A eleição curitibana vai separar pela primeira vez o que a Lava Jato uniu. Deltan Dallagnol e Sergio Moro estarão em palanques diferentes daqui até outubro: o ex-procurador, que chegou a cogitar ser candidato, fechou com Eduardo Pimentel (PSD), e levou o Partido Novo junto; já o ex-juiz conseguiu emplacar a mulher, Rosangela Moro, como vice na chapa de Ney Leprevost (União).
Ideologicamente, há pouca ou nenhuma diferença entre as duas escolhas. Tanto Pimentel quanto Leprevost são candidatos da direita, e ambos viram a necessidade de tentar ganhar votos do bolsonarismo. Afinal, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fez cerca de dois terços dos votos em Curitiba na eleição de 2022.
Pimentel colocou um vice do PL em sua chapa justamente para isso. Paulo Martins é o bolsonarista típico, e somado a Deltan dá à chapa ares de uma nova Arena. Do outro lado, Leprevost já avisou aos mais próximos que “não se assustem”, porque ele precisará dar uma guinada à direita caso não esteja disposto a arriscar a perda de todo o bolsonarismo para o rival.
Tanto Deltan quanto Moro serão peças fundamentais na comunicação. Principalmente com o discurso anticorrupção: na sua primeira entrevista, Moro já falou em montar uma Agência Municipal Anticorrupção, e é improvável que Deltan não reaja com algo semelhante – no próprio documento em que fechou apoio a Pimentel, já colocou cláusulas “anticorrupção” a serem cumpridas pela chapa.
Com as duas chapas disputando a primazia de ver quem está mais à direita, e ainda com a extremista Cristina Graeml (PMB) correndo por fora, talvez nem fique parecendo tão esquisito se o eleitor de esquerda decidir mesmo apoiar Luciano Ducci (PSB), que fora desse contexto parece, no mínimo, um homem de centro, mas que na estranha realidade curitibana ganhou um jeitão de Robespierre.
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