Em Curitiba, negros mais uma vez são deixados para trás em nome do pragmatismo

PT sacrifica rara candidatura de política negra com potencial eleitoral em nome de aliança pragmática com PSB

O Partido dos Trabalhadores mais uma vez optou pelo pragmatismo. Decidiu que, em nome da coalizão nacional, valia bem sacrificar os candidatos da legenda em Curitiba e em mais algumas cidades. Com isso, agrada o PSB de Geraldo Alckmin, que por aqui terá como candidato Luciano Ducci. Pensando com frieza, faz todo sentido: Brasília é mais importante do que qualquer cidade do país isoladamente.

A vitória do pragmatismo, porém, como costuma acontecer, exigiu o sacrifício das minorias. O partido tinha a única candidata negra da eleição curitibana, a deputada federal Carol Dartora. Em 2022, Dartora se mostrou capaz de fazer 130 mil votos, quase 50% a mais que o próprio Luciano Ducci, que agora aparece como a opção pragmática do partido.

Pouco importa se você gosta ou não de Carol Dartora. Aliás, pouco importa a minha opinião sobre ela. O fato é que seria importante ter uma candidatura feminina, em primeiro lugar, mas mais do que isso, de uma mulher negra.

Neste exato momento, Curitiba tem pela segunda vez um negro na cadeira de prefeito. Pela segunda vez, é uma interinidade sem poderes, só em função da viagem do prefeito de fato – obviamente um homem branco, como todos os demais até aqui.

Em mais de 330 anos de história, Curitiba nunca foi governada por uma mulher. Jamais elegeu um negro ou uma negra para a Prefeitura. E imagine a mensagem que isso passa para as centenas de milhares de crianças negras da cidade. E para a as mulheres, que são pouco mais de metade da população.

Os negros, no Brasil, estão acostumados a serem deixados para trás em nome do pragmatismo. A escravização dos africanos e seu desembarque em terras brasileiras era pragmático: uma necessidade para a colonização. Trezentos anos depois, os conservadores alegavam que ainda era impossível libertar os negros porque a economia do país não suportaria. Era preciso ter um pouco de pragmatismo.

Recentemente, o presidente Lula, um progressista, ouviu um clamor nacional para nomear uma mulher negra, pela primeira vez na História, para o Supremo Tribunal Federal. Quinhentos anos depois do início do país, porém, ainda não era hora. Era preciso ser pragmático e escolher um homem.

Carol Dartora terá outras chances. Não se trata dela, afinal. O que importa é até quando vamos, em nome de objetivos imediatos, deixar de lado a grande transformação de que este país precisa, que é a real igualdade de oportunidades para as pessoas, independente de sua cor de pele, de seu sexo, seu gênero e seu credo.

Por enquanto, mais uma vez, nos disseram para deixar de sonhar, para deixar para depois. Ok. Esperar. Até quando mesmo?

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