A investigação de Deltan Dallagnol (Podemos) pela Polícia Federal, determinada pelo ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), tem um aspecto técnico – mas também tem um peso político enorme. Principalmente porque a suspeita que passa a pesar sobre o ex-procurador da Lava Jato dá à esquerda o discurso que ela sempre quis: a narrativa passa a ser que Deltan e seus aliados (provavelmente entre eles o ex-juiz Sergio Moro) estariam de conluio com o governo dos Estados Unidos.
A investigação da Polícia Federal parte de revelações feitas por veículos independentes: Intercept e Agência Pública. Aliás, um parêntese: nada que se sabe sobre a Lava Jato hoje seria de conhecimento público se não fosse a nova geração de veículos jornalísticos independentes. A Vaza Jato é o exemplo cabal da importância de redações pequenas e financiadas pelo público.
Os documentos indicam que Deltan não apenas conversou com suíços e americanos sobre a alocação de dinheiro advindo da Lava Jato como também teria omitido ao Ministério da Justiça informações sobre 17 (justo esse número!) agentes americanos que vieram ao país discutir os rumos da investigação contra Lula (e Dilma, e o petismo etc).
A esquerda nacionalista, que sempre vê o governo americano por trás de toda conspiração (mesmo quando nem conspiração há) aparentemente nesse caso pode ter uma ponta de razão, afinal. Lógico que do ponto em que estamos até se provar que o verdadeiro motivo por trás de toda a Lava Jato era roubar o pré-sal vai uma boa distância. Mas Roberto Requião (PT) e outros não deixavam de dizer isso mesmo quando não havia indícios, imagine agora.
Em todo caso, é de uma ironia extrema que Deltan, agora cassado, venha a enfrentar justamente a Polícia Federal – aquela que chegou a dar título a um filme que o tratava como santo. E que, lembremos, tinha como subtítulo a premonitória frase: “A Lei É Para Todos”.
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