No filme “Com amor e fúria”, algo terrível está prestes a acontecer

Em cartaz nos cinemas, produção francesa dirigida por Claire Denis tem algo a dizer sobre uma mulher que sempre tentou agradar os outros

Se puder, preste atenção na trilha sonora do filme “Com amor e fúria”. A trilha sonora é da banda inglesa Tindersticks, que fez outros filmes com a diretora Claire Denis, além desse. A música parece contar uma história diferente daquela que se passa na tela. Ela cria muito suspense, às vezes chama atenção demais e chega a distrair (e dizem que uma trilha sonora nunca deve fazer isso, mas aqui funciona). Enquanto, na tela, as imagens mostram uma vida a dois que parece feliz nos eventos cotidianos. Férias na praia, ida ao mercado, uns minutos na varanda. É como se dois filmes diferentes acontecessem ao mesmo tempo.

Porém, por causa da música, você não consegue evitar a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer. Há alguma coisa errada com aquela vida feliz, ou ela está a ponto de virar pó.

“Com amor e fúria”

O cenário é Paris, mas ele não é romântico como se poderia esperar. Logo fica claro que a história fala de um triângulo amoroso. Na verdade, um triângulo se forma em algum momento, mas ele é consequência das idas e vindas de Sara (Juliette Binoche), uma locutora de rádio que parece feliz com Jean (Vincent Lindon). Pelo menos até reencontrar François (Grégoire Colin).

Sara e François viveram juntos no passado. Ela o abandonou para ficar com Jean. Quando se ama muito alguém, o sentimento não desaparece nunca, diz Sara. Para complicar, os dois homens são amigos, ou eram. E agora, nove anos depois, François ressurge com uma proposta de emprego para Jean. Essa proposta é difícil de recusar porque Jean é um ex-presidiário – não fica claro qual foi o crime, mas há sinais de que teve a ver com negócios, algo como estelionato ou fraude.

À francesa

Até aqui, dá para perceber que a história não é trivial – o roteiro da diretora Claire Denis adapta o livro “Un tournant de la vie” [Uma virada da vida], de Christine Angot. O crime de Jean, a volta de François e mais um caminhão de coisas que não são ditas pelos personagens, mas que podem ser deduzidas, reforçam o clima de tensão. A principio, você pode achar que é uma história de amor e traição à francesa, em que os envolvidos encaram a situação de maneira blasé. Todos ali tem bem mais de 50 anos e parecem vividos. Se ela não quer mais saber de mim e prefere dormir com outro, très bien.

Mas aí algo sutil, como um silêncio constrangedor ou uma conversa truncada, dá a entender que os personagens podem explodir a qualquer momento. Jean está longe de ser blasé. O mesmo pode ser dito de Sara. (O que explicaria a fúria do título.)

Sara não sabe muito bem o quer e, a certa altura, desabafa que passou a vida fazendo aquilo que os outros queriam que ela fizesse. Nesse contexto, o desfecho diz algo interessante sobre essa mulher que sempre tentou agradar os outros.

Mas, até o fim, “Com amor e fúria” deixa o público sentado na beira da poltrona, sem saber o que esperar.

Onde assistir

“Com amor e fúria” está em cartaz no Cineplex Batel, do Shopping Novo Batel.

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