Artista israelense Adam Leef faz exposição inédita no Brasil

“Maré Mediterrânea” é exibida na SOMA Galeria e apresenta recorte fundamental do pintor.

Se existe um paralelo possível entre obra e artista, no caso do israelense Adam Leef, que se prepara para abrir sua primeira exposição no Brasil, talvez seja a potência da sutileza – a ponto de torná-la um ponto de tensão definitivo. Os 31 trabalhos reunidos na exposição “Maré Mediterrânea”, que estreia na SOMA Galeria, em Curitiba, no dia 03 de maio, formam um importante recorte das quase duas décadas de atuação artística de Adam Leef – em que as posições de estudante, artista e professor de arte vêm se alimentando.

Ao centro da mostra, que tem curadoria da curitibana residente em Israel Fernanda Tockus, está uma paisagem pouco conhecida para o público brasileiro e, ao mesmo tempo, universal: o mediterrâneo, com sua fisicalidade em permanente estado de transformação.

Na seleção de Fernanda, as paisagens de Leef ganham ainda mais vivacidade e dinamismo com registros de banhistas no Mediterrâneo. “É um mar distante e as personagens são anciãs, quase míticas”, analisa a curadora sobre a conexão universal que se estabelece com a obra. “Ao mesmo tempo, as banhistas estão acima dos limites de tempo e de espaço.”

Nesse contexto, as paisagens de Leef operam como uma “ambientação” para potencializar a leitura das personagens banhistas. O artista investiga as cores do céu, a força das ondas do mar e a luz que seduz o observador em telas que nos capturam tanto pela sutileza quanto pela força: “Sou apaixonado pelos momentos de um concerto em que a música suaviza e somos levados à beira da poltrona”, lembra Leef sobre a importância das nuances entre sutileza e força para intensificar a nossa sensibilidade e a nossa atenção. “Nesses instantes decisivos, você sente que algo está para acontecer.”


Adam Leef em seu ateliê. Foto: Yoav Arden.

Esse é o estado que o pintor israelense produz. Imersos em tons de um azul que pode parecer, a princípio, calmo e delicado, somos levados a um momento bastante escasso nos dias de hoje: um estado de atenção. O fazer atento, investigativo e estudioso, em contrapartida, é uma constante na criação de Leef. “As pinturas de paisagens te deixam atento”, explica, “porque já foram feitas exaustivamente.”


Ainda que a atenção esteja presente nessas investigações de cor, movimento e
composição, não se trata de controlar a maneira como o espectador reage à obra.
“A relação com arte é algo individual, e o público não deve se preocupar com
expectativas ou exigências”, explica ao ser perguntado sobre possíveis leituras de
seu trabalho. “Tudo o que é preciso fazer é escutar, com paciência, e ver se algo
acontece.” A pintura, nesta mostra, torna-se um instrumento fugidio, capaz de ecoar
uma sensação que nunca está totalmente ao nosso alcance. “Até mesmo a cor,
afinal, pode por si mesma transmitir tantas coisas…”, lembra. Um certo imaginário
dessa região do mundo, marcado pela aridez, pode inclusive se beneficiar do azul
dessa exposição.

O elefante na sala de estar

Com uma fala calma e pensada, em um português surpreendentemente avançado, Adam Leef logo trata da questão incontornável para qualquer artista israelense que esteja apresentando seu trabalho em outro país: a guerra. “Nós somos políticos na vida, no dia a dia. Não na arte”, concordam artista e curadora.

O conflito tem um impacto 24h por dia, todos os dias”, afirma Fernanda Tockus. Para ambos, não se pode deixar que tudo orbite em torno da guerra, que um trabalho artístico seja definido pelo conflito. “Esse momento se soma à minha vontade de levar essa exposição ao Brasil agora. Porque são obras vívidas, puras… um forte contraste com o que se espera do Mediterrâneo, da guerra ou de Israel hoje.”

Um museu ou galeria, de acordo com Leef, seria o oposto: o único lugar onde podemos de fato olhar e contemplar sem fazer nada. “São ambientes que te permitem simplesmente parar”, resume Adam Leef, em um instigante convite para os curitibanos.

Serviço
Exposição “Maré Mediterrânea”
Local: SOMA Galeria (R. Marechal José Bernardino Bormann, 730)
Em cartaz até 20 de maio.

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