Proposta de Cristina Graeml para o transporte público deve aumentar custos para empresas

Cobrar usuário por quilômetro poderá afetar empresas, que são obrigadas a arcar com o custo do transporte quando ele ultrapassa 6% do salário do empregado

A proposta da candidata à prefeitura Cristina Graeml (PMB) deve aumentar o custo do transporte coletivo para trabalhadores e empresas em Curitiba. A ideia da candidata é cobrar do passageiro por quilômetro rodado, o que elevaria a tarifa para grandes distâncias e poderia pesar no bolso das empresas, levando até a demissões. Além disso, empresas e escritórios de contabilidade teriam que se ajustar para fornecer os valores referentes ao vale-transporte de acordo com a distância percorrida pelo trabalhador. 

O valor único da tarifa é de R$ 6 na cidade, independentemente da distância percorrida. A distância entre a Cidade Industrial de Curitiba e o centro da cidade, por exemplo, é de 12 quilômetros. Já a distância do Tatuquara à região central chega a 20 quilômetros. Caso a proposta seja implementada, quem vive em dos bairros próximos, como Cabral, Alto da Glória e Mercês, pagará menos do que moradores dessas regiões.

Pela CLT, as empresas devem arcar com o custo do transporte quando ele ultrapassa 6% do salário do empregado. Se a passagem for cobrada pela distância percorrida, existe a possiblidade de moradores de bairros afastados passarem a custar mais para as empresas, o que poderá gerar demissões e levar a um processo de substituição desses trabalhadores por pessoas que moram em regiões mais próximas dos locais de trabalho.

Medida pode prejudicar 78% dos usuários

Matéria publicada nesta quarta-feira (16) pelo Plural mostra que cobrar pela distância percorrida poderá deixar tarifa mais cara para 78% da população da cidade. Segundo a última Pesquisa de Origem-Destino do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) disponível, nos bairros mais distantes o percentual da população residente que usa o transporte coletivo é o dobro dos bairros mais centrais. 

A promessa de Graeml é reduzir o valor da tarifa básica, o que vai depender da licitação que será feita no próximo ano, quando vencem os contratos com a empresas que prestam o serviço atualmente. Neste ano, o déficit acumulado do sistema – a diferença entre o valor arrecadado na catraca e o pago às empresas concessionárias – é de R$ 100 milhões. Além disso, a candidata pretende implementar a integração temporal, possibilitando utilizar mais de uma linha com apenas uma passagem.

Curitiba terá transporte gratuito no segundo turno

Cristina Graeml foi sabatina na manhã desta quarta-feira (16) na Associação Comercial do Paraná (ACP), mas a proposta não foi citada. Ao ser questionada sobre mobilidade urbana, ela disse que a prioridade será investir no VLT (veículo leve sobre trilhos). O Plural entrou em contato com a ACP para saber se a entidade tem alguma posição em relação à cobrança por quilômetro, mas não houve retorno até o momento.

O tema foi discutido no debate da Band, na última segunda-feira (14). O candidato Eduardo Pimentel (PSD) criticou a proposta. “Você que mora no Tatuquara, no Sítio Cercado, na CIC, no Boqueirão, no Cajuru, no Atuba, no Bairro Alto, no Santa Cândida. Através da proposta dela, que está escrita, você vai pagar mais pela passagem de ônibus para chegar no Centro da cidade do que quem mora no Batel e vai par ao Centro da cidade”, afirmou Pimentel.

Cristina Graeml confirmou o plano e disse que seu plano é estimular as pessoas a “empreender e trabalhar” mais perto de suas casas (apesar de sua campanha se dizer contra a inferência do poder público na economia). Ela disse ainda que pessoas idosas “insistem em morar no Centro” e confirmou que pretende cobrar mais de moradores da Região Metropolitana de Curitiba, que vêm até Curitiba “para usar o nosso sistema de saúde”.

“Esses trabalhadores vão ser estimulados a empreender e a trabalhar mais perto de suas casas. O que a gente quer implantar é um sistema justo para aquele idoso que ainda insiste em morar na cidade. Esse morador do Centro que vai até o  Alto da Glória, até o Cristo Rei, um bairro mais próximo do Centro, ele paga a mesma passagem que um morador da Região Metropolitana para usar o nosso sistema de saúde inclusive”, disse Cristina Graeml no debate da Band.

O Plano de Governo da candidata prevê a cobrança proporcional ao uso. “Buscaremos a implementação de cobrança de passagens proporcionais ao uso do transporte público, incentivando o uso racional e garantindo maior justiça tarifária. Além disso, buscaremos a adoção do modelo de integração temporal, permitindo que os usuários façam múltiplas viagens com uma única tarifa dentro de um período determinado”, diz o documento.

Periferia usa ônibus duas vezes mais que o Centro

A advogada Dani Biondo Crocetti, que concorreu a vereadora nas eleições deste ano, gravou um vídeo sobre o assunto. “Você, empresário que tem funcionários em todos os bairros de Curitiba, ou você que tem uma empresa na Região Metropolitana e que os seus empregados vêm de Curitiba. Imagine como você vai fazer o cálculo do vale-transporte. Imagine o quão funcional seria esse sistema de ônibus para o nosso município”. 

“Você, empresário que tem mais de 200 empresários e que tem pagar vale-transporte, terá que calcular quem mora em qual bairro e qual vai ser o valor da passagem para cada nicho. Como você vai botar isso na folha de pagamento e o impacto disso na folha de pagamento? Imagine encaixar esse troço na CLT.”


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