Fundadores de empresa que opera loteria do Paraná têm prisão decretada

PayBrokers venceu licitação suspeita após sócios doarem para a campanha de Ratinho Júnior. Operação mira exploração de jogos ilegais e lavagem de dinheiro

A PayBrokers, empresa responsável pelo gerenciamento da plataforma da Lottopar, é um dos alvos da operação Integration, investigação sobre jogos ilegais e lavagem de dinheiro iniciada há três anos pela Polícia Civil de Pernambuco. Dois sócios fundadores da empresa tiveram a prisão decretada pela Justiça: Thiago Pressner, ex-sócio, foi preso na quarta-feira (4), em Cascavel; já Edson Antônio Lenzi Filho, CEO da PayBrokers, não foi encontrado. Entre os 18 presos está a influencer Deolane Bezerra, que tem mais de 20 milhões de seguidores nas redes sociais.

A Polícia Civil de Pernambuco não deu detalhes sobre a operação, que investiga a oferta on-line de jogos azar ilegais e lavagem de dinheiro. As buscas e prisões foram feitas nos estados de Pernambuco, Paraná, São Paulo, Paraíba e Goiás, com 19 mandados de prisão e 24 de busca e apreensão. Mais de R$ 2 bilhões em bens foram bloqueados e entre os bens apreendidos está um avião que pertence ao cantor sertanejo Gusttavo Lima. A operação teve apoio do Ministério da Justiça e da Polícia Civil dos outros quatro estados.

Licitação suspeita

Com duração de 20 anos, o contrato do consórcio formado pela PayBrokers, que tem sede em Curitiba, e pela empresa indiana Skilrock Technologies com o governo do Paraná tem uma previsão de R$ 167 milhões, com base na estimativa da receita. O consórcio venceu a licitação aberta em fevereiro de 2023 e passou a gerenciar o sistema da Lottopar, como passou a chamar a loteria do Paraná. 

A suspeita é que a licitação aberta pelo governo de Ratinho Júnior foi direcionada para a empresa – a única que participou da concorrência. Em março do ano passado, um relatório da 4ª Inspetoria de Controle Externos do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR) apontou erros de “natureza grave” no edital de licitação, que indicavam um possível direcionamento. 

Os fiscais do TCE identificaram nove pontos críticos, entre eles a restrição à competitividade em função de exigências técnicas, a ausência de custos unitários e a vigência de 20 anos do contrato, considerada irregular. Além disso, o edital exigia ao menos um ano de atuação no ramo – o entendimento do Superior Tribunal Federal (STF) que possibilitou a criação de loterias pelos estados foi adotado em setembro 2020. 

A PayBrokers foi fundada em fevereiro de 2021, mesmo mês em que o governo do Paraná criou um grupo de trabalho para estudar a criação de uma loteria do estado. Um dos sócios da empresa, Henrique de Oliveira Moreira, tinha um cargo em comissão Secretaria de Estado de Administração e Previdência (Seap) na época e foi exonerado do governo em novembro. No dia 8 de dezembro, a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) aprovou a lei que criava a Loteria do Paraná (Lotepar). O projeto de lei apresentado pelo Executivo tramitou em regime de urgência.

Empresa que ganhou licitação da loteria do Paraná está na mira da CPI do Futebol

Na época, o governo do Paraná negou que Moreira tenha participado da elaboração da lei ou do edital de licitação. O governo negou qualquer irregularidade na licitação e o governador Ratinho Júnior assegurou que o edital fez uma série de exigências para evitar o risco de “aventureiros” controlarem a loteria. O TCE chegou a suspender a licitação, mas foi liberada após o governo apresentar explicações ao Tribunal.

Doações para Ratinho Júnior

Na eleição de 2022, pessoas ligadas à PayBrokers e à família Lenzi doaram R$ 400 mil para o PSD, partido do governador e então candidato à reeleição Ratinho Júnior. Edson Antônio Lenzi Filho doou R$ 110 mil; o irmão dele, Edgar Lenzi, fez três doações, no valor total de R$ 185 mil; e Danielle Fernanda Sanson Lenzi repassou R$ 90 mil. Os três são sócios em um escritório de advocacia em Curitiba. Henrique de Oliveira Moreira, o sócio da empresa que tinha cargo comissionado no governo, fez uma doação no valor de R$ 15 mil. Segundo o site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PSD nacional repassou um total de R$ 7,6 milhões para a campanha de Ratinho Júnior naquele ano.

Posicionamento da PayBrokers

Em nota, a PayBrokers informou que entregou o que foi solicitado pelas autoridades, que Edson Lenzi está fora do país e que Thiago Pressner não é mais sócio da empresa. Leia abaixo a nota enviada pela assessoria da empresa.

“A PayBrokers está colaborando com as autoridades em relação às investigações na operação Integration, direcionada a empresas de igaming. A PayBrokers colaborou com o cumprimento de mandados e já disponibilizou espontaneamente todos os documentos e informações solicitadas dos clientes que são alvos da operação, permanecendo à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos necessários.
A operação também teve como alvos outros meios de pagamentos que atuam no segmento de igaming.
A PayBrokers esclarece que seu sócio, Edson Lenzi, não está preso e está em viagem profissional no exterior há vários dias. Informa ainda que Thiago Presser não figura mais como sócio do grupo.
A PayBrokers ressalta que atua como eFX e Instituição de Pagamento (IP) autorizada pelo Banco Central. Opera 100% em conformidade com as melhores práticas do mercado, com soluções para centenas de clientes, sempre prezando pela segurança e integridade.”

Lottopar solicita esclarecimentos

Por meio de sua assessoria, a Lottopar informou que cobrou esclarecimentos da PayBrokers. “A Lottopar já solicitou esclarecimentos formais para a PayBrokers e aguarda o avanço das investigações. A empresa foi selecionada em uma licitação pública, com ampla transparência. A Polícia Civil do Paraná colaborou com a operação”, diz a nota da Lottopar. O Plural fica aberto a eventuais manifestações das defesas de Edson Antônio Lenzi Filho e Thiago Heitor Presser.

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