Jogo duplo de Bolsonaro causa mal-estar na campanha de Pimentel e antecipa racha de 2026

Presidente disse que votaria em Cristina Graeml, apesar de ter indicado o vice de Pimentel. PL de Curitiba ignora eleição para prefeito

O vídeo-chamada de Cristina Graeml (PMB) com Jair Bolsonaro, divulgado no sábado, casou mal-estar na campanha do vice-prefeito e candidato do PSD à prefeitura, Eduardo Pimentel. O vídeo em que o ex-presidente recomenda voto em Graeml pode ter ajudado a candidata a chegar às eleições do segundo turno em Curitiba e expôs um racha na direita brasileira, antecipando a disputa presidencial em 2026.

Um dos mais abalados na campanha de Pimentel seria o candidato a vice Paulo Martins, que em 2022 concorreu ao Senado e andou na garupa do então presidente durante “motociata” em Curitiba. Pimentel, em entrevista no domingo à noite, disse apenas que ele e Bolsonaro fazem parte do “mesmo espectro político nacional”. “Eu não tenho problema nenhum em dizer que tenho o apoio do presidente Bolsonaro dentro do partido dele, o PL”.

Na ligação divulgada por Graeml, Bolsonaro disse torcer pela candidata do PMB na disputa em Curitiba, apesar de o PL integrar a coligação de Eduardo Pimentel e de o ex-presidente ter indicado Paulo Martins como vice. “Eu não abro voto pra você, você sabe por quê, você sabe que eu tenho por você uma tremenda consideração, torço por você e ponto final”, afirmou Bolsonaro.

O ex-presidente ainda insinuou para Cristina Graeml que “o outro lado” divulgou um vídeo dele apoiando outro candidato. Mas o único vídeo em que Bolsonaro aparece falando sobre a disputa de Curitiba foi compartilhado pela campanha de Pimentel e pelo próprio Paulo Martins. No vídeo, Bolsonaro fala ao lado de Pimentel, Martins e do governador Ratinho Júnior, mas em nenhum momento pede voto para o atual vice-prefeito.

Na conversa com Cristina Graeml, ele chega a insinuar que vídeos em que demonstra apoio a outro candidato seriam “fake news”. “Para combater fake news você tem que ser contundente. Por que você não faz a mesma coisa com a tua foto e bota ‘Jair Bolsonaro recomenda: vote para Cristina Graeml prefeita de Curitiba?’ Ponto final. Não escreveram que eu tô recomendando um vídeo que é mentiroso? Bota o outro vídeo, bota embaixo ‘recomendo que vote em Cristina Graeml’ e ponto final. Quem fez isso aí tá de sacanagem, é do outro lado”.

2026 na mira

O jogo duplo de Bolsonaro tem a ver com a disputa presidencial de 2026. Ele e o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, estão preocupados com crescimento do PSD no cenário político nacional. Liderado pelo ex-ministro Gilberto Kassab e maior vencedor do primeiro turno das eleições municipais deste ano, com 878 prefeitos eleitos, o PSD poderá chegar em 2026 como maior partido da direita no país. O PL elegeu 510 prefeitos, atrás ainda do MDB (847), do PP (743) e do União Brasil (578).

O apoio de Bolsonaro a Cristina Graeml teria como objetivo enfraquecer o PSD do governador Ratinho Júnior. Aliado do ex-presidente desde as eleições de 2018, Ratinho aparece como um dos principais presidenciáveis do PSD, que não esconde a pretensão de lançar candidato próprio em 2026. Em junho, o governador do Paraná foi mostrado como uma das principais figuras da legenda na propaganda do partido na TV. O PSD apresentou o que chamou de “Método Paraná, que faz mais com menos”.

“Covardia e omissão”

Quem reagiu duramente ao jogo duplo de Bolsonaro foi o pastor Silas Malafaia. Em entrevista aos jornais Estadão e Folha de S. Paulo, ele criticou a indefinição do ex-presidente nas eleições em São Paulo (onde apoiava oficialmente Ricardo Nunes, mas sinalizou apoio a Pablo Marçal) e em Curitiba. “Em São Paulo em cima do muro. No Paraná, tendo candidato a vice, declarou para a mulher lá (Cristina Graeml) ‘pode usar meu nome’. Sinalizou duplamente. Gente, isso não é papel de um líder da direita de nível maior. Eu apoio Bolsonaro. Mas eu já disse: eu sou aliado, e não alienado”, afirmou Malafaia.

O líder religioso disse ainda que Bolsonaro foi “covarde” e “omisso”. “Entra na redes de Bolsonaro e dos filhos dele, não tem uma palavra sobre São Paulo, é como se a eleição de São Paulo não existisse. Que porcaria de líder é esse?”, questionou. “Covarde e omisso, se baseia em redes sociais, não quer se comprometer”. 

PL de Curitiba em silêncio

Na capital paranaense, lideranças bolsonaristas filiadas ao PL, que oficialmente apoia Eduardo Pimentel, também silenciaram sobre a disputa no primeiro turno. Em suas redes sociais, o vereador reeleito Eder Borges (PL) nem cita a eleição para prefeito: ele prefere se mostrar como “inimigo número 1 do PT em Curitiba” e divulgar frases inconsistentes sobre o que chama de “doutrinação em sala de aula”.

O vereador Rodrigo Reis, que ficou na suplência do PL, é outro que silenciou sobre a disputa para prefeito na capital paranaense. Em usa seus perfis para criticar o ministro do STF Alexandre de Moraes e “denunciar” pichações na UFPR, apontadas como um grande problema. O deputado Ricardo Arruda, que tentou articular sua candidatura a prefeito pelo PL, também vem ignorando a eleição municipal. Arruda prefere chamar o presidente de Lula de “canalha” e “noticiar” que Alexandre Moraes será denunciado por “tortura”.

Eleita pela vereadora pela primeira vez, a presidente do PL Mulher no Paraná, Carlise Kwiatkowski, é outra que ignorou a candidatura de Pimentel. Ela publica fotos com Jair Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michele Bolsonaro e propaga o discurso bolsonarista, mas também optou por ignorar a eleição para prefeito.

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