Fundação Copel, maior fundo de previdência do sul do país, tem novos conselheiros

Entrevista exclusiva fala dos desafios da Instituição após privatização de sua principal Patrocinadora

O que você faria com um fundo de R$ 16 bilhões? Este é o caixa da Fundação Copel, que administra o pagamento de benefícios complementares à aposentadoria dos empregados da companhia de energia. Apenas como comparação, o valor de mercado da Copel em 2023 foi de R$ 29,8 bilhões e o lucro líquido de R$ 2,25 bilhões. Ou seja, a Fundação vale mais da metade de uma de suas mantenedoras.

Ela foi criada em 1971 e oferece cobertura médica, hospitalar, odontológica e farmacêutica. Estamos falando de uma carteira com 20 mil participantes. Pois bem, a Fundação acabou de eleger dois novos conselheiros, o engenheiro eletrônico Ulisses Kaniak e o economista sênior aposentado Américo Antonio Gaion. Ambos terão que tomar decisões pelos próximos quatro anos relativas ao maior fundo previdenciário do sul do país em meio a muitos desafios.

Para Gaion, seu maior desafio será “zelar pelos interesses das mais de 40 mil vidas (participantes ativos, dependentes e assistidos), protegendo a entidade de interferências políticas e adotando ações que garantam a perenidade da Fundação Copel”.

A Copel tem papel central na Fundação. Segundo ela, “proporcionamos uma série de benefícios aos nossos colaboradores. O mais significativo é o patrocínio à Fundação Copel de Previdência e Assistência Social (“Fundação Copel”) que complementa os benefícios de aposentadoria e saúde do governo brasileiro disponíveis para nossos funcionários”. Estamos falando, por exemplo, de um patrocínio vitalício do Plano Assistencial para os aposentados, pensionistas e dependentes legais.

Por outro lado, com a Copel transformada em Corporação, a fonte de receitas pode ter alterações. Ainda mais com a saída de 1.438 empregados no PDV. “Em relação a perda de financiamento por conta da saída de funcionários no PDV realmente é um fator negativo para o Plano mas que pouco podemos fazer em relação ao assunto por se tratar de uma política da patrocinadora (Copel). O que podemos fazer é desenvolver outros produtos na área previdenciária como por exemplo o Plano Família. Assim, bem trabalhado esse produto podemos aumentar o patrimônio e o número de participantes”, direciona o conselheiro eleito Américo Gaion.

Ulisses Kaniak, eleito conselheiro da Fundação. Foto: Arquivo pessoal

Independente disso, a Fundação Copel é uma “jóia financeira” cujo Conselho Deliberativo é formado por seis representantes. No entanto, três deles encerram o mandato em 31 de outubro de 2024 e apenas dois assumem a cadeira na mesma data. A redução pode promover um um desequilíbrio na paridade. É disso que o Plural.jor trata agora nesta entrevista exclusiva com o engenheiro eletrônico Ulisses Kaniak, um dos eleitos nesta eleição. Ele entrou na companhia em março de 1994 e trinta anos depois saiu da Copel no Programa de Desligamento Voluntário. Agora tem a função de discutir o futuro da previdência de 20 mil carteiras, sendo que já assumiu essa tarefa entre os anos de 2004 a 2012. Para ele, “pode se criar um desequilíbrio que tende a provocar uma situação injusta. Haja vista que os aportes de recursos hoje são majoritariamente dos Participantes”.

Você já foi conselheiro em 2004 e por oito anos. Neste retorno, existe alguma expectativa positiva ou negativa?

Sim, foram dois mandatos anteriores no Conselho Deliberativo e também um no Conselho Fiscal, de 2015 a 2019. Minha expectativa é a de um desafio maior que os anteriores. A regulamentação e a fiscalização dos setores em que a Fundação Copel atua (Previdência Complementar e Saúde) evolui de forma rápida e constante e é preciso estar sempre atualizado. Um aspecto novo, que vai impor dificuldades, é o fim da paridade entre conselheiros eleitos e indicados. Até a gestão que se encerra eram três de cada parte. A partir da posse minha e do Américo Gaion, seremos dois em meio a quatro indicados pelas Patrocinadoras.

A Fundação diminuiu o equilíbrio na quantidade de conselheiros? Quais são os possíveis efeitos disso?

Isto foi um reflexo direto da privatização da principal Patrocinadora (Copel). Existem duas Leis Complementares que regem os Fundos de Pensão. A LC 109, genérica, e a LC 108, com particularidades em relação a entidades patrocinadas por empresas públicas.

Uma das principais conquistas da LC 108, no que diz respeito aos direitos dos Participantes, era a garantia de paridade nos Conselhos.

Já a 109 não dá essa garantia, mas também não determina que haja ausência de equilíbrio. Contudo, após a privatização da Copel, a empresa, por meio de seus representantes indicados na Diretoria e Conselho da Fundação, apressou-se em alterar o Estatuto, sem promover um debate aprofundado com os Participantes e suas entidades de representação (Sindicatos e Associações). Desta forma, cria-se um desequilíbrio que tende a provocar uma situação injusta. Haja vista que os aportes de recursos hoje são majoritariamente dos Participantes [1] (nos planos patrocinados são paritários, mas há um plano instituído sem patrocínio), porém, a tomada de decisões será com peso maior dos interesses das Patrocinadoras.

No período em que vai estar no conselho, quais serão as suas prioridades?

A busca constante de aprimoramento de comunicação concisa e transparente para os Participantes; a gestão segura do patrimônio do Fundo de Pensão, visando a perenidade dos benefícios; o atendimento menos burocrático e mais acolhedor na área de saúde.

O Previ (Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil) é o maior fundo de pensão do país com R$ 1,8 trilhão em caixa. Ele é seguido do Kinea Investimentos (R$ 689 bi), CAIXA Asset (R$ 671 bi) e Bradesco Asset Management 523 bi.

Como fazer a gestão dos recursos? Estamos falando de R$ 16 bilhões.

Atualmente existe todo um aparato para se fazer esta gestão. O Conselho Deliberativo atua no macro, definindo Políticas de Investimentos que são distintas para cada Plano administrado pelo Fundo de Pensão. A área interna de Investimentos identifica as possíveis aplicações financeiras que irão atender às expectativas de ganho para cada Plano. Já o Comitê de Investimentos analisa e se manifesta, outra área verifica a aderência às Políticas e por fim a Diretoria aprova.

O papel do Conselho, no momento de definir as Políticas de Investimentos, é fundamental para colocar limites no risco a se correr, buscando evitar “aventuras” e casuísmos.[2] 

A Fundação Copel é considerada a maior caixa de previdência do sul. Você defende ela usando recursos para investir na Bolsa de Valores?

Sim, parte dos recursos, historicamente, é investida em renda variável. Mas deve ser sempre pensada visando o longo prazo, em setores fortes da economia, com o máximo conservadorismo possível. Além disso, como envolve riscos maiores, deve ocupar um percentual limitado da carteira de investimentos global.

A Fundação Copel é o maior fundo de pensão do sul do Brasil, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (ABRAPP).

É bom destacar que parte dos compradores das ações da Copel agora e em outros momentos era de fundos previdenciários norte-americanos. Como avalia essa situação?

Mundialmente, é normal que os Fundos Previdenciários invistam em infraestrutura, em setores de concessão pública ou iniciativa privada. Em cenários de juros baixos das aplicações financeiras em seus países, é uma possibilidade de bons investimentos para atender ao rendimento esperado por seus beneficiários.  

Um dos maiores temores dos empregados da Copel era a perda do financiamento da Fundação. Como lidar com isso no presente?

É preciso bastante atenção aos movimentos que virão a ser feitos ao longo do tempo. Observando o que aconteceu a médio prazo em Fundos de outras empresas privatizadas, sabemos que é uma ameaça que estará presente. Seja como for, uma eventual retirada de patrocínio não representaria o fim da Fundação Copel, pois ela segue abrigando um plano instituído (chamado de Plano Família) que não depende de aportes de Patrocinadoras[3] . Mas fatalmente diminuiria o volume de recursos e, com menos recursos a aplicar, também se perde oportunidades de ganhos maiores em aplicações financeiras.

A Fundação está chegando a uma carteira de 20 mil clientes. No entanto, a Copel agora tem cerca de 4,5 mil empregados. Essa caixa de previdência ainda é dos copelianos?

Considero que sim, pois a grande maioria dos beneficiários (aposentados e pensionistas) teve origem na Copel. Dos recursos que ela manuseia hoje, a maior parte (com folga) veio da relação de trabalho entre copelianos e Copel. E continuará assim, certamente, por muitos anos. Cabe a nós zelar pela manutenção deste patrimônio gerado por dezenas de milhares de carreiras de trabalhadores.

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