Tudo o que Lucas Mota quer é “continuar escrevendo histórias raivosas” 

O punk vencedor do Jabuti fala sobre o lançamento da 1ª edição impressa do livro "Olhos de pixel", que acontece nesta quinta-feira (16) em Curitiba

Ganhar o maior prêmio da literatura brasileira aos trinta e poucos anos e com um livro eletrônico já é um feito que parece saído de algum enredo ficcional, mas foi só o começo para Lucas Mota. O punk que venceu o Jabuti 2022 com “Olhos de pixel” irá lançar a primeira edição impressa da obra (agora publicada pela Rocco) nesta quinta-feira (16), às 19h, com bate-papo e sessão de autógrafos na loja Livrarias Curitiba do Park Shopping Barigui. 

“Olhos de pixel” é uma ficção científica brasileira que narra a história fantástica de uma queer em busca do amor do filho, enquanto enfrenta conservadores e fanáticos religiosos em uma Curitiba distópica e futurista. O livro não foi a estreia na literatura, contudo deu uma bela virada no enredo da vida de Mota. 

Lucas Mota

Às vésperas do lançamento e no meio do turbilhão de emoções que surge com os preparativos, o escritor parou para conversar com o Plural e confessou o quanto estava enganado ao pensar que “nada ia mudar” com o prêmio. Ele também falou do nascimento da primeira filha, de histórias de rock n’roll e sobre a vontade de “continuar escrevendo histórias raivosas” sobre coisas que o incomodam. Confira a íntegra da entrevista com Lucas Mota a seguir.

Leia também: Perfil: Lucas Mota, o escritor “punk” que venceu o Jabuti 2022 com distopia curitibana

“Olhos de pixel” foi publicado em 2021 e ganhou o Prêmio Jabuti de melhor romance de entretenimento em novembro de 2022. De lá para cá, o que mudou na sua vida? 

Quando ganhei o prêmio, lembro de ter comentado com um amigo que “nada ia mudar”. Ele riu da minha cara e disse que eu não estava entendendo as coisas ainda. Preciso admitir que ele tinha razão, de lá pra cá mudou praticamente tudo em minha vida. Na parte profissional, a primeira conquista foi a assinatura de contrato com uma das maiores agências literárias do Brasil, a MTS Agência. Hoje sou representado pela Camila Werner, que é uma agente incrível que cuida de toda a parte de envio de original, contratos, e me dá umas dicas super valiosas sobre o mercado literário. Sem ela eu não saberia como navegar essas águas. Na prática, isso significa que agora meus manuscritos chegam com maior facilidade nas grandes editoras.

Na vida pessoal aconteceu algo ainda mais marcante: nasceu a minha filha, Madalena. Ela está com nove meses agora. Isso mudou tudo. Agora nada é mais importante do que a Madalena. A escrita deixou de ser o meu grande projeto de vida e se tornou apenas um caminho para atingir o verdadeiro projeto, que é criar a Madalena da melhor forma que eu conseguir em meio a esse caos que a gente chama de mundo.

Como foi a entrada na Rocco? Outras editoras procuraram você?

Foi a minha agente quem cuidou disso tudo. Ela reuniu três manuscritos meus e entrou em contato com as editoras que tinham mais a ver com o que eu escrevo. O processo todo levou alguns meses, no final, a Rocco fez uma oferta para dois manuscritos. Um deles é “Olhos de pixel”. Outras editoras me abordaram sim, mas deixei isso direto com a Camila. 

Qual a expectativa para o lançamento de “Olhos de Pixel”, agora impresso, em Curitiba? Essa nova edição já foi lançada em outras praças?

Estou muito nervoso [risos]. É um livro que foi lançado em e-book e já até ganhou prêmio, mas é a primeira vez que eu saio do cenário independente e vou para uma grande editora e uma grande livraria fazer um lançamento. Apesar de fazer quase uma década que estou na literatura, sinto como se este fosse um novo momento. Por isso, o frio na barriga é inevitável. O livro já está disponível nas livrarias do Brasil todo, e agora vai ganhar o lançamento oficial. Eu adoraria repetir o evento em outros lugares do Brasil. Quem sabe…

Houve alguma mudança no texto do romance distópico para a versão que sai do prelo pela Rocco?

Pouquíssima coisa mudou. Acho que os leitores nem irão perceber, coisa de revisão mesmo, pequenas correções. A novidade é uma cena extra, que está no epílogo. Ela não muda em nada a trama e nem o final, mas é uma curiosidade muito interessante que responde um dos mistérios que eu deixei no livro de propósito.

Na época da premiação, você falou que tinha cinco romances na gaveta (prontos e ainda não publicados). Qual o próximo que deve chegar às mãos dos leitores?

Eu assinei para dois romances na Rocco. O primeiro é “Olhos de pixel”. O outro se chama “Moeda de troca” e está prometido ainda para 2024, sem data definida. É uma fantasia urbana com a mesma pegada revoltada e acelerada de “Olhos de pixel”, contudo, dessa vez o protagonista é um trabalhador precarizado, um entregador de aplicativo que um dia por acidente descobre que possui poderes mágicos, algo que até então era exclusivo de pessoas ricas. É claro que isso vai colocar um alvo gigante nas costas dele.

Como estão os planos e o trabalho de escrita para novos livros? Está escrevendo algo novo? 

Estou com um manuscrito muito legal que é a realização de um sonho: escrever uma história sobre rock n’roll. Na hora certa também pretendo levar ele para as livrarias. E, no momento, estou escrevendo minha primeira utopia, que se passa no interior do paraná na cidade em que nasci: Umuarama. Isso é tudo o que eu posso falar por enquanto.

O que está mudando no olhar do escritor Lucas Mota com a chegada da primeira filha? O nascimento dela fortaleceu o interesse de escrever mais sobre utopias do que continuar nas distopias?

Eu já estava fazendo esse movimento de diminuir as distopias e focar em utopias, pelo menos durante alguns projetos. O que aconteceu com a chegada da Madalena é que, agora, o tempo de escrita ficou mais escasso, até porque minha prioridade é, e sempre será, cuidar da minha filha. No dia a dia significa que eu espero ela dormir pra sentar e escrever [risos].

Existem projetos para além da literatura? Tem se interessado por algo além da escrita literária? 

Estou trabalhando em roteiros para audiovisual junto com meu novo cúmplice, João Ferian, da Black Horse Filmes. Também passei os últimos meses produzindo uma série de oficinas de escrita online, com material para autores iniciantes e avançados, que deve abrir turmas no próximo mês. Além disso, estou muito interessado em trabalhar com história em quadrinhos também.

E a comunidade da ficção científica e fantasia do Brasil, continua firme e forte ao seu lado? Como anda o seu envolvimento e a participação dos leitores desse grupo no seu dia a dia? 

Seguimos bem próximos. A mudança mais nítida foi o carinho dos leitores e colegas que estão comigo desde o começo, que comemoraram cada conquista como se fosse uma vitória do Brasil na copa do mundo: o Jabuti, a assinatura com agência co literária e, por último, a Rocco. Cada anúncio que fiz nas redes foi recebido como se fosse uma conquista coletiva. De certo modo é isso mesmo. Quando um de nós, do cenário fantástico independente, consegue uma oportunidade, todos nós ficamos com as esperanças renovadas. Eu vi e comemorei isso várias vezes quando aconteceu com colegas nos anos anteriores. Agora chegou a minha vez, e me sinto honrado e agradecido por esse momento, não vejo a hora de acontecer com ainda mais colegas.

Como você vê a produção do gênero na época em que ganhou o Jabuti, hoje e daqui para frente? 

Eu não sou teórico e nem acadêmico, mas tenho visto uma nova leva de autores de ficção fantástica que conseguiram boas oportunidades e visibilidade nos últimos anos. Gente como Carol Chiovatto, Fernanda Castro, Paola Siviero, Giu Domingues, Thiago Lee, Ian Fraser, isso é só pra citar alguns, assim de cabeça. Esse pessoal está aí faz tempo, escrevendo coisas muito interessantes, e hoje cada um colhe os resultados de seu trabalho em alguma editora de grande porte. Se você entrar na livraria e perguntar pros vendedores sobre qualquer um desses nomes, vai ter algum livro deles disponível por lá. Isso faz com que a fantasia e ficção científica brasileiras contemporâneas estejam cada vez mais acessíveis. Minha aposta é que na próxima década veremos cada vez mais nomes e livros de fantasia e ficção científica brasileiros nas grandes editoras e livrarias.

E para o seu futuro como escritor a partir deste lançamento, o que espera?

Esse livro nasceu de forma independente, foi publicado por uma editora independente em e-book e acabou ganhando o principal prêmio literário do Brasil. Agora temos a chance de lançar ele em uma livraria através de uma das maiores editoras do país. Pra mim isso tudo é surreal. Na minha cabeça eu ainda sou o punk sujo do largo da ordem que gosta de escrever ficção científica e fantasia. Todas essas conquistas e oportunidades me deixam muito agradecido. Tudo o que eu quero é continuar escrevendo histórias raivosas sobre as coisas que me incomodam. E “Olhos de pixel” é a síntese de tudo isso.

Lançamento do livro “Olhos de pixel”

Evento com presença do autor para bate-papo e sessão de autógrafos.

Dia 16 de maio (quinta-feira), às 19h, na loja Livrarias Curitiba do Park Shopping Barigüi (Loja T17 – Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 600 – Mossunguê). Entrada gratuita, exemplares à venda no local. 

“Olhos de pixel”

Autor: Lucas Mota

272 páginas

Preço de capa R$ 59,90

Publicado pela Editora Rocco

Sobre o/a autor/a

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