Então estou eu e minha esposa de férias em Madri – coisa de burguês, R$ 5 mil acima dos realmente pobres do meu país, R$ 500 milhões abaixo dos realmente ricos – quando reparei, ao longo da calle Atocha, da Recoletos e da Grande Via, cartazes com os dizeres: “Nosso maior orgulho”. Pelas vielas, nas ruas residenciais, a bandeira colorida enfeitava as varandas; nos prédios públicos, competia com a brilhante bandeira espanhola e com a sisuda bandeira da União Europeia, com sua ciranda de estrelinhas douradas.
Madri realiza, de 28 de junho até 7 de julho, o festival da diversidade. E o que pude testemunhar é que a cidade abraça o evento com carinho e interesse. Não parece importar que o prefeito tenha flertado com a extrema direita e que essa gente reacionária seja em Madri tão estúpida quanto em todos os lugares. Os cidadãos – da banquinha de bilhetes de loteria da Plaza del Sol até a fachada do Reina Sofia – aceitam a balbúrdia alegre dos visitantes e dos moradores que saem às ruas para mostrar, com orgulho, que não há motivo para calar o que é um direito. O direito de ser livre e ser feliz.
Pergunto ao rapaz que vestia uma enorme roupa de urso – depois de deixar dois euros no pote à frente dele- o que ele achava daquele movimento e ele me olhou como quem não entendia a pergunta. Depois respondeu, como se fosse um dono de banco: “ É ótimo para os negócios “.
Madri espera receber um milhão de visitantes nesses dez dias. De fato, o respeito pela diversidade é uma festa para os olhos, ouvidos, beijos, abraços e bolsos.
Em tempo: vi muitos rapazes com brincos de ouro na orelha, aparentemente sem alergia. Só o preconceito dos beócios (não confundir com nióbio) parece fazer mal. O mal de não servir pra nada.