Fundo Eleitoral e empresários financiaram candidatos à Prefeitura de Curitiba em 2020

Dinheiro público e empresários condenados por crimes contra a administração pública financiaram as campanhas milionárias pela prefeitura de Curitiba

Curitiba terá mais uma disputa eleitoral este ano. Com o mandato de Rafael Greca (PSD) chegando ao fim sem a possibilidade de reeleição, a disputa pela prefeitura deve ser acirrada. Já em 2020, quando Greca era candidato a reeleição a cidade teve 16 candidatos e candidatas ao cargo e um total de R$ 20,2 milhões gastos oficialmente na campanha.

O Plural conta agora quem (pelo menos oficialmente) patrocinou a disputa passada na cidade. Afinal, entender o passado é importante para entender o que esperar o futuro.

Os dados são da Justiça Eleitoral, a quem candidatos e partidos precisam prestar contas. Oficialmente, as campanhas podem ter receitas de doações de pessoas físicas, incluindo campanhas de financiamento coletivo, recursos dos próprios candidatos, doações de partidos e outros candidatos, venda de produtos e receita de eventos de arrecadação de recursos e recursos dos partidos políticos, o que inclui os valores do fundo eleitoral e do fundo partidário.

As receitas das campanhas precisam ser depositadas na conta bancária da candidatura, que é informada à Justiça Eleitoral. Há também a possibilidade de doações em serviços e produtos, cujo valor é estimado e também declarado à Justiça.

Fundo eleitoral e recursos partidários

Dos R$ 20,2 milhões de reais declarados à Justiça pelas campanhas dos que disputaram a Prefeitura de Curitiba em 2020, 84% veio de fundos públicos. O financiamento público de campanhas ganhou força a partir de 2015, quando a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4650, proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil, foi julgada pelo Supremo Tribunal Federal.

O STF declarou a inconstitucionalidade das doações de empresas às campanhas por entender que isto feria o princípio de isonomia. Na prática, o que aconteceu foi que o STF entendeu que a atuação de empresas nas campanhas prejudicava o equilíbrio de forças na disputa eleitoral.

Em Curitiba, dos 16 candidatos à prefeitura, apenas um não teve recursos públicos na campanha: o candidato do Novo, João Guilherme Oliveira de Moraes. O Novo, na época, ainda aderia a regra de não receber recursos públicos para campanhas. Dos R$ 1,6 milhão que declarou de receita à Justiça, R$ 1,2 milhão veio do próprio candidato.

Já Rafael Greca teve, entre os demais, o menor percentual de recursos públicos na campanha: 65%. Greca declarou R$ 3,8 milhões em receitas, das quais R$ 2,5 milhões vieram do fundo eleitoral.

Apesar de eleito, Greca não foi o candidato mais “rico” da campanha. Esse título ficou com Fernando Francischini, na época no PSL, que teve R$ 5,6 milhões, valor que veio quase que integralmente dos fundos públicos. A candidata Christiane Yared, do PL, ficou em terceito lugar, com R$ 3 milhões, também quase que totalmente com origem em recursos públicos.

Empresários

Entre as doações de pessoas físicas às campanhas, a maior foi de José Isaac Peres, fundador e ex-CEO da Multiplan, uma das maiores empresas gestoras de shoppings e estacionamentos do país. Peres doou R$ 80 mil para Rafael Greca. Em Curitiba a Multiplan opera o ParkShopping Barigui.

Em segundo lugar está o empresário Antônio José Carvalho dos Santos, que doou R$ 70 mil para João Guilherme, do Novo. Ele é sócio da Cassi Carvalho e Silva Construtora e Incorporadora Ltda, CTR Administradora de Bens, Macanamo Import Export, do Posto Leunam e Horca Materiais de Construção.

Outra doação de R$ 70 mil foi para João Guilherme. O dinheiro veio de Edson Antônio Lenzi Filho, diretor da Pay Brokers, consórcio que venceu a licitação para gestão das loterias do Paraná num processo licitatório que está sob análise do Tribunal de Contas do Estado.

Em terceiro lugar entre as maiores doações estão empatados Andre Paulozzi Villar, Ricardo Bellon Junior, Carlos Alberto Bottarelli e Odenir José Sanches, todos doadores de R$ 50 mil cada para a campanha de Rafael Greca. Villar é sócio das empresas Hlafer Comércio de Alimentos, Trusteee Corretora de Seguros, Villar e Rocha Holding, F&A Consultoria e Tacs Triunfo Administradora de seguros.

Já Bellon Júnior foi condenado por formação de cartel na licitação de construção da Linha 5 do Metrô de São Paulo por parte do consórcio Heleno & Fonseca Construtécnica S/A e Tiisa – Triunfo Iesa Infra-Estrutura S/A em 2018. Carlos Alberto Bottarelli é presidente da Triunfo Participações e Investimentos S.A. Odenir José Sanches é diretor-presidente da Triunfo Concebra, da qual a Triunfo Participações é parte. O consórcio opera 1,2 mil quilômetros de rodovias em Minas Gerais, Goiás e no Distrito Federal.

Recursos dos próprios candidatos

Como já citado, o candidato que mais colocou recursos próprios na campanha de 2020 foi o médico oftalmologista João Guilherme, do Novo: R$ 1,2 milhão. Guilherme era também o candidato mais rico (segundo valores de bens declarados à Justiça) naquela disputa.

A contribuição dos demais candidatos foi mais modesta. Christiane Yared (PL) doou R$ 41,2 mil para a própria campanha, únicos recursos recebidos de pessoa física. Entre os demais, Renato Mocelin (PV), investiu R$ 5 mil, José Boni (PTC) R$ 4,4 mil, Eloy Casagrande (Rede) R$ 750 e Letícia Lanz R$ 12,90 nas próprias campanhas.

No total, as doações dos próprios candidatos representaram 6% dos recursos declarados à Justiça eleitoral.

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