36 anos da Constituição Cidadã: apatia e desmobilização social colocam a democracia em risco

A cidadania ativa é o antídoto contra a apatia e a desdemocratização

A cidadania ativa é um dos pilares fundamentais da Constituição de 1988, que buscou não apenas garantir direitos e estabelecer deveres, mas também promover a participação efetiva de todos os cidadãos na construção do Estado democrático. Esse conceito transcende a ideia de simplesmente cumprir obrigações eleitorais, como votar periodicamente. Cidadania ativa implica uma participação contínua, consciente e crítica nos processos políticos e na vida pública, seja através do voto, da fiscalização do poder público, da participação em movimentos sociais ou do engajamento em debates e decisões que afetam a coletividade.

No entanto, vivemos um momento em que a desmobilização política e a apatia parecem tomar conta de nossa sociedade de forma preocupante. Embora esse fenômeno seja particularmente acentuado entre os jovens, ele não se restringe a eles. Observa-se, de maneira geral, um desinteresse e um distanciamento da população em relação às questões políticas, muitas vezes decorrente de um sentimento de impotência ou descrença nas instituições. Isso pode ser alimentado por fatores como a corrupção, o esvaziamento do debate público e a polarização exacerbada. Essa apatia acaba se traduzindo na abdicação do papel ativo que o cidadão deveria exercer em uma democracia.

Especialmente em tempos de eleições municipais, que ocorrerão neste domingo, essa desconexão se torna ainda mais alarmante. As eleições locais são um dos mecanismos mais importantes para a cidadania ativa, pois oferecem uma oportunidade para que a população escolha seus representantes mais próximos e influencie diretamente as políticas que impactam sua vida cotidiana. No entanto, o desinteresse generalizado por essas eleições reflete o enfraquecimento da percepção de que a política é um campo de ação para todos, e não apenas para poucos.

Esse cenário de apatia e desmobilização, infelizmente, abre caminho para um processo mais amplo de desdemocratização. A erosão democrática raramente ocorre de maneira abrupta; ela se manifesta lentamente, à medida que os cidadãos deixam de participar das decisões públicas e permitem que o poder se concentre nas mãos de poucos, sem a devida vigilância e controle social. Quando a cidadania ativa se esvazia, abre-se espaço para o fortalecimento de tendências autoritárias que, por meio de discursos simplistas e populistas, ganham terreno ao prometer soluções rápidas para problemas complexos.

A Constituição de 1988 foi construída com o ideal de que o povo é soberano e que a participação ativa é uma ferramenta essencial para a consolidação e defesa da democracia. Portanto, quando cidadãos de todas as idades, mas especialmente os jovens, se distanciam do processo político, abandonam não apenas o ato de votar, mas também o papel de agentes transformadores da realidade. Esse desengajamento enfraquece a própria democracia, que depende da vigilância constante e da participação ativa de seus cidadãos para sobreviver e prosperar.

Assim, neste 5 de outubro, ao celebrarmos 36 anos de nossa Constituição Cidadã, é crucial refletirmos sobre o nosso papel como cidadãos e sobre os riscos que a desmobilização traz para o futuro de nossa democracia. A cidadania ativa é o antídoto contra a apatia e a desdemocratização. Somente através de uma sociedade engajada, que participa ativamente das decisões políticas e sociais, podemos garantir que o sonho de 1988 — o de uma democracia forte, inclusiva e verdadeiramente representativa — continue a ser uma esperança equilibrista, afinal, o show tem que continuar.

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