Eleições e ambiente de trabalho: a urgência de combater o assédio eleitoral 

O assédio eleitoral no ambiente de trabalho é uma prática que, apesar de recorrente e grave, é subnotificada

O ambiente de trabalho deve ser um espaço plural, de respeito, segurança e igualdade para todas as pessoas. No entanto, sabemos que nem sempre é isso que encontramos na realidade brasileira. Relatos de práticas de discriminação e assédio não são incomuns e podem ganhar outros contornos durante períodos eleitorais.

O assédio eleitoral ocorre quando empregadores ou superiores hierárquicos pressionam ou coagem seus funcionários a votar em determinados candidatos, candidatas ou partidos, ou a participar de campanhas políticas, sob a ameaça de demissão ou represálias. Esta prática não apenas viola direitos fundamentais dos trabalhadores, como também fere princípios básicos de governança corporativa e sustentabilidade, configurando um problema crucial sob a ótica ESG (Environmental, Social, and Governance).

Segundo dados apresentados por especialistas em um recente seminário realizado em Curitiba, foram registradas mais de 200 denúncias de assédio eleitoral nas últimas eleições, com um aumento significativo de casos em comparação aos anos anteriores. Vale ressaltar que o assédio eleitoral no ambiente de trabalho é uma prática que, apesar de recorrente e grave, é subnotificada. Este cenário acende um alerta para a necessidade urgente de medidas preventivas e educativas nas empresas.

O assédio eleitoral no ambiente de trabalho representa uma grave violação do pilar social do ESG. Este pilar enfatiza a importância das práticas laborais justas, do respeito aos direitos humanos e da promoção de um ambiente de trabalho seguro e inclusivo. O assédio eleitoral mina todos esses princípios, criando um clima de medo e intimidação, comprometendo a saúde mental e o bem-estar dos colaboradores.

Quando os funcionários são pressionados a adotar posições políticas específicas ou a participar de atividades eleitorais contra sua vontade, seus direitos fundamentais são violados. Além disso, esta prática pode gerar um ambiente de trabalho tóxico, onde a confiança entre empregadores e empregados é quebrada, e a motivação e o desempenho dos funcionários são negativamente impactados.

A governança corporativa, outro pilar do ESG, exige transparência, ética e responsabilidade nas práticas empresariais. Empresas que toleram ou incentivam o assédio eleitoral demonstram uma falha significativa em sua governança. A pressão política sobre os funcionários não apenas compromete a integridade ética da empresa, mas também pode levar a consequências legais e regulatórias graves, afetando a reputação e a sustentabilidade da organização.

Empresas comprometidas com os direitos dos seus trabalhadores, com os direitos humanos, democracias e princípios ESG devem adotar medidas proativas para prevenir o assédio eleitoral e proteger os direitos de seus colaboradores. Algumas ações práticas incluem a implementação de políticas internas que proíbam expressamente o assédio eleitoral e definam as consequências para aqueles que violarem essas normas; promover treinamentos educativos sobre os direitos dos trabalhadores durante o período eleitoral e sobre a importância de um ambiente de trabalho livre de coerção política; criar e divulgar canais confidenciais para que os funcionários possam reportar casos de assédio eleitoral sem medo de represálias; e fomentar uma cultura de respeito, inclusão e diversidade, onde os direitos e opiniões individuais sejam valorizados e respeitados.

A abordagem ESG não é apenas uma tendência passageira, mas uma necessidade urgente para as empresas responsáveis. Combater o assédio eleitoral no ambiente de trabalho é essencial para garantir não apenas um ambiente justo e seguro para todos os colaboradores, mas também para o fortalecimento democrático.

Os benefícios são tanto para os funcionários e funcionárias quanto para a sociedade, mas também para as próprias empresas. Ao proteger os direitos sociais e promover um ambiente de trabalho respeitoso e inclusivo, as empresas não apenas contribuem para a democracia e para a justiça social, mas também colhem os frutos de uma força de trabalho mais motivada e produtiva.

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima