Vice por oito anos, Graciela Bolzon agora é candidata a reitora

Formada em Engenharia Florestal, Graciela Bolzon integrou a atual gestão, mas decidiu lançar sua candidatura. Trovon, seu vice, é professor de Departamento de Matemática

Confira abaixo os principais trechos da entrevista com os integrantes da chapa 1, “UFPR Conexões Para o Futuro”, que tem Graciela Bolzon Muniz como candidata a reitora e Alexandre Trovon como candidato a vice-reitor. Graciela Bolzon integra a atual gestão, mas não é apoiada pelo reitor Ricardo Marcelo Fonseca.

Graciela Bolzon Muniz nasceu em Santiago Del Estero, na Argentina, e tem 70 anos. Formada em Engenharia Florestal, foi professora por 15 anos na Universidad Nacional de Santiago del Estero (UNSE). Sua relação com a UFPR começou em 1980, a partir de um convênio entre UFPR, UNSE e Universidade de Freiburg, na Alemanha. Mestre e doutora pela UFPR, fez concurso em 1994 para professora do Departamento de Engenharia e Tecnologia Florestal. Atualmente é vice-reitora.

Alexandre Trovon nasceu em São José do Rio Preto (SP) e tem 55 anos. Formado em Matemática pela Unicamp. É mestre e doutor pela Unicamp e ingressou na UFPR em 1994, no Departamento de Matemática. Assumiu cargos administrativos e atualmente é diretor do Setor de Ciências Exatas, que congrega seis Departamentos: Matemática, Física, Química, Expressão Gráfica, Informática e Estatística. 

Plural – Qual o balanço da gestão do reitor Ricardo Marcelo Fonseca?

Graciela Bolzon – Como toda gestão teve seus desafios, que foram superados. Passamos pela pandemia, que foi um grande desafio. Trabalhamos bem nesse momento, com os ministérios, o Ministério do Trabalho e a Funpar, toda a sociedade se envolveu. Trabalhamos bastante atendendo as pessoas, esse foi o lado positivo. Mas o lado negativo foi a falta de diálogo e de conexões, tanto externas como internas. Houve uma comunicação administrativa e não uma comunicação institucional.

Plural – A senhora é vice-reitora, por que a gestão não permaneceu unida para esta eleição?

Graciela Bolzon – Passei oito anos como coordenadora de Pesquisa e atualmente sou vice-reitora. Todo mundo se pergunta por que, eu sendo vice-reitora, não sou a candidata do atual reitor. Na primeira gestão eu fui muito ativa, na segunda começou a diminuir isso. Eu não renunciei, me mantive firme por uma questão institucional, porque quando acontece isso quebra um pouco a imagem da instituição. Sempre estive presente em todos os eventos, porque sou eu quem faz as conexões com a prefeitura, com o governo do estado e com o governo federal. Depois do evento da SBPC (Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em julho do ano passado, em Curitiba), vi um movimento que queria ser uma candidatura única, com um plano de poder. Para mim não tem que ter plano de poder, mas plano de gestão, mais transparente, com planejamento. Em dezembro, todo mundo se deu conta que os candidatos estavam definidos. Depois recebi muitos qualificativos, que não vêm ao caso, ouvi até que eu deveria ir cuidar dos meus netos. Eu sou uma mulher forte e gosto de desafios. Não permito que ninguém tome uma decisão por mim. Por isso, com apoio da comunidade e pela minha trajetória, eu saí como candidata.

Alexandre Trovon – Não é uma questão pessoal, é uma questão de gestão. A gestão caminhou de maneira positiva em muitos pontos, foram criadas unidades como a Superintendência de Parcerias e Inovação (SPIn), que foi algo positivo para a universidade. Várias iniciativas foram importantes, mas em um certo momento a gestão optou por um caminho distinto daquele que a gente acreditava para construção, transparência e planejamento. Nesse momento a gente percebeu que realmente não dava para caminharmos juntos. O nosso plano e o nosso projeto de universidade eram diferentes. A partir daí, a gente pode dizer nos tornamos um grupo dissidente. Não por uma questão pessoal, mas por ideias que não mais convergiam.

Plural – A senhora falou em falta de diálogo e o material de campanha da chapa fala em acolhimento. A gestão atual falhou neste ponto?

Graciela Bolzon – A comunicação não chega a todo mundo, onde a gente vai dizem que se acham distantes. Foi criada a Superintendência de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade, mas falta continuar, porque hoje a sociedade está precisando muito mais desse acolhimento. A situação é diferente hoje, a entrada de alunos também é diferente, temos problemas não só com alunos, mas com técnico-administrativos e com professores. E também existe um problema da evasão. A inscrição de alunos nos cursos é menor, um pouco por falta de conhecimento de que a universidade é gratuita, que é de qualidade. Temos que aprender a ter uma comunicação diferente, transformar essa informação em conhecimento.

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Plural – A gestão atual parece ter priorizado a inclusão. Qual a avaliação de vocês?

Alexandre Trovon – Tivemos um investimento em inclusão, em uma direção, mas temos outras direções que ficaram carentes. A universidade hoje tem dificuldade em atender as pessoas com deficiência que chegam, até por conta dos programas governamentais, que começaram a tornar essa possibilidade maior. Temos dificuldade para atender por exemplo os autistas, como acolher o autista. E em relação à acessibilidade também. Questões muito práticas, de sala de aula, acabaram deixadas de lado e são priorizadas ações em uma direção. Atende uma parcela específica, mas existe e outra. As críticas vêm nesse sentido: atendeu um pedaço, e o outro? Nós precisamos atender todo o restante.

Graciela Bolzon e Alexandre Trovon. Foto: Tami Taketani/Plural

Plural – A senhora citou a evasão, dados da UFPR mostram que a média, entre 2010 e 2019, foi de 2,7 mil alunos por ano na graduação. Como tratar esse problema?

Graciela Bolzon – Isso precisa de ações com as escolas municipais e estaduais para mostrar que a universidade é gratuita. Tem que ter um planejamento para reformular os nossos currículos, que são soluções de 1990 sobre currículos, outras de 1997. A universidade tem que reformular e se tornar mais atrativa. Tem que ser uma política em nível nacional, que mostre para onde queremos ir, que tipo de profissional queremos formar. Temos que nos preocupar com a entrada e com a formação, saber que tipo de profissional a sociedade precisa.

Alexandre Trovon – É um fenômeno complexo, que depende também do mercado externo, porque de certa maneira o mercado dá o tom do interesse dos estudantes. A gente sempre pensa em trabalhar a evasão internamente, mas percebemos que em alguns cursos não conseguimos completar as vagas de ingresso. Então a gente tem uma evasão implantada de início. Por outro lado, quando vamos conversar nas escolas, os estudantes perguntam quanto é a mensalidade da UFPR. De um lado tem uma escola pública afastada e na universidade temos cursos que não são preenchidos. A única forma de atingirmos isso é com informação, que precisa chegar até a escola. Para isso, precisamos ter um grupo itinerante da universidade, que apresente o que é a instituição e mostre para os estudantes que eles têm condições de vir. Precisamos pensar nesses dois aspectos.

Plural – A comunicação da universidade deixa a desejar?

Alexandre Trovon – Sim. A universidade, por um longo período histórico, fez a sua comunicação de dentro para fora, não foi para fora buscar as pessoas e principalmente os estudantes mais carentes. Eles criam uma expectativa da universidade como algo muito distante. Precisamos fazer de um jeito diferente. A gente sempre fez a Feira de Cursos e Profissões, um momento de abrir a universidade para as pessoas, mas tem gente que não vem. Precisamos buscar essas pessoas. É uma questão de comunicação mesmo.

Graciela Bolzon – Temos muitas coisas para mostrar, como museus, as melhores coleções do mundo de insetos, de fungos e de rochas, bibliotecas. Temos a mini-Itaipu, o laboratório onde foi projetada a Itaipu. Tudo isso a sociedade não conhece. Temos que abrir as portas. As pessoas não sabem encontrar isso nas nossas páginas, elas têm que ser mais fáceis, mais comunicativas, mostrar o que a gente tem. A sociedade precisa saber desse potencial. A popularização da ciência é quando se abre isso para a comunidade.  

Plural – Um dos temas dessa campanha tem sido o excesso de burocracia e a necessidade de adequação de sistemas na universidade. Como vocês pretendem trabalhar esse aspecto?

Graciela Bolzon – As mudanças são constantes, às vezes está se organizando um sistema, quando chega ao final vem outro. Tem que se adaptar. As pessoas acham que a gente está criando regras, quando as regras vêm diretamente. Temos sistemas que foram desenvolvidos na instituição, mas eles viraram uma colcha de retalhos. Para funcionar melhor, tem que ser reestruturado. Não adianta ter inteligência artificial se não tem uma inteligência humana e não tem quem escute o usuário. Quando você apresenta um software de fora para dentro, logicamente que não vai resolver os problemas, porque eles não foram explicados e não foram identificados quais os indicadores que a gente quer obter.

Alexandre Trovon – Muitas das nossas resoluções internas são da década de 1990, eram pensadas em uma época em que não havia sistemas de informação. Elas carregam um peso burocrático natural, porque não estão estruturadas para isso. Não adianta criar um sistema de informação para gerir uma coisa antiga, que não conversa direito. Precisamos pensar em um sistema de simplificação de procedimentos constante e efetivo, que faça a modernização dessas novas resoluções internas levando em conta o arcabouço computacional que temos agora. A partir disso, faremos um desenho de um sistema que preserve algumas coisas, que esteja de acordo com o usuário final. Ele tem que ser ágil e não sobrepor sistemas do governo federal. Tem que nos dar informações para que possamos tomar decisões. Esses aspectos têm que ser fundamentais nesses sistemas, eles que vão permitir simplificar a rota de um processo que está tramitando. 

Graciela Bolzon – Temos que criar grupos internos de apoio, principalmente para os pesquisadores que querem fazer projetos, para estudantes terem informações constantes e para o georreferenciamento. A universidade é multicampi, traz grandes problemas administrativos. Temos pessoas próprias com condições de fazer isso. 

Alexandre Trovon – Temos um sistema que é nosso, o Sistema de Gerenciamento Acadêmico, que cresceu e englobou uma série de outros aspectos. Mas é um sistema que foi desenhado sobre uma infraestrutura muito antiga, precisa ser redesenhado. Ele é somente para gestão interna, não sobrepõe o sistema do governo federal, e por essa característica de ser interna ele pode ser desenvolvido 100% dentro da instituição. A professora Graciela sempre comenta sobre o celular, com a tecnologia que temos hoje é possível construirmos um módulo de acesso a esse sistema. Já tem um protótipo que está funcionado, para que o estudante tenha o georreferenciamento, até para ir a uma sala de aula. Queremos que esse sistema evolua, ter uma universidade inteligente para todos os estudantes e para que tenhamos todas as informações institucionais em uma única base de dados.

Graciela Bolzon. Foto: Tami Taketani/Plural

Plural – A universidade enfrentou cortes no orçamento nos últimos anos e ainda está longe o ideal. Além disso, a maior parte é destinada à folha de pagamentos. Como trabalhar nesse cenário?

Graciela Bolzon – O orçamento da universidade é um dos maiores do estado e 96% é para a folha de pagamento de ativos e inativos. Temos uma matriz orçamentária que precisa de planejamento para arrecadar, através dos projetos de pesquisa, tanto em parcerias quanto do Fundo de Desenvolvimento Acadêmico, que vem de todos os cursos de especialização. Propomos um fundo para extensão, um fundo especifico para pesquisa, um fundo específico para graduação, que precisa reformar todos os seus laboratórios, e um fundo para inovação e empreendedorismo. Temos que buscar as parcerias público-privadas.

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Alexandre Trovon – Para além disso, uma das divergências que temos com a atual gestão é a forma de gerir o orçamento. A gente não pode contornar e os dados são públicos. Por exemplo, é uma gestão que devolve dinheiro para obras. Temos um corte orçamentário e precisamos de uma gestão com planejamento, que não devolva dinheiro. Quando eu devolvo dinheiro de obras, é um indicador grave de que falta planejamento. Não é a maneira como nós queremos gerir esses recursos. 

Graciela Bolzon – Tem as emendas parlamentares, por isso se criou a SPIn, que tem um grupo para parcerias e outro para procurar emendas parlamentares. A gente trabalha com tecnologia e é mais complicado, porque precisamos ter manutenção preventiva e corretiva de equipamentos. 

Alexandre Trovon – Outro ponto de divergência com a atual gestão é que muitas vezes há um esforço muito grande para conseguir as emendas parlamentares e quando elas entram, por uma série de questões de planejamento, elas acabam não atingindo o destino. Às vezes, por uma questão de planejamento que não é adequado, essa emenda segue para um lugar não adequado. E a unidade que precisava contínua descoberta. 

Plural – As universidades federais foram alvo de uma ofensiva por parte do próprio governo federal no governo passado. É algo que ainda não passou. Como lidar com isso, qual a expectativa?

Graciela Bolzon – Temos que estar preparados para os desafios. E temos que ser inteligentes para enfrentar as crises. A universidade é um ambiente de crises internas e crises externas. Está faltando as pessoas entenderem tudo que se produz para a comunidade. Temos que popularizar a ciência, mostrar para as pessoas. Temos que abrir a universidade para que as pessoas circulem e conheçam. A extensão é que faz a transversalidade, a sociedade precisa conhecer as soluções e entender que grandes projetos, como a Itaipu, foram feitos dentro da universidade. 

Alexandre Trovon – A gente teve alguns efeitos colaterais desses momentos pelos quais passamos. Um deles foi a diminuição dos ambientes democráticos de discussão e debate. Quando você diminui esses ambientes, as decisões acabam sendo tomadas de maneira monocrática, às vezes sem amparo da comunidade. Isso acaba refletindo de forma negativa, não só internamente na universidade, mas também externamente. Se você não leva o conhecimento para as pessoas, elas criam um imaginário. O contra-ataque é sempre com informação e transparência. Essa transparência passa por uma transparência interna, para que toda a comunidade entenda.

Graciela Bolzon e Alexandre Trovon. Foto: Tami Taketani/Plural

Graciela Bolzon – Temos que criar espaços mais colaborativos e participativos, através de artes e música, criar oficinas de ideias. Tem o parque tecnológico criado junto com a Federação das Indústrias do Paraná, precisamos de ambientes criativos, que façam conexões entre os estudantes de diferentes áreas do conhecimento. Um canal de comunicação com a juventude para desmistificar o que se faz na universidade.

Plural – Fora da vida acadêmica, do trabalho: o que vocês gostam de fazer nas horas vagas

Graciela Bolzon – Gosto de ler, gosto de me aperfeiçoar e de fazer diferentes tipos de cursos. E sair com meus netinhos, tenho dois de 7 anos e uma de 2. No tempo livre eu me dedico a isso, a cultivar as amizades e ajudar pessoas que precisam.

Alexandre Trovon – Tenho uma convergência com as artes na minha vida, que foi bastante forte por algum período, e minha arte é a musica. Participei do cenário de ópera e outras grandes produções. Esse é um lado que eu tenho que é muito forte fora da universidade, como cantor de ópera. 

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