O Congresso fica melhor sem Deltan

Itamar Paim, que assume no lugar de ex-procurador, não terá como nos fazer tanto mal assim

Deltan Dallagnol é oficialmente ex-deputado. Está inelegível. Não tem mais cargo na Procuradoria da República. Sabe-se lá o que fará da vida, mas dificilmente vai abrir uma loja de canecas da Lava Jato: o mais provável é que arranje um jeito de se manter na vida pública, até porque, como dizem, a política é como cachaça, e o bichinho parece já bem viciado.

No caso de Deltan, além da mosca azul, há ainda a crença cega de que ele é importante para curar o país. Assim como um pastor faz suas curas por imposição de mãos, Deltan achava que ele e sua turma fariam o mesmo com o Brasil, livrando-nos do vício da corrupção, eleita por ele como mal maior de nossa sociedade.

Agora, já era. E dá para entender o alívio dos anti-Lava Jato com a queda de Deltan, mesmo sabendo que em sua cadeira gora estará sentado outro radical da direita. O novo deputado federal paranaense é um outro pastor bolsonarista dos quatro costados, que responde pelo nome de Itamar Paim. Mas por que mesmo trocando seis por meia dúzia há motivo de felicidade.

Os votos de Deltan na Câmara foram todos horríveis. Votou a favor do marco temporal, o que não é de espantar, já que sua família é de ruralistas, e não de indígenas. Votou contra a igualdade de salários de homens e mulheres (só mais dois no Paraná tiveram essa cara de pau). Até contra o arcabouço fiscal ele votou, e pelos motivos errados.

Não é difícil imaginar que o novo pastor, o Itamar, vá votar todos os assuntos com essa mesma pegada. Deus, família e liberdade. Negacionismo na veia. Machismo acima de tudo, homofobia acima de todos. E, mesmo assim, a saída de Deltan do Congresso é uma vitória, pelo simples fato de que seu sucessor é um zero à esquerda. Baixo clero total. Irrelevante. E Deltan não era.

Deltan era ponta de lança de um projeto que chegou a tomar o poder no país com Bolsonaro. Com suas manobras jurídicas tortuosas e seu conservadorismo chinfrim, ajudou a derrubar Dilma, prender Lula e eleger um fascista para a Presidência. Os arquivos da Vaza Jato provam que ele conspirou contra o Direito, a Constituição e o governo, não necessariamente nessa ordem.

Deltan é um fanático, mas pior do que isso: é um fanático que se tornou líder de fanáticos. No Congresso, vinha dando indícios de que poderia se transformar num grande porta-voz dos evangélicos fundamentalistas, com cacife para disputar eleições nacionais. Itamar Paim não poderá nos fazer tanto mal assim – a não ser que tenhamos um azar danado.

Tenho dúvidas sobre os procedimentos do TSE que levaram à cassação de Deltan, admito. Mas, do ponto de vista objetivo, não tenho dúvidas de que o Congresso só tem a ganhar com a saída de um sujeito que, nos últimos nove anos, saiu do ostracismo para nos mostrar que, sim, corremos riscos graves de nos tornarmos reféns de um conservadorismo hostil a tudo que a civilização nos ensinou a respeitar.

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