal ponto seja transportado para dentro da produção artística. Ao mesmo tempo que é compreensível isso, também é o fato desse ponto enjoar no momento do consumo. Se já estamos turbilhados todos os dias e o tempo inteiro dos problemas, por que nossa distração também precisa ser colocar isso na cara? Faz sentido para ambos os lados.

Já no segundo argumento, é impossível discordar. A nossa produção de HQs sempre ficou centralizada em alguns eixos durante MUITO tempo. Era ou tiras ou algum sucesso dentro da “Mônica”, como dito antes. As únicas formas de ser reconhecido e recompensado pela nona arte no país era desse jeito e, de certa forma, até hoje continua sendo. Só que nem tanto assim. Agora, os espaços se abrem e a possibilidade de diversas formas de fazer, pensar e estruturar uma história em quadrinho nunca foram tão abertas. A ver se tal ponto será ainda passível de discussão em um futuro próximo.

Nosso Brasilzão já foi um local de vasto consumo de literatura em forma de quadros. Isso é sabido, público e notório. A questão é que, desde os início dos anos 2010, nos formamos com público diversos. Capaz de consumir desde um material independente até um quadrinho feito totalmente na internet. E, para consolidarmos como indústria capaz de produz múltiplas coisas, também leva tempo. Talvez essa seja a resposta para essas indagações, porém talvez nem tanto assim. É complicado dizer. O importante é esperar cada vez mais que pessoas, formas e multiplicidades estejam presentes nos quadrinhos brasileiros.

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