PT usou Curitiba como moeda de troca e entregou a cidade ao bolsonarismo

Estranhamente, o eleitorado progressista da cidade não se empolgou com um candidato que votou pelo impeachment de Dilma Rousseff

Quem diria que colocar um deputado que votou pelo impeachment de Dilma como cabeça de uma frente ampla de esquerda não ia funcionar? Estranhamente, o eleitorado progressista de Curitiba não se empolgou com a ideia. Luciano Ducci, um prefeito que governou tendo o PT na oposição, que chegou à Prefeitura pelas mãos de Beto Richa, curiosamente não conquistou a esquerda da cidade.

Não que Ducci seja má pessoa – não é isso que está em jogo. Nos últimos anos, o deputado defendeu propostas importantes, como o plantio da cannabis para uso medicinal no país. E mesmo antes teve uma atuação brilhante na Prefeitura criando o programa Mãe Curitibana. Mas os números mostram aquilo que todo mundo já sabia: eleitoralmente, a equação não tinha como funcionar.

O terço de eleitores curitibanos que votou em Lula já seria insuficiente para eleger alguém, mas garantiria pelo menos um segundo turno. E aí, quem vai saber? Mas nem isso aconteceu. Ducci não chegou nem aos 20% e agora os eleitores que gostariam de ter outra opção serão forçados a escolher entre a direita com verniz e a direita extremada.

Claro que os caciques petistas sabiam que isso ia acontecer. Só alguém muito ingênuo deixaria de perceber que as contradições eram graves e insuperáveis. Como conquistar o voto progressista com dois homens brancos, héteros de olhos claros – sendo que um deles até ontem era visto como tucano?

O que aconteceu foi que o PT nacional resolveu de caso pensado entregar Curitiba como moeda de troca em nome da coalizão nacional. O PSB foi fundamental para derrotar Bolsonaro em 2022 e será novamente importante para que Lula consiga outra vitória em 2026. Então era preciso entregar ao partido candidaturas em algumas cidades. Por que não Curitiba?

Havia candidaturas mais interessantes postas. A deputada federal Carol Dartora, por exemplo, teve mais votos do que Ducci em 2022. Se perdesse, pelo menos o petismo teria aproveitado para construir um nome – mas talvez não perdesse, pelo menos não de modo tão acachapante.

Como mostraram as urnas, tem muita gente atrás de nomes novos, de gente que não tenha um passado pesado demais nas costas. Uma mulher negra, periférica e que conseguiu chegar a Brasília com 130 mil votos talvez fosse uma opção para esse eleitor. Mas, não. Os candidatos nativos da esquerda foram atropelados pela cúpula do partido em nome de um projeto maior.

Se vai funcionar, sabe-se lá. O que temos até agora como certo é que o preço chegou para Curitiba, e pode ser bem alto. O que se avizinha não é bonito de se ver nem de longe. Como diria Eduardo Cunha no dia em que Ducci votou pelo impeachment de Dilma, que Deus tenha misericórdia desta cidade – ops, desta nação.

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