Famílias denunciam maus tratos e pedem saída de diretor da PCE

Protesto contra tratamento dispensado a presos em Piraquara, na Grande Curitiba, será realizado dia 8, em frente ao Palácio Iguaçu

Reportagem publicada primeiro na Rede Lume

Familiares de pessoas presas na Penitenciária Central do Estado (PCE) de Piraquara vão fazer um protesto dia 8 de agosto, a partir das 13 horas, em frente ao Palácio Iguaçu, em Curitiba, para denunciar a prática de tortura dentro da unidade e pedir a saída do diretor Olival Monteiro.

Segundo as famílias, desde que Monteiro assumiu a PCE, a situação dos detentos piorou muito. O diretor já foi alvo de protesto pelos mesmos motivos quando estava à frente da Casa de Custódia de São José dos Pinhais, conforme mostrou o jornal Plural em março do ano passado.

Na semana de 15 de julho, segundo relatam os familiares, os detentos de Piraquara passaram o dia inteiro só de cuecas, sob chuva e muito frio, no pátio da unidade. Um deles reclamou e teria apanhado, necessitando de atendimento em hospital.

As famílias organizaram um abaixo-assinado digital pedindo providências ao governo do Estado contra os maus-tratos na PCE.

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Elas dizem que os detentos estão recebendo comida estragada e que pertences como meias e cobertas foram “confiscadas” pela direção.

Agentes da Seção de Operações Especiais (SOE) estariam promovendo vistorias agressivas, machucando os internos e quebrando seus pertences.

“Estamos desesperados e não sabemos mais a quem recorrer, enquanto a situação só piora lá dentro”, afirmou uma familiar que prefere não se identificar. Ela diz ter feito uma visita à unidade na semana passada e presenciado um dos presos subir numa cadeira, pedir a atenção de todos que estavam no pátio, e denunciar os maus-tratos. “Ele se arriscou muito porque os agentes falam lá dentro que quanto mais as famílias reclamam, mais represálias eles vão sofrer”, conta.

Questionada a respeito das denúncias, o Núcleo da Política Criminal e da Execução Penal da Defensoria Pública do Estado do Paraná (Nupep) enviou uma nota à reportagem dizendo que foi acionado pelos familiares e que solicitou mais informações ao Departamento de Polícia Penal (Depen) do Estado do Paraná. A Defensoria diz que “analisará as medidas cabíveis”.

Abaixo-assinado criado pelas famílias/Reprodução

Preso é hospitalizado inconsciente e família não é informada

Entre os presos da PCE de Piraquara está o filho de Maria Zélia Padilha de Oliveira. Ela alega que, na sexta-feira (23), foi visitar o rapaz, quando recebeu a notícia de que ele estava hospitalizado. A assistente social do presídio, segundo a dona de casa, afirmou que não sabia o motivo da internação e nem para qual hospital ele havia sido levado.

Uma parente da dona Maria Zélia ligou várias vezes para a PCE na sexta-feira e no final de semana em busca de notícias, sem sucesso. Na segunda-feira, a família recebeu uma ligação do Hospital do Cajuru avisando que o rapaz estava lá. “A assistente social do Cajuru ligou para mim e informou que meu piá estava lá, internado, desfalecido”, conta.

Quando foi ao hospital, soube que o filho foi deixado lá pelos policiais. Os médicos disseram que não sabiam o que havia acontecido com ele, que chegou com ferimento na cabeça e inconsciente. “O médico foi bem claro que só jogaram o piá que nem cachorro lá, com a cabeça tudo sangrando. Fizeram duas cirurgias porque o cérebro estava muito inchado.”

O rapaz, de acordo com a mãe, está intubado e com risco de morte. “O médico falou que, se ele sobreviver, ele pode ficar acamado, usando fralda, ou na cadeira de roda.”

A mãe reclama do fato de o Estado não explicar o que ocorreu com o rapaz. Familiares de outros presos disseram que o rapaz sofreu uma queda após tomar uma “medicação forte”. “Eu quero uma resposta do Estado. Eu preciso dessa resposta, eu sou mãe.”

Deppen nega maus-tratos

A assessoria de imprensa do Departamento de Polícia Penal do Estado do Paraná (Deppen) enviou nota à reportagem negando a prática de maus-tratos na PCE. Segundo o órgão, as operações de revistas da SOE são rotineiras no sistema prisional e seguem o princípio da legalidade e da dignidade da pessoa humana.

“Diariamente ocorrem de 10 a 15 intervenções em unidades penais do Paraná. O objetivo é garantir a segurança de funcionários e custodiados quando da movimentação de grande número de pessoas privadas de liberdade”, diz a nota.

Sobre a retirada de pertences dos presos, a assessoria alega que só estão “sendo descartados itens que não são indicados para uso e/ou não permitido.” “Além disso, há a padronização de roupas de cama e uniformes, retirando aqueles que não se enquadram nas normas vigentes ou não estão próprios para uso.”

A nota também informa que existem 1.754 pessoas privadas de libertada na PCE de Piraquara, “todas com acesso a cobertores e roupas adequadas para enfrentar as condições climáticas”.

O órgão diz que a Corregedoria da Polícia Penal “conduz uma investigação minuciosa para esclarecer os fatos” relacionados às denúncias já apresentadas contra o atual diretor da unidade.

Sobre o que ocorreu com o filho da dona Maria Zélia, a assessoria diz que está buscando as informações.

Clique aqui e leia a íntegra da nota

Sobre o filho da dona Maria Zélia, a Polícia Penal do Paraná (PPPR) enviou nota à reportagem, segundo a qual, no dia 18 de julho, ele solicitou atendimento na enfermaria da penitenciária, por volta das 11h30, relatando que havia caído da cama. E que, durante o atendimento, foi constatado que o rapaz possivelmente havia deslocado o ombro.

Enquanto aguardava ser encaminhado a um pronto-atendimento, de acordo com a assessoria, ele apresentou convulsões, vômitos e dificuldade para respirar. “A equipe da unidade prisional realizou técnicas de primeiros socorros até que ele recuperasse a estabilidade. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e transportou o apenado ao Hospital Universitário Cajuru, sob acompanhamento do Setor de Escolta Prisional”, diz a nota.

A assessoria diz ainda que a penitenciária tentou fazer “contato telefônico”, com a família do detento, “porém sem sucesso”.

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