Moradora do Boqueirão se sente acuada com protestos antidemocráticos em quartel

Barulhos, necessidade de mudanças de trajeto e preocupação com cor de roupa incomoda quem reside na região

Uma moradora do bairro Boqueirão relata os incômodos que vem passando devido aos protestos antidemocráticos em torno do Quartel do Boqueirão. Além dos barulhos à noite e de madrugada, ela teve que mudar seu caminho ao transitar nas ruas próximas aos protestos e evitar o uso de roupas em tons de vermelho.

Segundo A.B.M, que reside próxima ao Santuário Nossa Senhora do Carmo, os protestos antidemocráticos começaram logo após a divulgação do resultado do segundo turno das eleições presidenciais, na noite do dia 30 de outubro. E, desde então, ocorrem diariamente. Ficaram até tarde da noite e na segunda-feira seguinte, dia 31 de outubro, as manifestações ocorreram desde manhã até a madrugada. Houve muitos fogos de artifício, buzinaços e o trânsito ficou parado.

A moradora informa que até o feriado de finados, antes de liberarem as vias, era impossível circular de carro, pois os manifestantes “tomaram conta das ruas”. E que à noite ela e sua família tiveram dificuldades para dormir por causa dos barulhos dos fogos. “No Dia de Finados eles também ficaram o dia inteiro até tarde da noite. Eu fico imaginando quem mora mais perto, o quanto que não ficou incomodado”, diz.

Manifestantes em frente ao Quartel do Boqueirão. Foto: Silvana Bárbara

De acordo com A.B.M, após o feriado, durante o dia há pouca movimentação, mas no final da tarde vai aumentando o número de pessoas e o movimento vai se intensificando. Então se iniciam as buzinas e os fogos de artifício. “Desde o dia 30 não teve um único dia que não teve manifestação”, conta.

Para a moradora e outras pessoas que residem no bairro, há a impressão de que os manifestantes que ficam em torno do Quartel durante o dia estão guardando o local e que são pessoas “pagas” para estarem ali. De acordo com o que foi informado, as pessoas ficam nos locais em horário comercial, no qual deveriam estar trabalhando. Também é possível observar muitas pessoas idosas durante o dia. No mais, tem toda uma estrutura de comércio em volta, fato que o Plural pôde conferir no local. Há vendas de espetinhos, de churros, de bandeiras do Brasil e de camisas da seleção brasileira. Ou seja, há todo um comércio montado no entorno para manter os protestos. “O comércio está rolando em função do movimento”, afirma a moradora.

Incômodos

A.B.M expõe que, além do barulho que incomoda, ela teve que mudar o caminho para transitar nas ruas próximas aos protestos antidemocráticos. Segundo seu relato, ela tinha o hábito, em suas caminhadas, de passar em frente ao Quartel, principalmente no final da tarde. Porém, desde o dia 30 de outubro, ela evita caminhar pelo local. A moradora também informa que teve que alterar seu caminho de carro, pois passava pela região para ir ao comércio das proximidades.

Com relação às vestimentas, A.B.M faz um alerta de que agora se deve pensar muito na roupa que vai sair nas ruas para que uma pessoa não seja agredida. Para ela, o uso da cor vermelha e suas variantes é um grande risco, e que por isso evita sair de casa utilizando essas cores. “Final de semana estava um dia ensolarado e eu saí fazer caminhada pelo outro lado do Quartel. Aí eu ia colocar um boné por causa do sol, mas o único boné que eu tenho é de uma cor pink. Daí eu pensei: não vou colocar. Numa dessas é capaz de eu levar uma pedrada na cabeça de graça por causa da cor do boné”, desabafa.

A.B.M diz que nunca imaginou passar por essas situações ocorridas durante os últimos dias. Para ela é um grande incômodo ter que escolher uma cor de roupa que seja neutra para poder sair de casa, para que não fique exposta às pessoas que podem lhe agredir pelo fato de a relacionarem a determinados partidos ou grupos políticos.

Manifestações de intolerância

A moradora diz que não presenciou na região casos de violência física ou verbal, porém ouviu relatos de que uma estudante da Universidade Federal do Paraná foi xingada e agredida porque estava usando uma camiseta da instituição. Um dos relatos pode ser conferido em uma postagem de rede social da Associação dos Professores da UFPR (APUFPR).

Nessa situação relatada cabe destacar que as Universidades públicas são alvo de manifestantes pró-bolsonaro porque as consideram como um “antro de esquerdistas”. “É uma coisa que deixa a gente assustado”, diz a moradora, que completa revelando que ela e sua família não sofreram ameaças porque estão evitando.

A.B.M afirma que o Boqueirão é um bairro muito bolsonarista. É possível ver nas ruas muitas casas e carros com bandeiras. A moradora relata que no grupo de rede social de seu condomínio espalham fake news. “A gente está no meio deles, a gente tem que se defender e eu penso que a melhor maneira é não se expor”, afirma. Ela se assusta pelo alto grau de fanatismo, pois bolsonaristas extremistas não se abrem para um diálogo, uma troca de ideias. “Cada um tem a liberdade para escolher o seu representante e aceitar a opinião do outro. A gente pensa assim, que é o normal, mas eles não, eles são muito inflexíveis, não aceitam o que é diferente deles e aí assusta”, explana a moradora com indignação. Na tentativa de fazer uma reflexão, A.B.M se esforça para entender o que acontece com as pessoas que fazem ou apoiam os protestos antidemocráticos. Afirma ser um perfil muito marcante, pois a grande maioria age e fala da mesma forma, como se fosse uma massificação. A moradora espera que essas manifestações logo terminem para que as pessoas possam seguir suas vidas, pois o país tem muitos problemas. Por isso a necessidade de que tudo se resolva e que as pessoas percebam que tem que haver um projeto coletivo, pois o presidente eleito precisa de apoio para resolver os problemas do país.

Achando isso tudo um absurdo, desabafa: “Se cada um puxar para o seu lado, então como que vai ser? Eles falam nos protestos que são pela liberdade, mas e a minha liberdade?”

O Plural está acompanhando os protestos antidemocráticos e esteve novamente na região um dia após entrevistar a moradora. Na ocasião, começo do anoitecer, manifestantes pró-bolsonaro faziam buzinaço ao som do Hino da Independência do Brasil e xingamentos às pessoas que se manifestavam contra o movimento. Alguns produtos como bandeiras do Brasil e camisas da seleção brasileira estavam à venda.

Este texto faz parte do projeto Periferias Plurais, que convida seis jovens de Curitiba e região a falarem de sua vida e de suas comunidades.

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4 comentários em “Moradora do Boqueirão se sente acuada com protestos antidemocráticos em quartel”

  1. Lástima é essa perversão de gente que não aceita perder, ao invés de ficar marchando na frente dos quartéis deveriam participar de plenárias onde se debatem ideias e soluções para problemas da coletividade, ao invés de espalhar ódio e fake news deveriam ter vergonha, sentar a bunda e estudar, ler, fazer autocrítica sobre suas atitudes, vergonha nacional perante o mundo, querem só baderna e fazer parte de grupos pq são vazios demais para exercer papel protagonista de suas próprias vidas mesquinhas e desprovidas de amor, humor e paz, querem liberará seus ódios por suas intolerâncias a si mesmos

  2. José Valdecir Rampelotti Junior

    Eu moro há 50 anos por aqui, corro em torno do quartel com frequência mas acho que já passou do limite, o pessoal passou por uma lavagem cerebral do tipo que acontece nas igrejas, deveriam se organizar e tentar formar um novo modelo de política, pegar 1 pessoa de cada região do Boqueirão e destas pessoas tentar eleger um representante e daí sim lutar por seus direitos afinal no momento atual não temos nem vereador no boqueirão mas os manifestantes juram que são amigos pessoais do atual Presidente. O protesto organizado é legal mas dá maneira que está parece a mesma coisa que os protesto dos petistas só que em vez de pão com mortadela estão tomando cerveja e wisky , isto mesmo quem passa lá na frente pode ver.

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