Usagi Yojimbo e as HQs de samurai americanas

Admito que “Usagi Yojimbo” nunca tinha me chamado tanta atenção para uma leitura, apesar de sempre ter gostado de premissas de samurai. No entanto, as claras influências de todas as partes sempre me causaram um olhar meio desconfiado da história do nipo-americano Stan Sakai. Porém, no lançamento agora no Brasil da Hyperion Comics, que promete trazer toda a produção completa em 7 volumes, resolvi dar uma chance. E, olha, admito que fiquei bem impressionado com o que li.

Inicialmente, o que mais me chamou a atenção foi um fato bem simples: toda a devoção do autor a um cinema samurai japonês. Sakai não esconde em momento algum que sua obra existe como uma grande continuidade espiritual do que já foi feito anteriormente, especialmente por Akira Kurosawa, na sétima arte. Começando a ser lançado em 1987, o autor poderia não conseguir explorar toda uma dimensionalidade na ação no mundo dos quadrinhos, que foi mudando de 1990 para frente. Contudo, é impressionante a forma como “Usagi Yojimbo” é veloz, impactante e, acima de tudo, envolvente. É totalmente impossível estar no meio de uma cena de luta passivo. A arte, misturando uma crueza com algo um tanto quanto de videogame (especialmente pela história trazer bichos como protagonistas), consegue deixar o leitor preso.

Mas, para quem não sabe do que estamos tratando aqui, vou voltar um pouco a fita. Acompanhamos a trajetória de um coelho guarda-costas que vive no cosmo do Japão no século XVII. Momento das guerra civis impactantes e sangrentas, e com o xogum acabando de se firmar no poder. Os grandes guerreiros eram os samurais, uma classe dominante que seguiam um código de honra: o bushido. E é nesse universo que o coelho está inserido, um samurai sem mestre chamado Miyamoto Usagi.

O mais interessante da narrativa é conseguir misturar histórias mais contínuas com algumas outras curtas. Assim, ao mesmo tempo que acompanhamos todo o desenvolvimento de algum arco, também aprendemos mais sobre o passado desse personagem principal, além de ser possível entender mais sobre esse mundo e as cidades. E tudo isso com animais antropomórficos, o que torna esse mix de fofo com estranheza algo ainda mais direto.

Enfim, bom demais que um trabalho tão único quanto “Usagi Yojimbo” saia de forma completa e única aqui em terras brasileiras. Espero que não fique pelo caminho e faça o sucesso devido. E se você que leu esse texto e, assim como eu, tinha um certo pé atrás com a HQ, vá fundo. Para completar, só uma polêmica divertida: tudo que li nesse primeiro volume é melhor que “Lobo Solitário”.

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