Escritor Ronie Rodrigues destrói “Harmada” para criar “João”

Telaranha Edições lança novo livro de Rodrigues, um romance criado como um palimpsesto que guarda vestígios da obra de João Gilberto Noll


O novo lançamento da Telaranha Edições é um romance escrito por “arrancar páginas”. “João”, do artista, professor e escritor Ronie Rodrigues, surgiu do experimento de apagamento de outra obra: “Harmada”, de João Gilberto Noll. Com um corretivo, Ronie eliminou as palavras do livro de um de seus autores preferidos, do início ao fim, selecionando algumas que seriam poupadas, formando assim um texto completamente novo. O lançamento do título é no dia 14 de junho (sexta-feira), às 19h, na Livraria Telaranha em Curitiba.

A ideia surgiu de uma especialização em Escritas Performáticas que o escritor fez na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). O processo de destruição e criação seguiu padrões criados por Ronie. “Fui inventando algumas regras no decorrer da experiência: não podia inserir palavras, nem sinais, apenas apagar; e não podia apagar o nome João”, explica o artista. Dessa forma, o experimento se mostrou imprevisível para o próprio autor. Além da eliminação de palavras, Ronie também se permitiu trocar as páginas do livro original de lugar.

“Escrita fantasma”

De início, os novos textos se assemelhavam a cartas, mas no final revelaram-se no desenvolvimento de um romance. Assim, um livro foi apagado para que surgisse em seu lugar não uma coisa só, mas uma infinidade. “João” se tornou romance, mas também um experimento de escrita, um objeto de arte, uma obra epistolar e o fantasma daquilo que foi apagado. “Harmada”, apesar de ter sido desbotado, permanece como parte de João, com vestígios do que estava ali antes.

É por isso que Ronie compara o processo com um palimpsesto — prática adotada na Idade Média, que consistia na eliminação do texto de um pergaminho ou papiro para que ele fosse reutilizado. Mesmo assim, alguns dos textos anteriores permaneciam marcados no material, de maneira que foi possível recuperá-los em muitos casos.

O projeto de Ronie Rodrigues também contou com colaborações de alguns interlocutores, que deram ao autor impressões sobre o texto que estava nascendo. “Escrever, não por acúmulo, mas por subtração, por desejo de apagar e impossibilidade de apagar”, como explica a escritora do posfácio do projeto, Raïssa de Góes, sobre a experiência do livro que classifica como “escrita fantasma”.

Lançamento do livro “João”, de Ronie Rodrigues

Dia 14 de junho (sexta-feira), às 19h, na Livraria Telaranha (Rua Ébano Pereira, 269 — Centro, Curitiba). Preço de capa R$ 74, exemplares à venda no local.

Outras informações no site da editora.

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