A Pay Brokers EFX, parte do consórcio que venceu a licitação para implementar e operar o sistema da loteria estadual do Paraná, está na mira da Comissão Parlamentar de Inquérito instaurada pela Câmara dos Deputados para investigar a manipulação de resultados em partidas de futebol, a CPIFUTE.
O certame conduzido pela Secretaria de Estado da Administração e Previdência (Seap), do qual a Pay Brokers EFX foi a única participante, foi questionado por uma auditoria do Tribunal de Contas. O governo rechaça qualquer irregularidade. A Pay Brokers afirmou que foi convocada apenas como condição de testemunha e nega que que esteja sendo investigada pela CPI.
Mas no documento em que pede quebra de sigilo bancário das movimentações da empresa e também dos sócios, Thiago Heitor Presser e Edson Antonio Lenzi Filho – nomeado como administrador do consórcio vencedor da Lottopar –, o deputado Luciano Vieira, do PL do Rio de Janeiro, justifica a solicitação “a fim de investigar possíveis práticas criminosas na movimentação financeira” de apostas. Outra empresa é citada no mesmo requerimento e também associada às possíveis irregularidades.
A Pay Brokers é fornecedora de soluções de pagamento e atua, principalmente, para atender sites internacionais que precisam processar pagamentos de usuários brasileiros, como é o caso de sites de apostas que explodiram nos últimos anos.
No documento, que está público no site da Câmara, o parlamentar afirma que a possibilidade de fraudes “faz inferir que houve prática de transações financeiras diversa dos padrões convencionais e legais, restando a esta Comissão lançar mão deste expediente na busca de esclarecimentos acerca da movimentação financeira”.
Segundo o deputado, a quebra de sigilo foi um recurso acionado porque “não haveria outra possibilidade de buscar, no rastro das ações perpetradas através desta Empresa, a apuração dos ilícitos praticados, notadamente aqueles relacionados com a possível utilização dos recursos recebidos das apostas para atividades de contravenção penal”.
O pedido não deixa claro quais teriam sido as supostas ilegalidades encontradas. A reportagem entrou em contato com o gabinete de Viera na manhã desta terça-feira (20), que corroborou a existência de suspeitas pelo fato de a Pay Brokers ser uma das plataformas que recebe dinheiro das apostas com a responsabilidade de enviar os valores para as empresas de aposta sediadas fora do país.
O requerimento foi apresentado no último dia 6 de junho, mas ainda não foi votado.
Edson Antonio Lenzi Filho e Thiago Heitor Presser também são sócios de outra empresa do consórcio que vai gerenciar a plataforma de apostas das Loterias do Estado do Paraná, a Pay Brokers IP. Presser, por sua vez, aparece entre os sócios da Podium Participações, empresa de gestão de ativos e imóveis com diversos nomes ligados ao Cascavel Futebol Clube também incluídos na rede societária.
Em nota enviada pela reportagem, o consórcio ressaltou que “a PayBrokers EFX foi convidada, na condição de testemunha, para ser ouvida na CPIFUTE”. “Não houve deferimento de nenhum requerimento da empresa enquanto investigada na referida CPI. Importante destacar que diversas outras empresas do setor de pagamentos que atendem o segmento de apostas esportivas também foram convidadas para comparecer à CPI, de modo a colaborar com o procedimento”
Os sócios da Pay Brokers EFX já haviam sido convocados pela CPIFUTE em outras ocasiões.
Em requerimento do mesmo deputado, Luciano Vieira, foi proposta no dia 18 de maio a convocação de ambos “na condição de testemunhas” e para “colher informações que contribuirão substancialmente para o desenvolvimento dos trabalhos” da CPI.
Um dia depois, outro documento pediu a convocação de Lenzi Filho, Presser e também de Henrique de Oliveira Moreira – como sócios da Betfair – “para prestar esclarecimento sobre fatos relacionados com a manipulação das partidas de jogos de futebol, objeto de investigação desta CPI”.
Em entrevista publicada em 12 de junho pelo portal iGaming Brazil, Edson Lenzi afirmou que, até então, não havia recebido nada formal da Câmara, mas afirmou ter ficado feliz com o convite. “A gente fica muito feliz até por ter sido chamado e para que os operadores e players desse mercado possam conversar com o governo, possam esclarecer o funcionamento do mercado, possam demonstrar as regras de segurança e tudo mais”, disse.
À jornalista ele informou que atualmente estão integradas à Pay Brokers mais de 500 sites, embora entre 275 e 280 deles estejam processando efetivamente.
Loterias do Paraná
Na entrevista, o executivo também citou a participação na licitação das loterias do Paraná. Ele afirmou que a adesão da empresa ao certame foi “um grande desafio” devido às especificidades do edital.
“A Lotepar foi um grande desafio porque as exigências são muito maiores do que o sistema que a Pay Bbrokers fornece hoje. A gente precisou fazer consórcio com uma empresa indiana que já tem essa expertise para o sistema próprio de loteria, e o meio de pagamento acaba sendo acoplado”.
Uma auditoria interna do Tribunal de Contas levantou questionamentos sobre a licitação. O relatório de fiscalização da 4ª Inspetoria de Controle Externo da Corte de Contas, ao qual o Plural teve acesso, sustenta que a maioria das falhas encontradas no edital são de “natureza grave” e que, da forma como foram redigidas, as regras restringiriam “ilegalmente a competitividade do certame”. A licitação, de fato, teve apenas uma empresa participante. O governo do Paraná negou qualquer desvio.
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